Bem
Samira, uma menina mirrada, alta, com traços simples e pouco delineados. Seus olhos alaranjados e brilhantes, o nariz pontudo e os lábios finos não eram de todo atraentes mas carregavam uma expressão anuviada, como se uma tempestade se formasse por trás dos olhares tristonhos e também esperançosos de alguém que se perdera no caminho antes mesmo de começar trilha-lo. Ela nasceu em uma casa isolada no campo, teve uma infância apagada pois seu pai que era agressivo e muito rígido obrigou-à trabalhar desde muito nova, e sua mãe apresentava uma repulsa muito grande à menina.
A familia de meros camponeses que n entendiam ou aceitavam os poderes presentes na filha obrigavam Samira a esconder e controlar suas anomalias e entao ela n podia usar seu dom em hipótese alguma ou seria castigada. Seus pais por muitas vezes a fizeram sentir-se suja, errada ou anormal.
Essas situações de humilhação e dor eram na verdade muito frequentes, chegando ao ponto de a trancarem dentro de um cômodo sem janelas onde não havia comida ou água talvez na esperança de que morresse. Na cabeça dela, talvez devesse.
Em uma das muitas represálias quanto a existência de Samira, cada vez mais diminuta, e dessa vez por alguns passarinhos terem se aproximado dela no jardim e lhe dado pequenas frutas, a garota que já não aguentava as agressões e a discriminação de sua família perdeu o controle.
Tinha apenas 14 anos e vivia o terror dos abusos de seus pais durante toda sua vida, da qual viveu boa parte presa. Disparou perguntas tão cheias de dor que no lugar de suas lágrimas pode-se duvidar que não lhe escorria sangue. Perguntou a seus pais tantos porquês que nem ela sabia que existiam tamanhos motivos para a infelicidade e mais doloroso que os outros questionamentos era saber o porquê era tão difícil de ama-la.
Samira em crise, sentia somente as lágrimas pesadas que pareciam arder em seu rosto, deixou sair então a tempestade presa em sua garganta faiscando a cada palavra que saia de sua boca. Pegando seus pais de surpresa que temiam enraivecidos o desconhecido rompante.
Seu pai pegou uma tora que estava próxima aos fenos no terreno com a intenção furiosa de calar a filha que pela primeira vez se impunha contra a crueldade de seus atos. Mas não conseguiu terminar a ação parando no meio do movimento, perplexo.
Sua filha agora estava em meio a uma nuvem de raios. A sensação de queimação que vinha dela se tornou eletricidade pura e ela não sentia dor ou desconforto com a luz ardente saindo por seus poros, com os olhos cegos pela explosão de sentimentos só conseguia vislumbrar uma realidade diferente, e em meio a delírios ela ria, onde sua família estava encantada com a garota radiante e corada, que brincava e se deleitava com uma demonstração linda do controle de borboletas que dançavam ao sons de risadas inocentes, tão preciosas... uma visão que levou a menina longe...
O desejo de aceitação e amor, era tudo ao que Samira se agarrava. Nos seus sonhos ela sorria, então ali permaneceria. Seu corpo amortecido mudava a medida que seu poder tomava conta de seus sentidos... ela se sentia grande, forte, feroz dona de sua própria essência pela primeira vez.
Não conseguiu controlar seus instintos de animal, como nunca havia liberado de tal forma tamanho poder n conhecia seu potencial por inteiro. O que sabiam era que vinha de uma linhagem, antiga de sua família por parte de pai, de controladores de animais chamados Animis. Esse poder em geral a conectava mentalmente com as criaturas fazendo com que agissem a seu favor ou ao seu comando, a ligação também estava presente nos sentidos e emoções dos animais. Por nunca ter liberado todo seu fervor, havia uma coisa, rara no mundo mágico e entre os Animis, que ela realmente desconhecia.
Quando o poder tomou conta de Samira, ela ja era muito mais do que apenas uma menina tristonha do campo, era tempestade, era ira, ela era a potência de um animal.
Escamoso, com quatro patas, um mito a muito esquecido. Sua dor tomou forma, a forma da vingança e da impunidade. Suas asas se estendiam por todo o terreno arado, sua altura dobrava o tamanho da casa simples de madeira, a cor oscilava entre um roxo acobreado ao azul escuro.
Um Drakim, que só se tinha visto nos livros antigos de histórias para crianças até então. Ao invés de fogo, correntes elétricas percorriam todo seu corpo, raios tão potentes quanto o incêndio que ocorria dentro do peito de Samira...
Esse foi o martírio de sua família, mortos pelas garras da criança enraivecida que se transformara em uma fera elétrica numa demonstração do quão grandioso e perigoso é um animal acuado.
Quando as chamas do lugar já n passavam de cinzas e brasas, quando tudo parecia calmo e n se ouvia mais do que os sons dos pássaros e uma ou duas tábuas estralando com o calor ao fundo, a garota em extrema exaustão observou sua obra, mirando as borboletas alaranjadas como seus olhos, que dançavam por sob as brasas dos escombros.
A única coisa que vinha em sua cabeça eram suas borboletas, raios azuis arroxeados e risadas. Ela lembra de ver seu reflexo nos olhos assustados de seus pais, lembra do pavor em suas feições, o medo de morrer mas, por fim nenhum remorso pelo que fizeram muito menos um olhar que fosse de amor ate os seus últimos suspiros.
Então ela era realmente aquilo? Um monstro... Sua cabeça em confusão a fez levantar de cima do seu passado, de tudo aquilo que ela conhecia e correr.
Um monstro e agora órfã. O peso da perda daquilo que ela considerava seu, foi forte demais, Samira fugiu, por medo. Talvez de si própria.
Em uma estrada longe de todo o caos daquela manhã, a menina entrou a fundo num país em meio a guerras, mas ela nao notaria o perigo pois estava completamente assustada e perdida. Foi o choro da jovem na verdade, que chamou a atenção de alguns guardas em um acampamento Nieres perto dali. Eles encontraram um ser desconfiado e pronto para atacar qualquer um que chegasse perto. Um animal encurralado. Já estava pronta pra evocar seus dons quando um homem saiu de trás do grupo armado, ele tinha semblante calmo e era o único sem ter dado risadinhas maldosas ou que tenha insinuando algo sobre suas roupas rasgadas e queimadas, parecia realmente não querer feri-la. Archan foi a primeira mão amiga que ela encontrou depois do acontecido em sua casa, depositou nele a confiança cega de uma menina engenua do campo.
Ele ofereceu roupas limpas, água e comida... Mas ao perceber a aproximação constante de borboletas e alguns animais ressabiados ao redor da garota, ele logo notou que ela não era comum. O que o homem viu nela ia alem do medo e insegurança de uma criança perdida, ele sabia do que ela precisava e ofereceu algo que ela nunca tinha tido na vida.
Propôs ensinar a controlar seus poderes, não só controla-los mas usar a seu favor tudo aquilo que ela vinha escondendo dentro de si, deu a ela atenção e admiração. Samira estava em um mundo completamente novo mas estava se sentindo pela primeira vez em casa.
Ao notar a inexperiência da jovem que se esforçava ao máximo mesmo não obtendo um bom resultado, para manter o controle de meia duzia de quadrupedes ao mesmo tempo, ele viu a oportunidade que esperava para os seus próprio planos, pois sabia que doma-la não seria difícil, muito pelo contrario... Um prazer.
Frágil, exausta e com o vislumbre de esperança em meio aos que deveria temer, ela se juntou ao grupo Nieres sem saber ao certo como tudo aquilo iria terminar... Mas nunca mais presa e contida. Seu animal interior sentiu o cheiro do ar livre... E gostou.
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A GRAYISH MOMENT
FantasyO prólogo da história de um casal destinado ao ódio, que se torna amor, e a unica maneira de manter o mundo em equilibro.