A Viagem

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Era dia nove de julho, uma quarta-feira, dia da minha viagem de intercâmbio para Los Angeles, California. Eu completaria 16 anos no vigésimo terceiro dia do mesmo mês, e, como presente, pedi esta viagem.
A ansiedade era evidente; minhas mãos tremiam, minhas pernas chacoalhavam e eu estava mais pálida do que já sou naturalmente. Mas minha mãe estava pior. Ela não parava de falar que a outra família poderia ser de psicopatas canibais que me raptariam e me comeriam viva, o que não ajudava em nada com a minha ansiedade. Por um lado, ela tinha razão de estar preocupada, ela estava prestes a trocar a filha que tanto amava por uma gringa desconhecida da mesma idade, o que soa bem assustador. Meu pai parecia totalmente alheio à situação, como sempre ficava em momentos estressantes. Ele aparentava extremamente calmo e, por incrível que pareça, feliz por mim. Tentava me acalmar fazendo carinho no meu ombro enquanto esperávamos a chamada para o voo.
Passei a maior parte do tempo acariciando um colar com um pingente em forma de cereja com duas pedras de cristal rosa e uma verde imitando uma folhinha. Ele tinha um grande significado para mim e me trazia segurança e conforto. Um bom amigo meu o dera quando tínhamos doze anos e disse que aquele colar significava que ele estaria comigo para onde quer que eu o levasse, e era isso que eu sentia.
Eu estava usando um grande parka preto por cima de uma regata rosa bebê de alças bem finas e de renda,-porque nos Estados Unidos é muito quente nessa época-uma calça jeans bem ajustada e botas baixinhas de couro marrom. De bagagem, eu não levava muitas roupas, mesmo que fosse passar 20 dias lá, mas levava muitos, muitos livros: desde John Green e Julio Verne até Marcos Zusak, Suzanne Collins e Veronica Roth. A grande maioria deles era em inglês-uma forma de praticar, eu acho-mas também tinha livros em português, como alguns livros da Paula Pimenta. Além disso, eu levava minha preciosa câmera, afinal, eu amava tirar fotos.
Em um som surdo, um apito soou indicando que todos o passageiros do voo para LA- California deveriam se dirigir imediatamente para o portão. Meu coração acelerou e começou a sapatear loucamente no meu tórax como na música Fred Astaire da Clarice Falcão. Apanhei minha bagagem de mão e "A volta ao mundo em oitenta dias",que eu estava lendo, e me despedi de meus pais. Não pude evitar deixar uma pequena lágrima rolar pela minha bochecha enquanto abraçava minha mãe, que chorava um rio, me cobria de beijos e dizia repetidas vezes que me amava. Ao abraçar meu pai, suas únicas palavras foram "Boa sorte. Se comporte. Eu te amo." Eu assenti levemente com a cabeça e caminhei até a entrada para o corredor que ligava o aeroporto ao avião. Quando me virei a única coisa que podia ver era uma grande porta de metal se fechando, aquilo significava que, a partir daquele momento, eu estava por conta própria.
O avião era gigantesco; havia três fileiras com três poltronas cada, elas eram acolchoadas e cada assento era equipado com um pequeno aparelho televisivo, no qual os passageiros poderiam assistir a alguns filmes. O meu assento era o 20A, próximo à janela, é claro. Me sentei e organizei minha coisas para a decolagem. Ao meu lado, sentou-se um casal de jovens, eram franceses, eu acho, porque ficavam falando "je t'aime" repetidas vezes. Após todos os passageiros estarem prontos e as portas se fecharem, o comandante avisou a todos que "a tripulação está pronta para a decolagem" e começamos a nos mover. Ah, como eu amo o momento da decolagem, na hora que o avião alcança a velocidade certa e o piloto levanta o nariz e saímos do chão é simplesmente mágico, se você se concentrar pode sentir que está voando e é...maravilhoso.
Foi um longo voo. Eu tirei várias fotos da cidade de São Paulo vista de cima até que ela desaparecesse e ficássemos em cima das nuvens. Eu estava prestes a vomitar de tão meloso que era aquele casal; eles não paravam de se beijar e dizer coisas românticas, eu suponho, um para o outro em francês. Tive de desviar o olhar várias vezes para não me sentir enjoada. Meu tempo foi basicamente ocupado por livros,-terminei dois-música e filmes. Em um certo momento as luzes da cabine foram apagadas e eu adormeci.
Acordei com a claridade vinda da janela, quando olhei, pude ver a praia de areia dourada da California, que era deslumbrante e, aos poucos, fomos nos aproximando do chão e aterrissamos. O aeroporto de Los Angeles era imenso, qualquer um poderia se perder lá dentro. Do avião podíamos ver grandes letras iluminadas que indicavam o aeroporto, elas formavam a sigla "LAX".
Cheguei à sala para pegar minhas malas e fiquei esperando a mala aparecer na esteira. Esse momento sempre me deixava aflita nas viagens, porque alguém sempre perdia a mala ou ficava plantado lá, durante horas, esperando a mala aparecer. Por sorte, as minhas foram as primeiras. Eu as apanhei e só então que me dei conta de que estava prestes a conhecer minha "host family" e meu coração começou a sapatear novamente. Tudo que passava na minha cabeça era "Como eles são?", "Será que são boas pessoas?", "Tomara que não sejam canibais!"
Quando eu saí procurei em meio a multidão e avistei quatro pessoas: uma bela mulher loira de olhos bem azuis que aparentava ter a mesma idade de minha mãe, um homem grande e forte de cabelos castanhos e olhos verdes, uma menina loira muito fofa que deveria ter uns seis anos e um menino-muito bonito- de cabelos loiros penteados para o lado, olhos azuis eletrizantes que segurava uma plaquinha branca com meu nome escrito " Marina Lima". Suas bochechas coraram ao me ver e eu acho que as minhas também.
A mulher, que eu acredito que era a mãe, foi a primeira a me cumprimentar, ela parecia muito feliz em me ver. Ela disse, em inglês: "Bem vinda! Estamos muito felizes de tê-la aqui! Meu nome é Carla." Ela estendeu sua mão e eu a apertei. Depois dela veio o homem, ele disse: "Olá! É um prazer em vê-la! Meu nome é William. Você vai adorar nossa casa!" De repente, senti alguma coisa agarrando minhas pernas e quando olhei a menininha estava aos meu pés rindo de um jeito cômico e disse: " Oioioi!! Você vai brincar comigo de boneca, né? Aiii vai ser muuuuito legal!! Meu nome é Emily!!" Eu respondi: "É claro que
vou brincar com você, hehe!" E, finalmente, a pessoa que eu mais queria que falasse comigo, me cumprimentou dizendo: " Olá. Meu nome é James. Então, você é minha nova irmã? Huuum...finalmente tenho uma irmã atraente para proteger." Minhas bochechas coraram e tive de esboçar um pequeno sorriso tímido, que foi retribuído com uma piscadela e um sorriso torto. Eu podia sentir as borboletas rodopiando em meu estômago.
~•~

Caro leitor,
Espero que esteja gostando da minha "fic", postarei o próximo capitulo em breve.
Obrigada por ler a minha historia!
Com carinho,
Marina Lima.😊

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