O cheiro de álcool se misturava com nicotina e se alastrava por cada canto, cada buraco por mais escondido ou pequeno que fosse.
Qualquer um se sentiria incomodado com aquele aroma não muito agradável, mas não ele. Jack sentia-se perfeitamente à vontade com aquele cheiro.
O som estava alto e o bar bem movimentado, havia fumaça por todos os lugares e as mulheres praticamente se esfregavam nos homens.
De canto de olho pode vê-la, sentada por cima de uma das mesas de madeira clara, em sua calça de couro preta e justa que marcava cada contorno de sua bela silhueta e uma blusa também preta e da mesma forma justa, com um decote que mostrava uma parte generosa de seu busto. Seios perfeitos que daria inveja a qualquer mulher.
Saiu do balcão e foi em sua direção com um sorriso torto estampado nos lábios.
— Olá Katherine.
— Oh, Olá Jack. – Katherine disse depois de soltar a fumaça do cigarro de forma muito sensual.
Seus cabelos ruivos formavam cachos que caíam sobre seus ombros em formato de cascata.
Jack teve vontade de puxá-la naquele mesmo instante e leva-la para o quarto de cima e possuí-la. Tinha certeza que qualquer homem lúcido naquele bar tinha a mesma vontade.
— Precisamos conversar princesa . – disse ficando sério de repente.
Katherine sorriu e sem responder levantou-se elegantemente e passou por ele indo em direção as escadas, a seguiu em silêncio enquanto ela subia os degraus, parando de vez em quando para verificar se ninguém os encarava.
Na parte de cima abriu a porta que dava para o pequeno quarto, onde havia apenas uma cama de casal, uma cômoda e uma pequena mesa de madeira com algumas garrafas e livros espalhados.
— Até que enfim sós. – ela disse jogando os braços ao redor do pescoço de Jack, tão perto que ele podia sentir o seu perfume adocicado.
— Kath quando iremos parar de nos encontrar as escondidas? – Jack perguntou fazendo com que ela se afastasse.
— Você sabe que é complicado August nunca aceitaria isso de bom grado.
— Ele não tem que aceitar ou deixar de aceitar nada. Se tem medo que ele faça alguma coisa não se preocupe eu... - começou dizendo, mas logo o dedo indicador de Katherine estava em seus lábios fazendo com que se calasse.
— Não posso arriscar-me a perder tudo o que conquistei. August não é um homem mau e de certa forma tenho uma vida agradável. Com meus pequenos luxos.
Jack estava a ponto de explodir. Caminhou até a pequena mesa e serviu-se de uma generosa dose de uísque, a qual tomou de uma só vez.
O líquido que desceu queimando pela sua garganta, fez aplacar um pouco de sua fúria.
***
Já estava tarde quando Lisa levantou-se da cadeira, suas costas doíam e sua cabeça latejava. Não havia conseguido escrever muita coisa e isso era frustrante.
O relógio digital a sua frente marcava que já passava das dezoito horas, o tempo havia passado sem que ela percebesse e só agora se lembrara do compromisso que tinha com Jordin.
Arrumou-se rapidamente, mas de forma impecável como sempre, despejou um comprimido efervescente em um copo com água gelada, que tomou em único gole e seguiu em direção ao bar onde sempre se encontrava com os amigos.
O mesmo letreiro piscando com algumas luzes faltando.
As mesas de madeiras eram alinhadas da mesma maneira e a escada de madeira também estava lá, é claro que Lisa nunca havia subido até a parte de cima então essa parte ela tivera que inventar tirar do canto mais obscuro de sua mente. Ela sorriu.
O barman era um homem calvo e de meia idade, com uma barriga bem saliente e pelos brancos que teimavam em pular para fora pelos vãos dos botões de sua camisa, seu nome era Charlie e embora fosse muito gente fina, nada tinha a ver com Jack, essa era outra parte que havia precisado inventar. E também jamais poderia ser comparado com Ramon.
— Lizz? – seguiu a voz e viu Jordin acenando sorridente tirando-a de seus devaneios.
— Oh olá. – disse jogando a bolsa por cima do balcão e deixando-se afundar na cadeira de madeira.
— Você está com uma cara péssima. – a sinceridade da amiga às vezes a irritava de uma maneira inexplicável. Mas já havia se irritado muito com Nicholls e não estava com ânimo para se irritar com mais ninguém.
— Estou cansada, só isso. – respondeu, percebeu que não havia conseguido convencer à amiga, Mas Jordin não respondeu, acenou para o homem que estava do lado de Charlie.
— Duas doses de tequilas, por favor, que minha amiga está tendo um dia difícil. – disse sempre sorridente. O homem disse alguma coisa, mas Lisa não prestou atenção e nem sequer olhou para ver quem era não estava afim e provavelmente Jordin estava interessada e quando a amiga estava interessada em alguém com certeza ela conseguia.
Haviam estudado juntas no ginásio e Jordin com sua beleza oriental exótica havia conquistado todos os garotos do time de futebol e conseguido o posto de rainha do baile de formatura. O que era merecido pensava Lisa.
― Toma! Você precisa disso. – disse colocando os dois copos na frente de Lisa que pensou um pouco antes de tomar a decisão, mas acabou virando os dois rapidamente.
Jordin bateu palmas, satisfeita.
― Agora me fale. Como vão as coisas com Nick?
—Acho que vou precisar de muitas outras doses como essa para conseguir responder sobre isso. – sorriu finalmente.
―Na verdade, o que eu acho é que você precisa de um homem. Um homem musculoso e com pegada. — suspirou — E que não exista apenas nos livros que você escreve.
Lisa riu.
—Não ria Lizz. Tudo bem que os personagens de seus livros viram febre entre a mulherada em questão de segundos, mas convenhamos que não são reais e você precisa de algo real. De um homem que te jogue na cama, na parede. – Enquanto Jordin falava se contorcia inteira.
― Obrigada, mas não quero ser jogada na parede, nem na cama. Já tenho problemas demais com meus personagens irreais que não posso aguentar um homem real. – Lisa respondeu.
— Você idealiza muito as pessoas Lizz, talvez por isso você esteja sozinha. – a amiga disse pesarosa e por algum motivo que Lisa desconhecia as palavras de Jordin lhe causaram certo desconforto.
― Acho que não compreendi.
Jordin apoiou os braços na mesa e impulsionou o corpo para mais perto de Lisa.
— Desde que você começou a escrever essa série você só tem olhos para Jack. É como se fosse uma obsessão.
Era estranho ouvir alguém dizer isso dele e Lisa riu nervosamente.
― Você ri? – Jordin perguntou aparentemente irritada.
— Jordin, Jack é um canalha nas histórias. Até hoje não entendo como um personagem assim pode fazer tanto sucesso com as mulheres. Ele é totalmente o contrário de um homem perfeito e mesmo se fosse perfeito é meu personagem... Sei que não é real. – Lisa respondeu tentando acalmar a amiga.
― Espero realmente que você saiba que ele não é real.