Não diria que sou do tipo de pessoa que dispensa uma festa, principalmente quando é para dividir um momento tão especial de uma pessoa que eu gosto tanto como a Dani. Mas mesmo assim, desta vez está sendo difícil resistir a tentação de fazer uma pipoca e deitar na minha cama com um bom livro, encontrar a empolgação de saber que tenho uma festa para ir, estava impossível de achar, ainda mais sabendo que se trata de um chá de bebê. Não que eu não estivesse feliz pela minha amiga, na verdade, a notícia de sua primeira gravidez foi recebida com muita alegria, mas este já era o terceiro chá para o qual eu era chamada este ano e não passamos nem de abril. Não sei o que aconteceu, mas de repente boa parte das minhas amigas resolveu engravidar de uns meses para cá, parecia que tinham colocado alguma coisa na água e assim um bando de mulheres começou a aparecer "recheada".
Deus me livre, "desta água não beberei", não compartilho essa vontade de me tornar mãe, foi o tempo em que eu queria gerar uma criaturazinha dentro de mim, de me doar para alguém que é minha total responsabilidade, mas confesso que essa vontade passou, pra dizer a verdade, não só passou como se tornou algo totalmente inaceitável na minha vida.
Coisa que eu jamais poderia confessar para dona Agnes, minha mãe sonha em ter netos, mas se depender de mim, ela não realizará seu sonho. Quero casar? Sim, mas filhos não vão entrar nos planos e quando eu encontrar o meu príncipe do cavalo branco, ele será também um cara que não se importa se irá ou não gerar uma criança. O que não deve ser tão difícil de achar já que, salvo os raros, quase todos os homens que conheço só tomaram o gosto pela paternidade praticamente ao mesmo tempo que a criança nascia.
Eu tenho um irmão mais velho e ele mesmo não pensava em formar uma família até pouco tempo quando quase perdeu a mulher que ama e que agora divide o mesmo teto que ele. Um teto italiano, já que eles agora moram na Itália. Mas filhos? Bruno nunca me disse que tem a intenção de ter filhos e apesar dos nossos desentendimentos, nisso concordamos, apesar de ter em mente que o dia que minha cunhada disser que espera um baby ele ficará todo bobo e encantado. E eu, por ser titia! Meu problema não é a criança em si porque adoro bebês, mas, eu aqui e eles lá com as mães deles.
Já estava olhando para o guarda-roupa vestida com uma lingerie, enrolando para sair havia meia hora, com um suspiro resignado escolho o vestido preto básico que eu tanto gosto com mangas três quartos, gola alta e seu comprimento que termina apenas um pouco acima do meu joelho. Escolhi um par de saltos, uma leve maquiagem e "voilá". Não estava tão atrasada, mas a festa já tinha começado há algum tempo. Por sorte a Dani morava a apenas alguns quarteirões da minha casa e como não tinha condições de comprar meu próprio carro, usava o do meu pai quando precisava me deslocar para mais longe ou quando consigo um trabalho temporário nos bairros próximos.Hoje não era o caso.
Andei os três quarteirões com minha bolsa pendurada em um ombro e na outra mão o embrulho de presente com o pacote de fraldas e alguns produtos de higiene infantil para minha amiga, que sempre foi um amor para mim.
Ao me prostrar na frente de sua casa já podia ver um pouco da movimentação de sua sala, e parte da arrumação azul e rosa. Com o tempo frio constante o comum é, quanto às festas noturnas, que a comemoração seja feita dentro de casa com nossos belos aquecedores. Aquela noite não estava tão quente, ainda pedia uma roupa mais fechada, por isso não demorei o tempo que eu queria, procrastinando a minha chegada. Quando dei um passo em direção à casa ouço o barulho de uma música abafada, mas o som não vinha da festa, vinha de trás de mim. Me virei a tempo de ver o carro vermelho estacionando do outro lado da rua. Sabia exatamente quem era, ele era o único que passeava para todos os lados com aquele bendito BMW.
Fausto saiu do carro confirmando meu pensamento. Uma coisa que não podemos fugir por morar num lugar onde quase todo mundo se conhece é que em qualquer lugar que vamos podemos encontrar conhecidos, sejam eles agradáveis ou, como aquele ser que se aproxima com seu terno de grife, embrulho na mão e guardando o celular de última geração no bolso do paletó. Desagradável. Porém, além de melhor amigo do meu irmão, Fausto também é seu parceiro de negócios, mesmo que à distância, então a educação me fez sorrir quando ele se aproximou.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dama de Copas (Degustação)
RomanceJúlia Torres é uma leitora ávida, gosta de sair com os amigos e extrovertida e falante. Ela que pulava de emprego atrás de emprego nos últimos meses, recebeu a proposta para trabalhar temporariamente para uma amiga que iria sair de licença maternid...