Daniel Hernandes, o Leal

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Já era aproximadamente umas seis horas da tarde, o tempo estava fechando e ficou claro que iria cair um temporal durante a noite, as nuvens estavam cinzas demais e o vento parecia estar dando tapas na cara de quem ainda estava no bosque, Daniel percebeu isso assim que fez uma pausa em sua corrida diária quando seu relógio apitou avisando que já eram seis e meia da tarde.

Ele parou sob um pinheiro para respirar por alguns minutos antes de continuar com a corrida. Antigamente ele não era o tipo de garoto que gostava de fazer qualquer tipo de exercício físico, mas depois do desaparecimento do melhor amigo percebeu que precisava focar toda a dor que estava sentindo em algo que não fosse comestível e nem alucinógeno.

Ele olhou ao seu redor e percebeu que não haviam mas tantas pessoas, e por mais seguro que fosse passar mais umas meia hora correndo, ficar ali sozinho depois das sete é estar preso em um cenário de filme de terror, com pouca iluminação perto das árvores seria fácil se perder novamente. Ele aproveitou a luz que ainda tinha e correu em direção a saída do bosque com seus fones no ouvido tocando alguma música eletrônica.

Daniel, diferente dos outros dois antigos amigos focou toda a sua dor e ódio que estava sentindo com a perda do melhor amigo em algo que fosse o ajudar ao invés de engordar. Um mês após o desaparecimento, Daniel decidiu que iria mudar sua vida e não seria mais reconhecido como o garoto gordo, entrou em uma academia e manteve essas corridas diária, logo deixou de ser o amigo gordo do garoto popular desaparecido.

Quando se deu conta e saiu de seus pensamentos já estava parado em frente a sua casa, respirou fundo, guardou os fones de ouvido e arrumou o cabelo.

— Onde estava? Já são quase sete horas! — a senhora Hernandes perguntou preocupada com o garoto, como de costume. Desde o desaparecimento de Caleb ela não deixa o garoto ficar na rua depois das sete e meia, e se passar disso e ele não estiver em casa ela liga pra polícia. — Sabe que não gosto de você na rua a essa hora.

— Eu sei, mas eu tô bem! Não vou desaparecer do nada. — ele disse e seguiu para se sentar a mesa junto com seu pai. Seu pai era um cara calado que fingia não se importar com coisas pequenas, como seu filho na rua até a essa hora, mas por dentro seu coração palpitava. Ele estava a mesa com o jornal tampando seu rosto. — Boa noite, pai.

— Boa noite meu filho. — A senhora Hernandes não entendeu o por que de não ter visto um sermão nele, então bufou e foi até a cozinha pegar os pratos. A mesa já estava posta, com muita comida para um noite calma de domingo.

Como de costume todas as noite no final de semana, a senhora Hernandes fazia todo tipo de besteira gordurosa que podia para o filho e o marido encherem o estômago, e quase sempre era pouco já que os dois comiam muito, comiam o suficiente para uma família de seis pessoas.

Daniel acabou de comer um prato com um pedaço grande de lasanha com queijo ralado, deixou o prato dentro da pia e subiu para seu quarto tomar um banho quente. A chuva começou a cair de uma hora para outra, estava forte e parecia que não iria parar tão cedo. Ele vestiu uma roupa quente e ligou ventilador, se deitou na sua cama para ler "Cidades de Papel", um livro que já estava enrolando para ler a mais de cinco meses. Quando ele pegou o livro, a primeira coisa que viu foi a quem pertencia anteriormente, Caleb Millstone.

Caleb havia deixado o livro na casa de Daniel semanas antes de desaparecer a pedido do amigo, mas enrolou por meses para se quer pegar no livro, até um dia finalmente tomar coragem e começar a ler o livro que o amigo tanto gostava. Depois de alguns capítulos ele conseguiu entender o por que de ser o favorito de Caleb, o jeito como Quentin, o personagem, procurava pistas que misteriosamente o levassem até Margo era algo que prendia qualquer pessoa, o jeito como as Cidades de Papel era explicadas conforme ele lia cada linha era algo que o deixava ainda mais preso, o suficiente para ler e não perceber que estava pegando no sono.

No dia seguinte quando acordou pescoço estava dolorido devido ter dormido com travesseiro a mais, ainda segurava o livro aberto no capítulo três, marcado por Caleb com uma caneta vermelha assim como em outras partes específicas. Daniel se espreguiçou ainda deitado em sua cama, alongou os braços e as pernas sentado e estalou o pescoço, como fazia todas as manhãs. Tomou seu banho, pegou a roupa e o resto do material, e já estava pronto para mais um dia de aula.

Sua mãe estava na cozinha terminando de ajeitar os lanches do marido e do filho, enquanto Daniel tomava o café da manhã saudável a base de ovos mexidos com alface e tomate temperado com orégano.

— Como sempre, mais adiantado que isso impossível! Vai correndo pra escola? — Sua mãe fez umas piada lembrando que o mesmo prometeu ir correndo pra escola todos os dias para se exercitar.

— Nossa mãe, a senhora acordou do lado de um palhaço hoje. — Seu pai chegou no exato momento em que ele brincou de volta.

— Queria ter o humor de vocês dois para acordar todos os dias as sete da manhã. — Os dois riram debochando.

— Eu queria muito compartilhar esse momento em família na mesa com vocês, mas eu necessito ir logo e não chegar atrasado. E sim! Eu vou caminhando, a escola fica a trinta minutos daqui. — O pai dele discordava de todo esse treino, sabia que o filho amava correr e fazer atletismo, mas ele estava se esforçando demais ultimamente.

— Aproveitando, dê uma olhada no correio hoje, acho que escutei o carteiro passar mais cedo... Boa aula! — Sua mãe voltou para cozinha e seu pai continuou sentado a mesa, ele pegou seu lanche em cima da bancada e saiu porta a fora.

Ele quase passou direto ignorando o pedido de sua mãe mas algo o fez voltar atrás e dar uma olhada na caixa de correio. Ele abriu e realmente tinha alguma coisa lá dentro, um embrulho com revistas pornôs gay e logo abaixo um papel cortado a mão. Na mesma hora em viu aquilo sentiu cada pelo em seu corpo ficar para o alto, se sentiu arrepiado em lugares que nem ele sabia ser possível.

Lembrando que se você não contar, eu também não conto, afinal você anda bem estressado D!

Daniel ficou parado olhando para aquele pedaço de papel e para o pacote com as revistas, não sabia o que fazer, e o barulho que o trovão havia feito o deixou sem rumo nenhum. Pensou em como aquilo era uma brincadeira de mal gosto, em como Caleb havia contado para mais alguém e agora essa pessoa está brincando com algo que ele nem mesmo lembrava. Ele colocou tudo em sua mochila e seguiu para a escola, mas parou no ponto descendo sua rua para esperar o ônibus, não havia condições de suas pernas pararem de tremer.

Mal Intencionados: CulpadosOnde histórias criam vida. Descubra agora