tomando folego

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Após a saída da rainha, minha mente continuou em choque, refletindo sobre suas palavras tão cheias de amargor. como alguém poderia sentir rancor mesmo de alguém que já morreu a tanto tempo? Como ela poderia julgar genevieve de forma tão inferior, quando na verdade ela era tão linda e encantadora? Ela chamou a minha mãe de maldita?!
Tive que fechar os punhos para não ir até ela e responder a altura, afinal, ela ainda era a minha rainha, e eu estava em seu castelo. estive tão absorta em minha ira, que nem percebi as criadas que entravam para me preparar para a primeira noite com meu esposo e essa expectativa trouxe novamente os calafrios sobre o meu corpo.
Sem que eu sequer me movesse direito, elas me vestiram com uma camisola branca e fina, que ia até meus pés e soltaram meus cabelos, que caíram como uma cascata dourada até minha cintura. todo este ritual servia apenas para aumentar ainda mais o meu nervosismo e a sensação ruim em minha garganta.
Após me julgarem adequada para receber meu marido, as criadas saíram ainda em silêncio, geralmente conversavam um pouco enquanto trabalhavam, mas, deviam ter notado a minha expressão de angústia e infelicidade com aquele casamento. A esta altura o conde já estava hospedado no castelo a vários dias, e se o seu costume de humilhar os servos ainda persistia, elas deveriam imaginar o tipo de marido que eu teria agora. eu não sabia como deveria agir, se me deitava na cama ou aguardava-o em pé, mas minha vontade real era de correr para o mais longe possível dali.
caminhava em direção a janela quando meu agora marido entrou. George me olhou dos pés a cabeça, se aproximou e colocou a mão em meu queixo, com mais força do que deveria, me obrigando a olhar pra ele e eu tremi. Então soltou uma risada debochada, diante do meu medo tão explícito.

- querida priminha claris... não parece tão ansiosa por seu marido quanto deveria. Eu até poderia ficar chateado por isso, mas, serei paciente com você meu bem, afinal somos parentes, não somos? e ainda está de luto. Não farei nada com você, neste castelo.

Apesar da sua mão no meu queixo me obrigar a encarar o seu olhar sombrio, senti um imenso alívio diante de suas palavras, soltei o ar, que sem perceber estava segurando. não seria por muito tempo esta trégua, mas, já era alguma coisa.
Ele também percebeu meu alívio e continuou sorrindo debochado, exatamente como eu me lembrava dele, em seguida caminhou até a minha cama e tirou os sapatos, deitando-se atravessado e se cobrindo com os meus lençóis.

- as pessoas lá fora esperam que passemos esta noite juntos, mas...pretende mesmo dormir na minha cama?- perguntei torcendo pra que a minha voz saísse firme.

-como acabou de dizer, é isso o que as pessoas esperam, e eu, como conde de downton, jamais dormiria no chão ou em qualquer lugar menos confortável por sua causa. mas, veja.- falou apontando a poltrona de leitura no canto do quarto- você ficará bem alí, não é mesmo?

- sim, milorde - senti-me ofendida e humilhada, mas o alívio por não ter que compartilhar a cama com o conde era o suficiente para não reclamar.

Peguei um cobertor em um dos baús em meu quarto, caminhei até o canto e sentei em minha poltrona o mais confortável que pude, tentando em vão pregar o olho, não pelo desconforto, já adormeci durante a leitura por diversas vezes naquela poltrona, mas, por todos os acontecimentos dos últimos dias e o pior, a tensão dos dias que ainda estavam por vir.
O dia seguinte passou rapidamente, quando abri os olhos George já havia se retirado e praticamente não me procurou mais. o baile de genevieve estava magnífico, tudo exatamente como a gente planejou e sonhou.
pude enfim participar do meu primeiro baile, mesmo sem debutar, já que agora era uma mulher casada, me diverti o máximo possível, vendo todas as danças e damas sofisticadas com cavalheiros elegantes, afinal aquela poderia ser minha última chance, não sabia o que me aguardaria em Downton daqui por diante, vivendo como mais um objeto que pertencia ao conde.

Na manhã seguinte tive um angustiante momento de despedida com Genevieve, e partimos cedo, e eu chorei descontroladamente em minha carruagem, enquanto via pela janela tudo o que eu deixava para trás, toda minha vida, todos que conheci, em troca de um futuro tão incerto quanto assustador, com o conde que sentado a minha frente, não esboçava qualquer reação além de deboche e prazer diante das minhas lágrimas.

A protegida do rei (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora