Atrasada para o primeiro dia de aula

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Acordei atrasada em pleno primeiro dia de aula no Ensino Médio, e como se não bastasse isso, meu cabelo mais parece uma bucha e não penteia de jeito nenhum.

Fico lembrando de quando minha mãe penteava meus cabelos cuidadosamente, todas as manhãs, para que eu chegasse apresentável à aula na pré escola, a forma como era sempre doce comigo mesmo com as complicações do estado de saúde de minha irmã Ana Clara. Logo lembro que ela me abandonou quando minha irmã morreu, sem em momento algum lembrar que tinha uma filha.

Puxo a escova com força arrancando um nó e uma boa quantidade de cabelo. Meu pai surge no espelho com uma expressão preocupada(a qual tem estado todos os dias desde meu aniversário de quinze anos no final do ano passado).

— Não acho que existe necessidade de descontar suas frustrações no seu cabelo - diz ele com um sorriso porém o olhar ainda é preocupado.

— Não estou descontando nada, meu cabelo que está muito embolado e estou atrasada - digo olhando para ele pelo espelho.

— Se você diz então... - ele levanta as mãos em rendição - Fui. Te espero no carro - diz ele saindo

Meu pai é muito paciente, pelo menos comigo, não tenho o que reclamar dele. Ele se esforça ao máximo para me fazer sentir bem, e mesmo não tendo sucesso por mais que tente, admiro sua dedicação à mim. Queria poder ficar bem , até finjo mas ele sabe quando estou fingindo, e não adianta muita coisa.

Desisto de pentear o cabelo e faço um coque bagunçado, que nem parece ter sido feito às pressas. Pego minha bandana vermelha, que ganhei do meu pai em um encontro de motociclistas. Coloco a bandana no cabelo como um arco, pego minha mochila e vou para o carro.

No caminho para a escola, não converso com meu pai, mas observo a beleza transcendental e imponente de meu pai. Apesar de seu visual pescador desleixado ele é muito bonito, de suas características físicas não puxei quase nada, apenas seus olhos verde mar. Nem mesmo o cabelo se parece, o dele é negro liso desgrenhado e o meu é castanho ondulado, sua pele é mais clara que a minha mesmo com seu bronzeado impecável.

De repente me pego pensando em minha mãe, em como cada dia me pareço mais com ela, olhos finos de olhar enigmático, lábios perfeitamente desenhados, queixo fino, porte magro e bem delineado, pele parda bronzeada, herdei dela suas manias de ansiedade também. Logo penso no meu pai, ele vive sozinho apesar de poder conquistar qualquer mulher, só para cuidar de sua filha mimada que cresce sendo cada dia mais a imagem e semelhança da mulher que o abandonou.

Afasto o pensamento, assim que avisto o portão principal da escola fechado. Me despeço do meu pai com um aceno de cabeça e sigo para a secretária, para começar o ano com um grande discurso sobre a pontualidade.

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