VOGUE ; LARRY!AU

DONKEY KONG

Quando Louis apareceu em sua vida, Harry estava ocupado editando vídeos. Era quase cinco da tarde, e a maior convenção de youtubers de Londres chegaria ao fim logo, deixando o garoto de cachinhos sentado em uma mesa com seu computador e uma playlist como única companhia.

Não que fosse uma má companhia, claro. Ele tinha Michael, Madonna e Fleetwood mac do seu lado, e não precisava de pessoas ali para o atrapalhar e desconcentrar da edição do seu próximo vídeo, que seria um haul das suas últimas compras em Londres. No vídeo, ele falava da nova linha da fenty beauty e alguns batons novos da Kylie Jenner. Nada que ele não tivesse falado antes, mas se era isso que suas visualizações gostavam, o que ele poderia fazer? Aquilo era seu trabalho, e ele amava isso.

Claro, as vezes ele trombava com um ou outro homofóbico metido a besta nos seus comentários ou contas nas redes sociais, mas em sua maioria, eram pessoas boas e que apenas gostavam de maquiagem e roupas novas, assim como ele. Ele amava isso: os cheiros de roupa nova, o murmúrio das pessoas em desfiles, as novas cores de sombras e como elas destacavam seus olhos. Tudo isso o fazia sentir tão bem, tão vivo, que pouco o importava com o que outros achavam.

Ao seu redor, haviam conversas e risos de youtubers em geral, alguns conhecidos por ele - como a Zoella, na qual ele tinha feito uma ou duas collabs, ou Dan Howell, o vlogger de franjinha com seu namorado/melhor amigo Phil Lester - e alguns que ele nem sabia quem era, e nem fazia muita questão também. Era um pouco fácil de identificar cada panelinha, como os gamers, os vloggers e os gurus de beleza, como se fosse tudo um refeitório escolar de ensino médio dividido em mesas e grupinhos característicos. No final, eram todos pessoas fazendo o que gostavam de fazer na frente de uma câmera para milhares de desconhecidos na internet.

"Ei, esse lugar tem gente?"

Ao seu lado, Harry viu o que pensava ser os olhos azuis mais bonitos que ele já vira na vida. Eram como um par de oceanos limpos, pacíficos e enormes, aqueles de quadros e filmes que falavam de ilhas distantes e paraísos. Harry se perguntou o que se passaria por trás daqueles olhos e todos os segredos.

"Não, não tem"

O rapaz usava adidas incrivelmente brancos nos pés e uma blusa preta de algum videogame que Harry não tinha reconhecido. Apesar das olheiras debaixo dos olhos, ele tinha baixa estatura e mãos pequenas, que digitavam rapidamente no celular, conversando com alguém que ele rapidamente lera como "Zaynie". Seu cabelo, um castanho escuro bem liso, caia como uma franja em seu rosto pequeno e delicado, mas com rugas o suficiente para Harry perceber que de delicado esse garoto só teria o rosto.

E quando Harry ouviu um "porra, seu inútil" baixinho do seu lado, ele sabia que estava certo.

"Ei, o que você faz quando seu melhor amigo é um inútil sem noção que não sabe nem escolher mulher direito?" o garoto se virou de supetão para Harry, o pegando de surpresa e o deixando sem resposta.

"Como assim?"

"Ah, você sabe. A pessoa que erra uma vez a gente perdoa, fala umas palavras de consolação e faz ela prometer que não vai fazer novamente. Mas e quando a pessoa erra duas vezes? E quando o erro ainda é seguido de outro? Caralho, tem que ter um tipo de explicação para isso!"

"Tipo, uma explicação científica para o erro?"

"É, quase isso, mas quando a pessoa erra DUAS vezes SEGUIDAS. Duas. Two. Duo. Sabe?"

Harry riu baixinho, passando a língua pelos lábios para pensar em uma resposta que não faria o garoto achar que ele era um imbecil ou algo do tipo.

"Bom, eu diria que é errando que se aprende, ma-"

"MAS DUAS VEZES?"

Naquele ponto, os dois começaram a atrair alguns olhares para o ponto escondido de Harry. Mas ele não poderia se importar menos com isso.

"Bem, então eu consideraria isso como burrice mesmo, mas não posso julgar sem saber os motivos da pessoa, eu acho"

"É um amigo meu. Ele começou a namorar essa menina, linda, sabe? Loirinha e magrinha, estilo capa de revista. Namoraram por quatro anos e ficaram até noivos, fazendo planos pra casamento, mas do nada aconteceu mil coisas e de uma hora pra outra tá tudo acabado entre eles. Mas meu amigo é uma anta e fez uma tatuagem enorme da garota, da garota mesmo, no braço e- Ei, você tá me ouvindo?"

"Tô sim, continue"

"Ah, é que você tá olhando pra minha boca com uma cara de entediado, sabe?"

Harry sentiu seu rosto quente e tinha certeza que agora deveria estar parecendo um tomate, mas Louis riu, então estava tudo bem.

"Enfim, ele ia pagar sei lá quanto de dinheiro para remover a tatuagem, mas ele também paga a própria faculdade e universidade é uma bosta ao ponto de você ter que sobreviver um ano com dinheiro pra xerox e comida. Então ele só fez uma tatuagem por cima da dela, alguma coisa árabe ou sei lá."

"Há uns dois meses, fomos em uma festa e conhecemos essa outra garota chamada Gigi que sim, também é loira e magrinha. E esse não seria o problema, já que gosto é gosto; mas ele fez outra tatuagem hoje. Com a porra dos olhos da menina que ele conhece há dois meses. Quando terminarem, vai ser mais dinheiro para cobrir mais uma tatuagem..."

Harry riu com os olhos arregalados, apenas pensando “Caraca, esse cara é burro mesmo” enquanto Louis terminava de xingar seu amigo e as duas namoradas dele como se sua vida dependesse daquilo e Harry achava sua carinha a coisa mais linda que ele já viu na vida.

Quando uma assistente do evento apareceu na porta gritando um tal de Louis Tomlinson, tudo que ele teve tempo de fazer foi passar um papel meio amassado para ele e dizer um apressado "Foi bom conhecer você, cara". E a cabeça de Harry literalmente explodiu.

Olhos azuis? Check. Rostinho de bebê? check. Nome iniciado com a letra L? Check. Sobrenome Tomlinson? Check.

O garoto era irmão de Lottie? a mesma Lottie que ele conversava quase todos os dias e que fazia vídeos juntos sempre? Não, não teria como, ela teria falado se tivesse um irmão gostoso daqueles, não teria? Talvez não, já que tudo que Harry sabia é que a família de dela era grande, mas ele não tinha ideia do quão grande.

De qualquer maneira, ele sabia que ele acharia o garoto novamente. Ele sentia isso, no fundo dos seus ossos, que aquela não seria a última vez que os olhos verdes dele veriam os azuis de Louis Tomlinson.