A terceira carta para Charlie

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"Se um dia você me deixar, amor
Deixe um pouco de morfina na minha porta
Porque eu precisaria de muitos medicamentos
Para perceber que não temos mais
O que tínhamos..."
— It Will Rain

✎✎✎

como você está?

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como você está?

Essa é a penúltima carta.

Parece que estamos chegando a nossa reta final...

Espero que as coisas estejam saindo como o planejado.

Anyway...

Você lembra de quando nós dois terminamos?

Eu fiquei tão devastada, não conseguia mais ver sentindo nas pequenas coisas do meu dia a dia.

Estava tão difícil respirar sem lembrar de ti, você não tem noção do quanto doeu..

Mas enfim...
Naquele meio tempo aconteceu uma coisa que eu nunca tive coragem de contar pra ninguém..

Só que agora eu gostaria que você soubesse..

06 de abril de 2017, esse foi o dia em que eu fui "abusada", vou colocar entre aspas porque ainda não consigo aceitar o que aconteceu.

Tudo começou quando decidi me dar a chance de sair mais com os poucos amigos que eu tinha e conhecer pessoas novas.

"Por que não ser mais social não é, Emma?", pensei comigo mesma.

Nós fomos a uma lanchonete e eu estava de carro com a irmã mais velha da Sam, na hora de ir embora, um dos amigos dela, perguntou se podia pega-lo emprestado para levar sua filha em casa.

Porém pediram para que eu fosse junto porque essa seria a garantia de que Joaquim não demoraria.

(Esse não é o nome dele, mas vamos chamá-lo assim).

O caminho de ida foi normal, fiquei viajando ao observar a paisagem pela janela do carro, estava parecendo uma verdadeira turista.

Após deixarmos a casa da mãe da menina, voltamos conversando e foi aí que as coisas saíram do controle.

Joaquim parou o carro em uma rua deserta, meu pesadelo havia começado...

Portas trancadas.

Vidros fechados.

Eu estava desesperada.

E então ele me beijou.

Tentei sair do beijo e ele abaixou o banco do carro, subindo em cima de mim, percebendo que eu estava assustada ele disse "não precisa se preocupar, não irei fazer nada contigo nesse lugar apertado".

Mas ele tentou, Charlie...

Apertou/chupou meus seios, beijou minha barriga e tentou me masturbar por cima dos panos, eu tirava ele toda vez e dizia que não queria, mas ele continuava tentando e tentando incansáveis vezes.

Minha voz saiu trêmula, estava quase chorando.

"Por favor, eu não quero, para."

E ele sorriu me imitando, achando que era brincadeira.

As coisas só não pioraram porque ele se deu conta da hora, viu que estava tarde e tinha que devolver o carro para a irmã de Sam.

Eu vivi um pesadelo de trinta minutos.

Depois disso, nós dois voltamos e você percebia que eu não era a mesma pessoa, cansou de me perguntar o que havia acontecido comigo no tempo em que estivemos afastados, mas eu nunca tive coragem de contar.

Não queria que me julgasse ou achasse que a culpa era minha, mesmo sabendo que você nunca faria isso, eu tinha medo.

Estava assustada com tudo ao meu redor pra falar a verdade.

Minhas roupas passaram a ser ainda mais largas, passei a usar cores mais neutras para não chamar tanta atenção também.

Eu estava me escondendo do mundo.

Era trágico, mas não conseguia controlar.

Agora você sabe de tudo, Char.

Essa era a única coisa que eu escondi de ti, ou melhor, de todos.

Imagino como deve estar sendo difícil pra ti ler isso tudo agora e não poder me dar o seu famoso abraço de consolo, mas acho que é melhor assim.

Espero que esteja conseguindo viver sem ficar tão triste.

Minha esperança é que esteja sorrindo mais, pois como já dizia a Lydia em Teen Wolf:
"sorria, alguém pode se apaixonar pelo seu sorriso" e eu espero que se apaixonem.

Você é incrível, nunca se esqueça disso, tudo bem?

Se eu tiver a escolha de lembrar das coisas quando eu chegar no paraíso ou talvez no inferno — nunca se sabe né — prometo nunca esquecer de ti e das nossas inúmeras horas de conversa.

Nossas inúmeras risadas e nossos inúmeros momentos de amor e carinho.

Mas principalmente, prometo nunca esquecer da nossa parceria e amizade.

Eu te amo, Charlie.

O fato de eu ter morrido faz com que o nosso amor tenha sido pausado – como eu já disse em outra carta – na parte mais linda e você só terá lembranças boas de mim.

Quem sabe na próxima vida a gente aperta o play de novo e continua, né?

Podemos ter nossos filhos e nossos gatinhos.

Poderemos discutir entre casar na praia ou na igreja e acabar casando nos dois lugares porque o casamento é nosso e a gente faz do jeito que a gente quiser.

E ah... se reclamarem a gente ainda faz um terceiro e casa no campo, certo? Certo.

Com várias comidas sensacionais que levaremos pra casa depois porque não iremos dividir com ninguém.

Mentira, talvez a gente dê um pouquinho para os nossos convidados.

Mas só um pouco, ok?

Você come demais e aí né.. já viu.

Observação: Aposto que nesse momento você deve estar pensando "só eu né, dona Emma?"

Sim, Charlie.
Só você.

Porque eu mesma sou uma mocinha delicada que não come muito.

(Espero que esteja rindo)

Gosto de fazer você sorrir.

Vamos pra sua meta da semana?

Você ama jogar vídeo, então quero que chame seus amigos pra fazer o famoso viradão na sua casa.
Compre besteiras que você ama comer, mas nada de bebida alcoólica, viu?
Tô de olho.

Se eu te ver ficando bêbado, volto pra puxar teu pé.

Mentira, pode beber sim.

Eu voltei pra casa num carrinho de construção aquela vez, então não posso dar opinião nessas coisas.

Só quero que seja feliz mesmo e que consiga superar essa dor que te causei.

Desculpa, de verdade.

Se cuida, tudo bem?

Te espero semana que vem, em nossa última carta.

Com amor, Emma.

Cartas para aqueles que deixei - #EscritoresDeOuroOnde histórias criam vida. Descubra agora