Quando eu era jovem em anos
Tive um passarinho amarelo
Ele piava alto em todos os cantos
Incomodava o porteiro gordo, e o carteiro magrelo
Mas nada me encantava mais que o meu passarinho amarelo
Com o tempo o passarinho cresceu
Em uma ave formosa se tornou
Bicava e mordia se defendendo sozinha
Já não precisava daquele que a protegeu e amou
E então a ave voou
levando embora as lembranças daquele passarinho meu
Tão alto que mal podia se ver
Tão suave que quase não doeu
Mas esse pobre coração já abrigou toda uma floresta
E fez festa resvalecendo-se na dor
Tanto que seu ocre sabor, já não incomoda mais
Hoje, a ave que voou já não tem lugar no poleiro
Onde havia um espaço
Esse queimou-se por inteiro
Lágrimas de fogo o lavaram
Abrindo espaço para um novo sujeito
A decepção saturou as feridas
Anjos guerreiros guardam a fachada
daquele reino de amor,
onde se tornou ave ingrata
aquele meu passarinho amarelo,
meu pássaro em flor.