Observação Direta

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   Como ela não respondeu e ao invés disso, preferiu segurar um coraçãozinho de pelúcia que descansava sobre a cama, Michael levou uma das mãos ao coração,
sorriu e se apresentou :

   -Eu me chamo Michael Joseph e tenho 36 anos de idade. -Ele terminou a frase abrindo um sorriso maior ainda. observando que ela parava de apertar o seu coraçãozinho e agora o analisava.

   -"Michael ", -Ela repetiu, -não, não! Eu gosto é do Michael Jackson!

   - Do Michael Jackson é? -Perguntou ele com um ar divertido ao se aproximar dela e tocar a ponta do seu nariz com o dedo indicador.

   - Pare com isso! - Beatriz riu puxando um cobertor até cobrir completamente a sua face. Michael a descobrio, e com um gesto determinado, acabou por trazer quase todos os fios de seu cabelo para a frente.

   Então, Beatriz riu mais exageradamente, piscou mais ecessivamente, ao sentir que as mãos do doutor estavam sobre o seu rosto e procuravam lhe arrumar os cabelos atrás da orelha. . .

   Foi assim que Michael pois os olhos pela primeira vez , nos olhos daquela que seria a sua maior prioridade na vida!

   Não fosse pela interrupção de Debbie, que ao entrar trasendo nas mãos aqueles benditos curativos, quem sabe quanto tempo a mais ele ainda teria investido em contemplar, perdido naqueles olhos verdes, a sua própria alma que infantil há muito se continha, ávida por um bom jogo ou brincadeira?

   Beatriz se desvencilhou de suas mãos muito abruptamente, pegou seu coraçãozinho e pois se a caminhar de um lado para o outro obstinadamente. Michael olhou para ela e, sentindo não o que ela sentia, -provavelmente,- mas coisa pior, apertou a sua mão que de subto voltava a lhe doer e escorrer muito de sua realidade, -a única na qual deveria de fato residir ,-em forma de sangue.

- Com licença doutor, eu vim ver Beatriz. - disse a enfermeira ao se aproximar com um sorriso nos lábios que, logo desapareceu ao ver o estado da garota. - Ai, meu Deus! mais o que aconteceu com você? -Disse Debbie tentando segurar uma das mãos da paciente, que reagindo com violência, deu a ela a mais nítida impressão de não estar sentindo dor alguma!

   De que outra forma afinal, se explicaria aquele tapa! Que tão inesperadamente lhe fora dado?

   -Beatriz! - Michael a repreendeu quase que de imediato, segurando em seu braço, -Você não pode fazer isso com a enfermeira, não pode fazer isso com ninguém, está me ouvindo? - Ele olhou nos olhos dela que por um momento o haviam fitado, um pouco antes de se soltar e retornar à sua ecessiva caminhada, de um lado para o outro. . .

- Debbie me dá isso! -disse Michael, - Pode deixar que eu mesmo faço esses curativos. -Ele sorriu para a enfermeira, tentando lhe passar a mais absoluta confiança de que era capaz de lidar, sozinho, com a situação.

   Ela balançou a cabeça em um sinal afirmativo de quem queria mas que ainda assim, não podia deixar de se mostrar perplexa diante do ocorrido.

   Michael pelo contrário, ainda insistiu em manter um sorriso esperançoso como se dizendo, "Não se preocupe, logo ela vai melhorar!"

   Debbie sorriu enfim, assentindo qualquer outra idéia que lhe ocorreu, mas que da mesma forma, lhe imprimira verdadeiro renascimento espiritual!

   -Feliz aniversário B.! - Ela disse ao se afastar em direção a porta, deixando Beatriz aos cuidados do terapeuta que, munido de suas novas funções e encarregado da difícil tarefa de lhe ensinar também sobre qualquer regra de conduta, que a sua moral julgava ser por demais urgente naquele momento se sentara a seu lado.

   -Você não pode sair por aí, batendo em quem você não gosta, por mais razões que você o tenha para fazer. Esta me ouvindo mocinha? - Perguntou Michael que sem esperar por qualquer reação especial de Beatriz, segurou com cuidadosa atenção o seu braço [E realizando minucioso exame antes de colocar um pouco daquela substância para fazer o curativo. (Pois se os ferimentos de sua mão estavam doendo, os dela então. . .)]

   - Ai! - exclamou Michael ao terminar aquilo que chamou ,

"trabalho bem sucedido!" Quando fechou com um pouco mais de entusiasmo a sua mão que agora lhe doía mais do que tudo!

   Beatriz a segurou e com a mesma dedicação, (ainda que por um simples hábito de apenas imitar ) acariciou a com a mesma cuidadosa atenção, realizando minucioso exame antes de fazer um curativo que, ao terminar e sob o olhar atento do doutor, deu lhe um beijo de leve na palma da mão, a centimetros de um ferimento que ela lhe assegurava,

- vai ficar bom!

   A reação mais natural de qualquer coração despreocupado ali, deveria ser a de lhe agradecer os esforços e seguir em frente. Mas não para um terapeuta que conhecia todos os comprometimentos e habilidades de uma criança ou jovem com autismo. Ainda assim, havia uma questão que igualmente importante tinha que ser levada em conta, afinal, era o médico quem se emocionava ali? Ou era apenas mais uma criança que reconhecendo na outra as mesmas necessidades e tendo a mesma sensibilidade, não podia se manter indiferente a tudo o que de mais extraordinário ja lhe havia acontecido desde que chegara?

- "when you smile

All around me sunbeams Start to fall

Quando você sorri a minha volta,raios de sol começam a cair.

Midnight is so near Please don't disappear

Meia noite está chegando, Por favor não desapareça.

Now that you are here Stay awhile

Agora que você está aqui, Fique mais um pouco."

Michael cantava muito lentamente visando não somente elogiá-la, mas também avaliar se ela era de fato fã de. . .


-"Cinderella, I just know

That the magic slipper's Gonna to fit

Cinderella eu só sei que o sapatinho mágico vai servir

Cinderella, do not go You're my princess

I am sure of

Ciderella não se vá Você é minha princesa estou certo disso. . ."
[Cinderella Stay Awhile ]

   Completou Beatriz interrompendo-o, rindo com uma risada de quem queria parecer espontânea, mas que Michael também era capaz de reconhecer.

  -Você está mesmo imitando Mj? - Ele riu e finalmente enchugou a última lágrima, um pouco antes de ter que se abster da maravilhosa companhia da sua possível paciente, Beatriz.

   Por mais que Michael quisesse ajudar, ainda tinha dúvidas quanto ao responsábilizar se também pelo tratamento de um caso que ele voltava a repetir mais tarde a sós na sala de Victor :

-É muito complicado . - Tinha que ser sincero, embora estivesse disposto a se esforçar por tal paciente.


A autista e EuOnde histórias criam vida. Descubra agora