Capítulo II - As dúvidas

24 2 0
                                    

Sentada na escuridão, ouvindo aquela chuva a cair, só me questionava o porquê. O porquê de a vida ser tão injusta, tão cruel. O porquê de termos de viver contra a nossa vontade. O porquê de nascermos, se um dia acabaríamos por morrer de qualquer forma.
Então, será que valia a pena viver tudo isto?Viver não, sobreviver, porque eu não chamo a isto vida. Será? Será que valia a pena despejar todas aquelas lágrimas noites e noites seguidas e nada ficar bem? Será que valia a pena não conseguir dormir com pensamentos que invadiam a mente, deixando-a repleta de agonia? Será que valia a pena permanecer com aquele sorriso tão hipócrita no rosto que enganava todos aqueles que me rodeiam? Será que valia a pena continuar a mentir ao dizer "estou bem, não se passa nada". ?
Após todas estas incertezas passarem na minh cabeça, surgia a questão mais essencial: Será que valia mesmo a pena viver ?
Estas perguntas não saíam da minha mente, por mais que eu tentasse excluí-las. Era horrível, um tormento. Para qualquer lado que fosse, quer estivesse sozinha quer estivesse acompanhada, elas vinham comigo, não largavam o meu pensamento.
E o problema é que não encontrava resposta, por muito que andasse à volta de todo aquele mistério, procurando argumentos e justificações, não encontrava resposta.
Aquilo estava a tornar-se demasiado doloroso, insuportável! Eu já não aguentava mais toda esta confusão na minha cabeça. Estava a entrar em desespero, não sabia o que fazer, as lágrimas insistiam em cair. Então, fechei os olhos e tentei dormir. Mas mais uma vez, uma tentativa mal sucedida. Liguei a música e comecei a desanuviar um pouco, fui respirando fundo até cair no sono. Até amanhã.
Acordei cedo, sete da manhã. Fui até ao espelho com a cara inchada de tanto choro. E foi aí que reparei que estava a ficar cada vez menos atrativa. O meu rosto estava a ficar coberto de borbulhas, para variar.
E estava visivelmente mais magra. Esqueci-me de mencionar que todo este enredo de dor e problemas me havia feito perder o apetite para tudo. A comida já não passava na garganta sequer. Fome eu até tinha, mas era incapaz de engolir o que quer que fosse, talvez pelo facto de estar entalada com um enorme conflito que não conseguia digerir.
Dias foram-se passando, e a minha dor aumentando. Cada vez mais emagrecia, cada vez mais a minha face se tornava pálida... Estava a adoecer.
A adoecer por amor. A adoecer por raiva. Adoecer por tristeza... A adoecer por tudo.
" O que se passa comigo, o que se passa ?! " berrava eu para comigo mesma. Já não tinha noção de nada, estava tudo tão estranho, como se o mundo tivesse parado, como se toda a gente se tivesse esquecido de mim. E foi aí, nesse preciso momento que eu dei conta que não era ninguém.

Lembro-me como doía.Onde histórias criam vida. Descubra agora