Rebeca
Eu sabia...
Já tinha estudado sobre o niilismo no ano anterior por conta da escola e sabia que o contexto daquela frase tinha a ver com o declínio da religião ao longo dos séculos. Especialmente com o fato de Nietzsche ter observado a realidade em que vivia e constatado que o próprio ser humano havia criado Deus. E, assim como o havia criado, também o "matara".
Ok, era até aceitável aquela frase estar na lousa considerando que se tratava de uma aula de filosofia e o niilismo era mesmo estudado nessa matéria, mas...
Algo me dizia que aquilo era uma estratégia do professor pra me atacar...
Ele largou o canetão sobre a mesa e se virou para a classe. Vire e mexe, ajeitava os óculos como se estivesse um pouco tenso, apesar do sorriso de sagacidade estampado nos lábios.
Eu estava com medo. Muito medo. Um medo tão grande que fazia todos os versículos bíblicos que eu conhecia passarem pela minha mente como num flashback.
Que Deus me desse forças!
— Alguém propõe alguma objeção? — perguntou apontando com a cabeça na direção da lousa. E é claro que a minha cara de abestada nem de longe passou despercebida da sua vista. Era aí que estava o problema... Ao invés de desviar os olhos dos meus, como qualquer pessoa normal e que se preze faria, ele começou a me encarar. Na verdade, seu sorriso se intensificou. E eu sabia exatamente o porquê... Eu era o motivo daquilo estar acontecendo... Era tudo por minha causa.
Meu Deus, que cara chato!
— Rebeca...? — chamou, mas continuei congelada como se fosse parte de uma fotografia.
Socoooooorro!
Então deu uma risadinha que não emitiu som.
— Que tal começarmos por você, já que acredita na existência de Deus? — sugeriu. — Diz pra turma... O que te faz acreditar nessa mitologia?
As poucas palavras nas quais eu tinha pensado estavam perdidas em algum lugar entre meu cérebro e boca àquela altura do campeonato.
"Para de show! Fala alguma coisa logo, criatura!" - Meu lado são quase criou um corpo próprio, saiu de mim e me deu uns tapas.
Fui abrindo a boca aos poucos conforme o professor fazia um gesto com a mão pra me incentivar a falar.
Respirei fundo. Acanhamento não iria ajudar em nada. Aquele professor queria se impor e me deixar desconcertada na frente da classe pra que assim minha crença fosse ridicularizada.
Ah, mas eu não iria deixar aquilo acontecer... Não ia mesmo!
— Bem... — comecei, já sentindo minhas bochechas esquentarem ao ver que TODOS estavam me olhando. — Eu acredito na existência de Deus porque há provas disso em vários lugares.
— Ótimo... Agora cite esses "lugares" e de que maneira podemos ter certeza de que são fontes confiáveis. — pediu pacientemente.
Dei um sorriso gostoso, mais aliviada. Não iria precisar pensar muito, considerando que nos últimos dias já tinha "estudado" aquela resposta sem querer.
Engoli uma boa dose de coragem e...
— O meio mais confiável é a Bíblia Sagrada, que tem vários registros históricos já comprovados pela arqueologia e diversos autores de épocas e localizações diferentes.
— Bem... — já começou a me contrariar. — Registros de que alguns personagens, cidades e eventos foram reais é até um pouco óbvio, já que a mitologia é uma leitura fantasiosa feita a partir da realidade. — Escapou aquele risinho orgulhoso. — A questão é que até hoje nunca foi provado nenhum dos eventos sobrenaturais da Bíblia. Incluindo a existência do próprio Jesus, o tal "filho de Deus" nascido de uma "virgem". — desdenhou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Um Novo Coração [COMPLETO]
EspiritualE se você precisasse provar que Deus não existe? Ateu, curioso, esperto, racional e capaz de tentar convencer até um cego de que pode enxergar, Guilherme não quer nada além de curtir seu terceirão em paz. Porém, para o seu desconforto, a linda e "di...