Eu estava tendo um ataque de pânico.
Chorava descontroladamente, quase sem ar, com as mãos suadas e sentindo o corpo pesar. Não era a primeira vez.
Era um dos dias que eu acabava por me entregar de bandeja ao desespero e à angústia, revivendo mentalmente os meus mais aterrorizantes dias ali, e ela notou isso. Afinal, ela era minha única companhia quando ele ia embora, era ela que me dava roupas, ela que me ajudava a lavar os ferimentos, a suavizar (mesmo que muito pouco) a dor, e fora ela que me ensinara como dormir sem fazer magoar minhas cicatrizes.
Ao ver que meu ataque de pânico, onde, não só minhas mãos, mas todo o meu corpo, tremiam, era mais grave do que todos os outros que já presenciara, ela deixou a limpeza que fazia do banheiro para poder me ajudar.
Eu tentava balbuciar algo que não me recordo ao certo, ao passo que ela pusera o dedo indicador sobre a boca, me sugerindo silêncio, pois não queria que ele escutasse aquilo, sabia que ele era completamente insensível ao meu choro.
Contudo, eu não conseguia parar. O turbilhão de emoções era mais forte do que o meu controle sobre elas, e eu me derramava em choro cada vez mais, até ouvir uma voz saindo de sua boca.
"Kristen" ela dissera.
Ergui a cabeça, num sobressalto, sem conseguir acreditar que ela havia me dito alguma coisa, pois, devido ao silêncio que ela sempre mantivera, eu sempre achei que ela fosse muda – nunca pensei que ouviria palavras saírem de sua boca.
"Kristen" repetira.
Eu franzi o cenho.
"O-O quê?" perguntei, dentre soluços. "O que quer dizer?"
"É o seu nome" sussurrara, como se ninguém além de nós, de forma alguma, pudesse ouvir aquilo. "É quem você é... Kristen."
"Nunca o deixe saber que você descobriu isso, menina, ou ele ficará mais furioso do que jamais ficou" continuou sussurrando, e eu fiz que sim.
Até que a porta se escancarara.
Ele estava lá. E ele sabia, é claro. Ouvira tudo.
Meu choro ao relembrar esta ocasião para a psicóloga fora sôfrego, pois eu arfava, tomava o ar e não o alcançava, ao recordar-me da cena que veio logo a seguir.
"Ele a machucou, Kristen?"
Engoli em seco, com os lábios trêmulos, ao pensar na resposta.
Senti a mão de meu pai segurar a minha mão, me dando forças para continuar o relato.
"Ele a espancou" a contei, com os olhos cheios de lágrimas. "E-Ele batia nela com tanta força que eu podia ouvir o estralo de seus o-ossos quebrando... E-Ela gritava, gri-itava muito, e, toda vez que eu tentava ir até ela, impedir que ele a machucasse, ele acabava me batendo também, e eu caía no chão."
"Eu tentei convencê-lo a me bater, tentei fazer com que parasse o que estava fazendo para deitar-se comigo, ou o que fosse, mas ele não me dava ouvidos, não importava o quão alto eu gritasse, não importava o quanto eu tentasse chamar sua atenção... Chegou uma hora em que ela caíra morta no chão do quarto, jogada em cima de uma poça de seu próprio sangue, e só então ele veio até mim."
Minhas mãos estavam trêmulas só de relatar a cena, mesmo que eu não apropriasse em palavras os espantosos detalhes que não conseguia tirar de minha mente.
"E ele a machucou também, querida?"
Mordi levemente meu lábio inferior, abaixando o olhar.
"Mais do que nunca."
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Olá, meus queridos leitores!
Capítulo barra pesada de novo, hein? :'( Confesso que esse foi um dos que eu chorei um bocado, e que me deu um monte de dor na hora de escrever.
Desculpa desculpa desculpa, não desistam de mim e dos meus capítulos tristes, melhores virão!
Não esqueçam de deixar suas estrelinhas ⭐ para mais capítulos.
E... é isto. Vamos fazer o Reino de Deus conhecido!
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Muito além de cicatrizes
SpiritualO que o sequestro de uma garota, filha de um rico empresário, tem em comum com o cristianismo? Num breve conto, descubra uma alegoria moderna do cristianismo que revela um lado espiritual que você nunca antes notou. *ATENÇÃO: o livro contém breves...