Continuar ou começar outra partida?

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Fomos até seu carro, e ela colocou um CD do Pearl Jam, adivinhando meu gosto.

- Curte?

- Minha banda preferida. - respondi, sorrindo.

Fomos todo o caminho conversando, cantando e apreciando o som. Pelo visto ela não havia bebido, diferente de mim, mas pelo menos eu tenho um bom auto controle.

Chegamos em seu apartamento, ela disse que morava sozinha, mas pelo visto mentiu, pois ela tinha um gato e um gato é a melhor companhia que alguém pode ter, ela nunca estaria sozinha. E eu disse isso pra ela.

- Você tem um jeito diferente de ver as coisas, e isso é especial, é o toque mágico da sua essência. Muitos achariam loucura eu trazer uma desconhecida para a minha casa assim, até porque você percebeu que eu gosto de conhecer bem as pessoas antes de qualquer coisa, mas algo em você me atraiu de uma forma que não sei explicar, você é diferente de qualquer pessoa que já conheci, e olha que ainda não sei quase nada sobre você.

- Poucos sabem, talvez um dia você saiba. Mas uma coisa é certa, ninguém vê as coisas como eu vejo, e foi por isso que fugi. Me senti confortável com você, e são raras as pessoas com quem me sinto assim, na verdade, você é a primeira. É uma luta deixar meu anti-socialismo de lado, e com você, nem precisei lutar contra ele. - Eu disse, rindo um pouco, nunca fui de ser amável, mas o alcóol  estava agindo.

- Você deve estar exausta, vou pegar uma toalha para você tomar uma ducha, se importa em dividir a cama comigo? Vou preparar algo para comermos enquanto você estiver no chuveiro.

Disse que não me importava, e fui para o banho, seu apartamento era bem aconchegante e confortável, acho que um lar melhor que esse para um final de semana eu jamais conseguiria, muito menos fácil assim, eu realmente dei muita sorte.

Saí do banho, percebendo que tinha deixado minha mochila no seu quarto, teria que sair enrolada na toalha, e assim saí. Ela estava arrumando a cama quando cheguei.

- Ops, esqueci de levar minha mochila. - disse com a maior naturalidade.

Ela ficou um tanto quanto hipnotizada, com a mesma expressão do cara do banheiro, me olhando de cima a baixo.

- Pode ter certeza que você fica três mil vezes mais bonita assim, sem maquiagem, com o cabelo molhado, e sem roupa alguma. Estou encantada.

E então ela chegou mais perto e delicadamente encostou seus lábios nos meus, me segurando pela cintura como se eu fosse uma boneca de porcelana, com a maior delicadeza, e logo afastou seu rosto.

- Vou deixar você se vestir, te espero na cozinha para comermos antes de dormirmos.

Menos que um minuto depois eu já estava na cozinha, coloquei apenas uma calcinha e uma camiseta GG do Nirvana, minha preferida. Quando cheguei, ela sorriu.

- Você não consegue passar cinco minutos sem se tornar mais encantadora não?

Então comemos, prometi que quando acordássemos eu contaria um pouco mais sobre mim, e ela sobre ela, não agora pois estávamos com muito sono. Comemos e fomos nos deitar. Ela me abraçou e me beijou em baixo das cobertas, com mesma delicadeza de antes, e dormimos.

Acordei antes dela, não costumava dormir muito. Minha cabeça doía bastante, e meus pensamentos tumultuados não colaboravam com essa dor. Primeiramente, o que eu estava fazendo? Eu não gostava de me envolver com ninguém, e pelo visto ela já estava bem encantadinha, mas não sei porque, algo em mim não queria que eu a machucasse assim como fazia com todos. Calma Catarina, foi só uma noite e vocês nem fizeram nada demais, e você nem a conhece, vai saber se esse jeito não é apenas para conquistar as bobinhas, fazendo com que achem que ela é um anjo e se entreguem? Ai meu Deus, mas e se ela realmente tiver se apaixonado por mim a primeira vista? Ai, foda-se, porque eu estou me importando, eu tenho um lar para esse fim de semana, um chuveiro, comida e uma companhia, o resto tanto faz. Não, não tanto faz não. E depois desse final de semana, o que eu vou fazer? Calma, calma, eu estou com uma mulher, eu tô esquecendo de refletir sobre esse detalhe, será que eu gostei disso? Aí, não tô conseguindo raciocinar, preciso de ar e de um cigarro pra organizar meus pensamentos. Meu lado frio, meu lado misterioso, meu lado de não confiar em ninguém, meu lado impulsivo, meu lado calculista, meu lado curioso, todos eles despertados de uma só vez, e eu não estava conseguindo lidar, e será que eu tinha um lado lésbico também? E qual é a desse lado que despertou do nada pensando no que está se passando na cabeça dela? Ai, é muito pra minha cabeça. Preciso pensar no que fazer. Não, não vou pensar em nada, vou me mandar, talvez depois eu volte, não sei, quem sabe.

Peguei meu batom vermelho e escrevi em seu espelho ''Obrigada pela noite maravilhosa, e me desculpe por isso, minha cabeça está muito barulhenta hoje. Talvez eu volte, não esquece de mim, tá?'', peguei minha mochila e sai.

Essa era a graça do jogo do improviso, você não sabe onde vai parar, e quando acha um destino, você consequentemente não tem em mente como agir, e as vezes não tem como improvisar, você precisa parar pra refletir se quer continuar ali, ou se quer partir para outra partida de improviso. O improviso é bom apenas pra começar, depois é aconselhavel não agir muito por impulso, na verdade, o impulso depende muito do meu humor. E hoje eu queria parar pra pensar. Fumei um maço inteiro sozinha enquanto refletia, e não cheguei a conclusão nenhuma do que fazer de agora em diante. Eu estava sem um lar fixo, sem amigos, sem muito dinheiro pra sobreviver, e sem rumo. Só eu, minha mochila, e meus pensamentos.

Comprei uma garrafa de cachaça e não sei mais o que aconteceu. Sei que acordei de noite, não fazia ideia de que horas eram e muito menos de onde estava.

O Gosto Pelo EstragoOnde histórias criam vida. Descubra agora