Medo

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 Não, pensara , Não olhe para trás...

 Ela temia o que estava a fazer, mas não lhe restavam melhores escolhas pelo seu visar. Não havia outro ângulo, outro meio, lhe restava apenas aquilo, fugir. Para onde? Indagara a si mesma, mas não houvera resposta. Não mais suportava manter-se naquela casa, aquela cabana, cujo mesmo que já estivesse limpo, ou seco, em cada canto ainda enxergava sangue.

 Havia algo a rodear aquele lugar, ela precisava ir embora, de preferência por fora da floresta, mas com o pouco tempo que tivera para pensar, vira que não havia outra opção.

 Correndo em meio a mata, sentia o quebrar dos galhos abaixo de seus pés calçados, e também, o arranhar dos mesmos em partes de seus braços cujo a capa descobrira por diversas vezes, sua visão estava embaçada graças ao chorar intenso que tivera a minutos atrás daquele momento, mas pudia ver, sabia o caminho.

 Memórias relacionadas à aquela floresta atingiram sua mente em um baque surdo, invisível. Lembrara-se de quando sua mãe saía a noite, com aquela capa e cesta que estava a usar, e voltava, por vezes ferida, por vezes acompanhada apenas de novos arranhados. Houvera uma noite cuja ela não voltara, que ficara fora de casa e voltara apenas no anoitecer do outro dia, Alyssa lembrava-se muito bem de que quando a perguntara o por quê, a mesma se recusara a responder.

 Ela já a havia lhe imposto diversos avisos, não podia sair de casa a noite, não podia olhar pela janela a noite, muito menos abrir a porta.

 "Desculpe minha pequena, mas a floresta que nos cerca, a noite, se torna algo que você não deve ver... As criaturas que te desejam, não podem entrar aqui se durante a falta da luz, as portas e janelas estejam fechadas, as impede."

 Ela tremera ao lembrar da frase, não sabia o que eram as criaturas... Sua mãe podia estar errada, mas também podia estar certa. Talvez fossem apenas homens, pessoas que rodeasse aquele lugar, nunca houvera visto outro ser da mesma espécie que ela, se não sua mãe.

 Uma casa ao meio da floresta não era algo convidativo a alguém, a floresta em si não era, o que era de se explicar por que não conhecia outras crianças assim como ela.

 Estava deveras frio, correndo para junto de uma grande árvore solitária ao alto de um morro, recostara-se por ali, perdera por total o que restava de seu fôlego. Ofegante pusera a mão ao peito, e andara alguns mais centímetros, ficando de frente para a lua, a brisa do local removera seu capuz.

 Seus cabelos estavam soltos, compridos, voavam, torneados pela luz da lua.

 Puxando a beirada da capa, sentira o forte cheiro que a preenchia. Sangue. Estava manchada com sangue seco.

 Ela estava com medo, pois apesar de tudo, era uma criança aos seus oito anos de idade. Mesmo sendo forte, mesmo sabendo matar... Mesmo sendo quase impossível cruzar seu caminho com ela, e sair vivo.


AlyssaOnde histórias criam vida. Descubra agora