Capítulo 16 - Sombras do passado

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Na terra, o ar estava parado e abafado e Draco sentia-o como se fosse viscoso, arrastando-se sobre ele e o retardando, tornando o movimento com um tornozelo ferido e uma bengala ainda mais trabalhoso. Ao menos a paisagem parecia menos cheia de altos e baixos no momento e Draco ficou grato pelos campos e as árvores aqui e lá que se retorciam entre as montanhas e colinas por todo lado. Além do mais, rapidez não era mais o objetivo, ele se lembrou. O jogo novo era de observar.

Harry já havia encontrado um arbusto de espinheiro e os espinhos haviam sido cuidadosamente guardados no bolso de Draco com os outros ingredientes. Desde então, entretanto, a busca não frutificara durante a tarde. Draco estava frustrado e era óbvio que Harry estava nervoso. Além do nervosismo. Várias vezes, Draco havia tentado conversar casualmente, mas sem sucesso. Harry não se permitia o diálogo, ou ser distraído dos pensamentos obscuros que deveriam flutuar por sua mente e seu estado de espírito se exibia a cada movimento.

Enquanto Draco mancava com razão, Harry não tinha outro motivo além de pura exaustão para o jeito que seus tênis arrastavam no chão com cada passo. Sua cabeça poderia estar baixa porque estavam procurando por congorsa, mas Draco supôs que sua cabeça estava baixa pelos mesmos motivos dos ombros curvados. Os olhos de Harry tinham sombras negras sob eles e suas mãos estavam pensas ao lado do corpo ao andar. Os únicos sinais de que não era apenas fatiga o que ele sentia era a aparência contraída de sua boca e a compleição rija de sua mandíbula. Draco se perguntou se suas expressões estavam iguais.

Algumas vezes Harry gritou de animação, achando que havia encontrado as florzinhas azuis, apenas para olhar mais atentamente e perceber que era um caso de uma planta parecida ou apenas pensamento positivo. Aquilo só fazia o desapontamento cair mais pesado sobre ele. Depois do terceiro erro assim, Draco sabia que era hora de um intervalo, mesmo que não fosse por outra razão além de distrair Harry por alguns minutos.

"Harry, quer parar pra comer um lanche?"

Harry nem olhou para cima e respondeu com uma pergunta. "Você está com fome?"

Draco suprimiu um suspiro, sabendo que só havia uma maneira de fazer Harry parar. "Sim, um pouco."

"Tá bom, então."

Harry não perdeu tempo para procurar uma pêra da sacola e passou o saco para Draco, ainda sem fazer contato visual. Draco aceitou o saco, mas parou quando ia pegá-lo. Não podia agüentar o silêncio prolongado de Harry, mas conversa fiada não os levaria a lugar algum. Depois de encontrar uma maçã, Draco se acomodou e decidiu-se por uma aproximação direta.

"No que você está pensando?"

Harry apenas deu de ombros, o que fez a frustração de Draco aumentar.

"Harry, você não pode continuar assim. Vai falar comigo, ou vamos fazer um voto de silêncio pelo resto da viagem?" Esperou a resposta de Harry, esperando que a dose calculada de irritação e preocupação funcionasse.

Por um bom momento, Harry ficou encarando o nada, mastigando um pedaço de pêra. Ele engoliu e esperou mais um momento antes de falar. "Não tem muito do que conversar, eu acho."

Draco franziu o cenho. "Tem muito pra conversar e você sabe. Do que você falaria se fossem Granger e Weasley aqui em vez de mim? Você disse que confia neles, não é?"

Draco esperava algum tipo de reação. Um enfático "Claro, eles são meus amigos!" ou possivelmente "Você não sabe do que eu falo com eles e não finja entender." Ele ficaria satisfeito com uma explosão emocional sobre como Harry sentia falta deles. Não esperava a torcida para baixo esquisita da boca de Harry, sem ser uma carranca ou sem as sobrancelhas franzidas.

Eclipse (Drarry)Onde histórias criam vida. Descubra agora