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Dois

"em algum lugar entre o certo e o errado, existe um jardim. Encontrarei você lá." — Diana

Para dependentes químicos existe a terapia de doze passos, mas eu não sou uma dependente comum. Talvez meu vício seja pior que qualquer droga. Meu vício tem nome e sobrenome.

Logan Aiken.

Ele anda em passos rápidos e confiantes. Tudo nele grita imponência e superioridade. Seu corpo magro, e até um pouco musculoso, ficava muito bem em jaquetas jeans. Até hoje não encontrei algo que o deixasse feio, na verdade. além da sua personalidade difícil, é claro.

— Hildegard, que surpresa agradável. — ele diz. Sua voz está muito mais bonita do que eu lembrava. Só se passaram semanas, que tinham a aparência de anos, mas de qualquer maneira semanas. Alguns pares de dias e eu já o imaginava de outra forma.

Olho ao redor procurando Katherine, mas ela já havia saído de perto de nós há muito tempo. Não porque ela era uma péssima amiga e me deixou sozinha com Logan, e sim porque ela sabe que eu realmente preciso encará-lo de uma vez por todas.

Logan sabe como jogar. Ele havia me deixado dependente e queria que eu chorasse aos seus pés toda vez que fizesse algo errado, e por um tempo as coisas realmente funcionaram assim. Então, na nossa última briga, eu decidi que não iria perder a mim mesma, mesmo que talvez valesse a pena se perder no universo de Logan Aiken.

— Aiken, que surpresa desprezível. — Mentira. Aiken podia ser qualquer coisa, menos desprezível.

Seus malditos olhos castanhos avaliavam cada parte do meu corpo, quase como se quisesse me decorar. E lá no fundo eu sei que ele realmente queria. Ele pode me pintar em uma tela com os olhos fechados agora, eu tenho certeza.

— Você sabe que não deveria usar vestidos como esse. —ele aponta. Sua voz mansa como a de um anjo, mas eu sei que suas intenções são tão brutais quanto as de um demônio.

— E você sabe que eu não me importo. — Oh Deus! Como eu me importava! Só a ideia de que isso o desagradava me deixava triste. Eu queria fazer tudo que estivesse ao meu alcance para ver Logan sorrir.

Logan ainda me encara cético. Deve ser muito difícil ver que seu brinquedo preferido ganhou vida própria e não quer mais brincar com você.

— Você acha que pode me desafiar desse jeito, bebê? — ele fala com a voz tão baixa quanto um sussurro. "Bebê" era assim que ele me chamava antes, antes das brigas. — Você sabe que eu sou melhor nesse jogo do que você.

Ele está certo.

Logan é muito melhor do que eu nesse jogo. Mas eu sei que na verdade Aiken é só um menino malvado e egoísta, ele não divide o manual do jogo. Monopoliza o tabuleiro e é por isso que vence.

— Então jogue sozinho. — redondo. Eu estou orgulhosa de mim mesma. Enfrentar Logan Aiken não era para qualquer uma. E eu não estou no histórico.

Ele chega perto de mim, perto demais, e deposita um beijo em minha bochecha. Fico imóvel vendo ele se afastar e andar de volta em direção aos seus amigos.

Céus, ele ainda sabe me desestruturar como ninguém.

Esse é um dos problemas de Logan Aiken: ele simplesmente sabe.

Procuro Katherine e a encontro conversando com alguns amigos. Ela me vê e corre até mim em passos atrapalhados.

— E aí? Você chutou ele naquele lugar que eu te ensinei? — perguntou ela, com um sorrisinho no canto da boca.

— Claro que eu não chutei ele. — Se eu seguisse todos os planos de Kat, provavelmente estaria presa agora.

Sua expressão murchou.

— Você não vai deixar ele destruir você de novo, não é? — outra pergunta, dessa vez séria e claramente preocupada.

— Não, eu não vou. — Por algum motivo nem eu consigo acreditar nas minhas próprias palavras. Aiken sempre vence.

De repente o clima ficou pesado. Era um silêncio desconfortável entre nós. Vai ver ela também sabia que no final eu não resistira a ele.

Talvez ela visse o futuro.

— Bem, eu acho que a gente precisa de mais bebida. — Katherine diz, cortando o clima ruim e em seguida aponta para o copo vazio em minhas mãos.

Aceno com a cabeça e nós vamos em direção a cozinha. Me sirvo com mais uma dose de vodca e viro rapidamente todo o líquido garganta abaixo. A queimação do álcool vale pelo prazer do esquecimento. Katherine balança a cabeça em sinal de negação.

Encho novamento meu copo, mas dessa vez com a cerveja barata que estava disponível em cima do balcão.

Katherine anda novamente para o quintal, onde a festa acontece, mas quando notou que eu não a seguia, parou.

— Você não vem, Ki?

— Não, acho que vou ficar aqui com todas essas bebidas e essa solidão preciosa. — Uso o braço para gesticular a cozinha quase vazia.

Katherine dá de ombros e volta para o lugar onde a música agitada estava mais audível. Kat jamais me deixaria sozinha assim, mas ela já está bêbada o suficiente pra perceber o quão abalada eu estou. Ou então eu sou uma ótima atriz em não transparecer isso.

Aqui a música é apenas um eco distante, a cozinha parece aconchegante e eu tenho muitas bebidas para experimentar e esquecer os meus problemas.

Dou outro gole.

Antes que eu possa comemorar o fato de estar sozinha, um barulho vindo da sala chama minha atenção. Um grunhido e uma risada. Caminho até lá ainda com o copo em mãos.

Meu pés travam instantaneamente. A cena me atinge como um míssil. Aí  está ele, o melhor jogador que eu já havia visto.

Logan está sentado despojadamente no sofá com uma bela ruiva em seu colo. Eles trocam o beijo mais meloso da história. Mas a pior parte foi quando seus olhos encontraram os meus e ele simplesmente sorriu.

Sorriu sedutor como o inferno.

Sínico como uma metáfora.

Ando até eles e, sem pensar muito, derramo todo o conteúdo do meu copo na garota em seu colo. Ela levanta completamente assustada. Aiken continua sorrindo e olhando para mim. Ele está adorando.

— Você está louca?! — a ruiva pergunta, enquanto avalia o estado de vestido encharcado.

Eu queria pedir desculpas, afinal não é culpa dela. Mas eu mal consigo desviar o olhar de Logan que  brilhava em admiração.

— Não me desafie de novo, Aiken.

Ele vai me desafiar de novo.

Eu sei disso.

Sai dali o deixando cuidar da garota encharcada de cerveja e fui em busca de Katherine. Ela é minha carona e eu não posso voltar para casa sem ela.