Capítulo 2

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Catherine foi sorrateiramente para a cozinha, pôs a taça de vinho sobre a bancada e respirou fundo. Ele havia chegado. Ele havia chegado e continuava lindo, com o mesmo olhar e sorriso que a entorpecia. Ela não conseguiu falar com ele, ela não queria que ele a visse, não ainda, então aproveitou que ninguém estava prestando atenção nela e fugiu pra cozinha, precisava respirar fundo e se odiava por sentir assim só em vê-lo.

- Fugindo, filhota? - Ísis apareceu na cozinha, assustando a Catherine.

- Não, eu só.. só vim buscar mais vinho, mãe. - ela disfarçou.

- Hmm.. - Ísis olhou bem para a filha. - Sua taça ainda está cheia, meu bem. E agora já tem garçons servindo lá na sala.

Catherine desviou o olhar. - Eu...

Ísis se aproximou da filha e acariciou seus cabelos loiros. - É por causa dele, não é? Se eu soubesse que ia te afetar tanto, não tinha convidado ele.

- Não, é besteira minha, já faz muito tempo... como você não o convidaria, mãe? Ele conhece vocês desde que se entende por gente.

- Vocês sempre foram grandes amigos, desde crianças. É uma pena ter acabado assim.

- Não foi uma escolha minha. - Catherine disse com a voz triste.

- Eu sei, meu amor. - Ísis a abraçou. E ela sabia mesmo. Catherine sempre contava tudo para a mãe, era uma relação que ela se orgulhava de ter, pois sentia que sua mãe era sua melhor amiga e se sentia confortável pra contar tudo, o primeiro beijo, a primeira vez que fez amor, tudo. Ela também tinha uma ligação muito forte com pai, também conversavam sobre tudo. - O seu pai hesitou em convidá-lo de início, mas não tinha como chamar os nossos amigos, os pais dele, sem chamá-lo também.

- Não tem problema, como falei, ele é amigo da família. - Catherine se rendeu ao abraço da mãe.

- Você diz que não tem problema, mas eu não gosto do tom triste que ouço em sua voz. - Ísis encostou o rosto no topo da cabeça da filha.

Catherine fechou os olhos. - Eu o amei de verdade, mãe.

- Você o amou ou ainda o ama?

Catherine levantou a cabeça. - Eu não sei. Não sabia que vê-lo iria me afetar tanto.

- Filha.. - Ísis olhou nos olhos da Catherine. - Talvez essa história não tenha realmente acabado como você diz.

Ela piscou, mas não disse nada, a mãe respeitou o silêncio dela. Catherine balançou a cabeça como se quisesse afastar qualquer pensamento e tentou sorrir. - Bom, essa noite é sua e do papai, vamos voltar pra festa.

O jantar continuou em um clima agradável, todos sentaram, comeram, conversaram. Catherine e John não se falaram, se olhavam diversas vezes, mas não se aproximaram. Um dos convidados sugeriu que fosse feito um brinde e disse que ninguém melhor que a filha do casal para fazer o brinde. Catherine engoliu em seco, mas se levantou, com a taça nas mãos, seus pais mereciam.

- Mãe, Pai... Acho que todo mundo aqui pode dizer que vocês são o casal mais doce que já conhecemos. Vocês me inspiram, me fazem acreditar no amor, no companheirismo, na união, na cumplicidade. Vocês sempre dizem que terem me adotado foi a melhor decisão que tomaram na vida, mas sou eu que tenho que agradecer por vocês terem aparecido na minha vida e por todo o amor que me deram e me dão. Que venham outros 31 anos! Um brinde ao casal mais lindo e os melhores pais que eu poderia ter!

Todos brindaram, Catherine sentiu um olhar sobre ela, e ela sabia que vinha do John. Ela olhou pra ele e viu o sorriso que carregava nos lábios, ela desviou o olhar rapidamente.

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- Cat... - Georgia apareceu na varanda onde Catherine olhava a noite. - Você está bem?

- Estou sim. - Catherine olhou para a amiga. - Você já vai?

- Sim, estou ficando cansada.

- A mãe me pediu que dormisse aqui, mas eu te levo em casa.

- Não, relaxa, uma amiga da sua mãe me ofereceu carona.

Catherine sorriu. - Não entendo como você consegue fazer amizade com tanta facilidade.

Georgia sorriu e abraçou a amiga. - Você está bem mesmo? Quer conversar?

- Não se preocupa comigo. Pode ir descansar, obrigada por ter vindo. - Catherine retribuiu o abraço.

- Que isso? Não se pode deixar uma amiga ouvindo "e os namoradinhos?" sozinha, pode?

Catherine riu, e beijou  a amiga no rosto. - Boa noite, Gigi.

- Boa noite, Cat.

- Me manda mensagem ao chegar em casa.

- Pode deixar, chefe. - Georgia brincou e saiu.

Catherine suspirou e voltou a olhar o céu.

- Você ainda tem esse costume.- John disse ao se aproximar.

Catherine não olhou pra ele. - Algumas coisas não mudam, graças a Deus.

- Cat, eu vim essa noite só pra te ver 

- Por que?

- Eu sinto sua falta.

Catherine suspirou. - Pensasse nisso antes.

- Eu me arrependo de como as coisas terminaram entre a gente.

- A culpa foi sua. Você foi pra cama com aquela garota, você a engravidou. Eu achava que você me amava.

- Eu amava. - ele se controlou pra não dizer que continuava amando. - Eu te amava tanto.

- Não teria ido pra cama com outra se amasse.

- Aquilo foi um erro... eu estava com raiva e bebi...

- Com raiva de mim? Eu não fiz nada.

- Você estava dançando com aquele rapaz, eu era um adolescente, fiquei com ciúmes.

- E aí você decidiu engravidar a menina? - Catherine olhou para ele, incrédula.

- Não, eu estava bêbado. Não pensei direto, só queria extravasar. Quando ela me disse que estava grávida, eu nem sabia o que pensar, me doía saber que tudo tinha desandado por causa de um ciúmes bobo. E aí... era responsabilidade minha, eu tive que fazer o que fiz.

- Você teve que casar com ela. - Catherine disse cabisbaixa.

- Eu não a amo, Cat. - ele disse com sinceridade. Catherine ficou mexida com essa informação, mas não disse nada. - Eu nunca a amei, a minha filha sim, é a coisa mais importante da minha vida, mas o meu casamento...

- Isso não é problema meu. - ela não conseguia olhar pra ele.

John segurou no braço dela. - Você vai me dizer que não sente nada?

Catherine olhou nos olhos dele e se perdeu, ela sabia que ia se perder naquele olhar, era mais forte que ela. Ela queria tanto que as coisas fossem diferentes, ela queria tanto voltar no tempo, queria que eles não tivessem brigado antes de irem para aquela festa, queria que ela não tivesse provocado ele dançando com outra pessoa, queria que ele não tivesse bebido e a provocado de volta ficando com aquela garota, queria que a chance de ter o amor da sua vida ao lado dela não tivesse morrido naquela noite. Catherine fechou os olhos e tirou o braço da mão dele.

- Isso não importa agora, você tem uma família, não é verdade? - ela falou

- Cat, eu...

- Eu não quero mais falar sobre isso, John. Você sabe onde é a saída. - ela disse ao se retirar e deixá-lo sozinho.

Agora tudo o que ela queria era ir pra cama e só lembrar dos momentos bons daquela noite.

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