Tudo na vida passa, e os dias também insistem em cumprir sua tarefa de ir, um após outro. Finalmente chegara o dia em que ele iria partir, o dia de voltar de onde nunca havia partido. Sua irmã o acompanhava. Não se sentia só. Havia outra companhia em sua mente que jamais o abandonara. As horas se seguiram e logo chegaram ao seu destino. O destino... pra onde o levaria dessa vez? Saltou do ônibus e alguém estava ali a sua espera.
-E aí maninho, tudo de boa?
-Sim, tudo de boa, na lagoa. -Respondeu alegremente, abraçando Renan, que já o esperava.
-Essa aqui é minha irmã, Lana.
-Prazer conhecê-lo. -Disse a moça o cumprimentado-o.
-O prazer é meu. Eu sou o Renan.
-Vamos, vou levar vocês pra pensão que alugamos para acolher nossos familiares. A festa será amanhã. Hoje a noite iremos dar uma volta na cidade.
Os três entraram no carro e seguiram para a pensão onde os familiares de Renan e de outros colegas já se encontravam. Todos se saudaram, se acolheram e conversaram um pouco. Em seguida, Felipe e Lana foram conduzidos aos dormitórios. Felipe estava sozinho agora em seu quarto, embora não completamente, pois tão logo a "moça dos cabelos cor de ouro" veio em sua mente, mesmo nunca tendo saído de lá. Começou a imaginar como seria o reencontro, em tudo que queria dizer-lhe. Caiu no sono. Ao acordar, já era quase noite.
-Felipe, meu brother, daqui a meia hora estaremos saindo. Se apronte rápido.
-Falou, parceiro. -Disse com a voz ainda embargada pelo sono.
Levantou-se depressa, se arrumou e desceu para o hall de entrada onde todos o esperavam.
-Se não se atrasasse não seria você, né? -Disse a sua irmã com um risinho irônico.
-Ah, sempre, né? -Respondeu ele sorrindo.
Todos entraram no micro-ônibus que os esperava para um tour na cidade. Conforme os lugares iam passando, Renan fazia uma explicação sobre os locais.
-Agora, iremos fazer uma parada aqui na praça central, que é bastante famosa, inclusive pela igreja monumental que fica no meio da praça.
Eles desceram e começaram a caminhar pela praça, alguns admirados, outros tirando fotos. Felipe e Lana iam juntos, observando os lugares. Ao levantar a vista distraidamente, mal conseguia acreditar no que via. Era ela, a alguns metros dele, conversando com uma amigas, sentada bem ali. Sua irmã percebeu algo em seu olhar e em seu jeito.
-Está tudo bem, Lipe?
-Está sim. É só que...
Sua irmã então intuiu do que se tratava ao ver em que direção ia o olhar dele, e como eles brilhavam.
-Eu vou ali comprar uma pipoca, volto logo. Você quer?
-Não, não, obrigado.
-Tá bem, então.
-Não se perca, tá irmanzinha?
-Tá bem. Qualquer coisa eu grito.
Tão logo sua irmã saiu, ele caminhou alguns passos a frente. Nesse instante, a moça olhou em sua direção. Os olhares se encontraram e se comunicaram, mesmo sem uma palavra ser dita. Ela fez um sinal para suas amigas e foi na direção dele.
-Oi.
-Oi.
Os dois se abraçaram com a intensidade de um tsunami devastando todo o litoral. Um oceano de lágrimas ameaçou romper por toda sua face, mas, ele segurou toda aquela emoção, não queria demostrar tudo o que sentia.
-Senti sua falta. -Ele disse.
-Eu também.
-A fúria da sua ausência me mostrou o quanto necessito da sua presença.
-Ah, Lipe. -Disse ela, sorrindo delicadamente.
Os dois encerraram o abraço e começaram a caminhar, ao convite dele. Conversavam sobre a formatura, sobre a festa, sobre tudo o que tinham feito neste tempo em que haviam ficado longe. Sentaram-se num dos bancos e ali permaneceram conversando e rindo bastante lembrando de casos passados.
-Aquele dia em que você se vestiu de Emília, lembra? Com aquela roupa super pequena, que mal cabia em você.
-Lembro sim. Cada loucura que a gente faz.
As gargalhadas foram silenciando e sem perceber, estavam com o olhar fixo um no outro. Assim permaneceram alguns poucos segundos.
-Olha Biela, eu...
-Não, Felipe. Não diga nada, por favor.
-Mas, é que... você não entende.
-Quem não entende aqui é você. Não quero falar sobre isso. Eu tenho namorado. E também não quero te magoar.
-Namorado? Onde ele está agora que não está do seu lado?
-Ele chegará amanhã. E o fato dele não estar aqui não significa que você pode fazer o que quiser, ou que ele não me ame, entende?
-Não foi isso que eu quis dizer. Nós sabemos muito bem, e você já disse que esse namoro não é o suficiente pra você.
-Eu sei disso. Mas, é com ele que eu estou. E chega de falar nesse assunto. -Disse ela se levantando, e se preparando para voltar para suas amigas.
-Gabrielle, eu te amo!
Aquelas palavras detiveram os passos da jovem, como se um abismo tivesse se aberto a sua frente. Ela hesitou em prosseguir e virou-se pra ele.
-E quais garantias você pode me oferecer, Lipe? Depois de amanhá você irá voltar para casa dos seus pais, e eu, como ficarei? Você não percebe que isso é insano?
-Talvez haja sempre um pouco de insanidade no amor. Eu irei sim, mas, se você quiser, eu posso ficar. Por você, eu fico.
Pronto! Foi o golpe certeiro para por abaixo a muralha de incertezas que ela havia erguido para se proteger. Ela sabia que o queria, mas, havia resistido o quanto pode. Até então ele só lhe havia oferecido insegurança, mas, agora...
Eles se aproximaram e mantiveram-se olhando um ao outro, confessando o que até então haviam negado. Os lábios de ambos clamavam um ao outro, desejosos pelo encontro por tanto tempo adiado. O selo que faltava para unir o que há tempos já se encontrava tão próximo. Os corações elevaram o ritmo, a sinfonia de seus corpos batia no mesmo compasso. Era só uma questão de tempo, até tocarem-se, quando suas almas já o haviam feito.