Na enorme casa de três andares dos Standall, recém reformada e repintada com cores claras e com um belo jardim cheio de petúnias, rosas brancas e margaridas em destaque, Alison ignorava completamente o mundo do lado de fora dos portões do condomínio de classe média em que vivia, junto com seu pai e sua madrasta, Rosalie.
Ainda com a chuva forte mantendo os alunos dentro da escola por motivos óbvios de segurança, Alison dava graças aos céus e forças ocultas que ele chamava de Gucci e Havana, por terem o prendido dentro de casa e terem enchido seu corpo de preguiça, junto com as atuais melhores amigas, Julie Fisher e Caitlin Snow, ou como as chamava por trás, "Ácaro" e "Vômito", isso por que foi ele quem as transformou nas garotas populares junto com ele. Enquanto Caleb ainda era o garoto popular, Caitlin e Julie não eram as mais bonitas no ensino fundamental e eram conhecidas por todos como "Lesbiotas".
Por mais que o passado ainda fosse um fantasma chamado Caleb na vida do garoto, ele tentava manter as cosias pela aparência e a cada segundo do dia ser melhor que os outros em alguma coisa. A vida de Alison, por mais perfeita que parecesse, era tudo apenas uma bela e enorme fachada que ele mesmo criou para se proteger. Seus pais quase nunca estavam em casa com ele, os empregados que cuidavam da casa e dele obviamente, se não fosse por Caitlin e Julie, sabe-se lá o que seria do mesmo.
Os três estavam deitados nos colchões que haviam colocados no chão da sala de estar folheando revistas e comendo o café da manhã aos poucos, o assunto do momento era quantos gominhos haviam nos abdômens dos mais quentes de Hollywood. Alison atuou como de costume e se sentou segurando as pernas ao ouvir o barulho do último trovão.
— Zac Efron com certeza deveria entrar para a lista! — Caitlin disse e a amiga começou sorrir quando viu a foto do ensaio que ela havia achado.
— Vocês estão fazendo isso ficar cansativo. Vamos sair das revistas e partir para o mundo real! — Alison pegou as revistas e as jogou longe dali, pegou os celulares em cima do sofá e as entregou. — Tá, é o seguinte, só valem alunos da nossa escola, e precisam ter abdômens definidos o suficiente para podermos contar! Caso contrário, esqueçam o late que com certeza já é meu.
— Que ótimo, como se eu fosse lembrar o nome de algum dos dementes que tem na Liberty. Sério, não pode ser só da cidade não? O Peter com certeza entraria! — Julie tentou argumentar contra esse jogo estúpido que estavam o tirando do tédio, mas em vão, quando Alison decidia era seguir ou se retirar, literalmente.
— Tá! Eu já tenho minha primeira indicação e com isso já posso ganhar! Clark Sumers! — Alison escutou o nome de seu colega sair da boca de alguém pela primeira vez em dois anos como um tiro no peito, conseguiu voltar no dia em que parou de falar com o policial, atual detetive, e lembrar em como odiava Caleb por isso. — O abdômen dele! Minha santa Gucci, eu levaria todas as roupas que eu pudesse lá!
— Que nojo! Ele não tem tipo, uns 27 anos? — Julie comentou repreendendo a amiga esperando que Alison fosse fazer algo parecido, mas nada saiu de sua boca. O garoto ficou sentado olhando para o celular pensando no passado. — Alô? Sim, precisamos de uma rola intravenosa, ele dormiu...
— Pera aí Julie, você é tão engraçada que incentiva o meu suicídio. O Clark não é mas um aluno da Liberty, e ele tem 26! — As garotas ficaram caladas estranhando a reação do amigo que havia sido até calma por sinal, principalmente por lembrar a idade de alguém que não fosse ele — Preciso de café!
Alison se levantou da sala carregando os pratos com ovos e bacon comidos pela metade e uma torta de morango a pedido de Julie onde ela só havia comido os morangos, ele deixou tudo na pia da cozinha mesmo com comida dentro e foi atrás do seu combustível, pó de café, de preferência o mais forte possível.
As garotas na sala continuaram com a brincadeira de escolher o melhor tanquinho enquanto Alison tinha um pequeno surto por não achar o pó de café, ele olhou na lista de coisas que haviam acabado, a única coisa que seu pai e sua mãe deixavam escrito para ele, pendurado na geladeira com um ímã de melancia. Ele pegou a chave do carro do seu pai em cima do balcão e seguiu rumo a garagem.
— O café acabou, as vadias vão ficar aí ou vão comigo comprar. — As garotas preferiam sorriram e demonstraram preferir ficar em casa do que encarar a chuva mesmo que já estivesse fraca. — Piranhas!
Alison ignorou a falta de fidelidade das garotas por causa da chuva e tomou a coragem que estava precisando quando viu que a chuva já estava mais fraca, pegou a BMW de seu pai na garagem e seguiu para o mercado mais perto atrás de seu pó de café preto mega forte. Caitlin e Julie eram o que tinha sobrado de amigas para Alison, já que todos em sua escola decidiram que ele era um mimado filhinho de papai depois que Caleb sumiu e deu as costas para os melhores amigos.
A chuva não trazia apenas sustos e trovões com ela, trazia as lembranças mais odiadas e as coisas que mais sentia falta no melhor amigo, pensava em como Caleb conseguia o destruir com uma palavra e sem precisar de muito esforço, mas também o colocava para cima quando queria se desculpar e não queria pedir. A amizade dos dois era bem peculiar por assim dizer, era uma amizade de amor e ódio já que na cabeça distorcida de Caleb, Alison queria ser como ele e ter tudo dele, e isso era a pauta de muitas brigas entre os dois.
Caitlin e Julie chegaram na vida do garoto de paraquedas logo após o desaparecimento e etc, foram as amigas que ele precisava, e até hoje estão aí o apoiando em tudo, é claro que isso tudo foi o incentivo perfeito para Alison dar um salto em sua vida e parar de se lamentar por alguém que era visivelmente perturbado e começar a se amar acima de tudo. Ele tornou a paranóia de Caleb real e decidiu sempre vestir as melhores roupas, andar com o melhor carro, usar o melhor celular, ter uma vida invejada por todos os outros sem precisar se esforçar tanto.
Ele dirigia e quase não prestou atenção de tão focado que estava no passado, quando se deu conta já estava em frente a entrada do bosque cheia de carros de polícia e um carro funerário que estava parando na entrada ao lado de uma das viaturas. Ele parou um pouco mais a frente o carro para não atrapalhar o caminho e desceu indo em direção a um das viaturas, até dar de cara com Clark.
— Ali, o que você tá fazendo aqui? — perguntou Clark tampando o rosto devido a chuva.
— Eu vi o movimento e esse carro da funerária, o que aconteceu, Clark? — o detetive ficou quieto olhando para o garoto e não sabia como falar para ele, naquele momento, sob a chuva.
— Acharam ele, acharam o corpo dele... Caleb! — Alison ficou paralisado ao ouvir o nome de Caleb sair da boca de Clark, não sabia o que falar ou como reagir, só ficou parado olhando nos olhos de Clark.
O detetive foi chamado por um dos policiais para ajudar a auxiliar e ver o que eles tinham até o momento, enquanto Alison continuou parado olhando dessa vez para o nada, deixando a chuva cair e o molhar todo, seu celular apitou e o tirou do transe.
"Pobre Alison, sempre querendo o que é meu. Nunca te avisaram que assassinato é crime? "
Alison leu a mensagem e continuou parado em frente a entrada do bosque, no meio da rua sem ter rumo ou ação, a partir dali sua mente estava longe e sua pequena esperança de que um dia Caleb fosse voltar havia acabado de morrer. Um carro começou a se aproximar até parar e fazer Alison redirecionar seu olhar e ver seus ex amigos com o padrasto de Nicolas dentro dele. Os dois garotos desceram e seguiram em direção ao amigo que mexia apenas a cabeça.
— Ali! O que houve?! Por que você tá assim? — Alison tentou falar mas sua voz parecia ter desaparecido junto com sua esperança, e coragem. Nem pensava na mensagem, e sim em seu amigo morto.
— É o Caleb... — ele conseguiu dizer apenas essas palavras que foram suficientes para seus amigos entenderem que um carro funerário só podia estar fazendo uma coisa lá.
Seus celulares começaram a apitar ao mesmo tempo tirando qualquer um deles de qualquer paralisia causada por Caleb, e com o histórico de mensagens recebidas de manhã, Daniel e Nicolas não sabiam o que esperar dessa vez até lerem:
"A última carta sempre será minha, mas disso vocês já sabem! Que comece a caçada!"
A mensagem não era tão clara assim, mas era o suficiente para eles saberem que mesmo com a morte do melhor amigo suas vidas não iriam mudar, e Caleb morto ou não, ainda tinha uma última carta preparada em sua manga.

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Mal Intencionados: Culpados
Misterio / SuspensoEm Outubro de 2016 o misterioso desaparecimento do popular, Caleb Millstone, abalou a cidade inteira, e o principal suspeito é um assassino que se intitula "Lobo do Anoitecer" que nunca foi encontrado. Dois anos se passaram e agora, os três melhores...