A distância entre nós.

Capítulo 01

"Quando as pessoas menos esperam, tudo pode mudar ao redor delas. Inclusive pode aparecer alguém e responder aquelas perguntas que não tinham resposta alguma. E quando esse alguém entra na sua vida, nada mais voltará a ser como antes."

Alicia nunca foi como as garotas da sua idade. Com 15 anos as meninas de sua escola falavam sobre moda, sabiam se maquiar, faziam clube da Luluzinha e a maioria já tinha namorado ou estava namorando e ela, bom, ela curtia mesmo era ficar em seu quarto, naquele desarrumado que só ela sabia exatamente onde as coisas estavam. 

Seu comportamento preocupava seus pais, os quais viviam perguntando se ela não tinha amigos, porque nunca saia de casa ou convidava alguma amiga para dormir com ela. Eles não compreendiam que ela não era como as meninas da escola dela e, muito menos, que os amigos dela se encontravam através de uma tela fria de um computador que, para Alicia, possuía mais calor e sentimento ali do que ela sentia com as pessoas "normais" de sua escola.

Com uma rotina normal de toda adolescente de 15 anos, Alicia acordava ás 06:45 horas da manhã durante a semana, tomava banho, escovava os dentes, se arrumava, tomava café e o pai a deixava na escola. Por volta do meio dia ele a buscava, o caminho até sua casa era silencioso, trocavam poucas palavras. O almoço era uma hora importante para seus pais, almoçavam todos juntos, sentados na mesa da cozinha, seu pai Roberto, sua mãe Claudia e sua irmã mais nova, Rebecca. Após o almoço ela ajudava a mãe a limpar a cozinha, assim que terminava ela corria logo para o seu quarto, onde sentia-se em paz.

Alih, como era seu apelido, fez do seu quarto um mundo criado por ela e para ela, onde tudo poderia acontecer, só dependia da criatividade dela. Em dias de bom humor imaginava-se como a protagonista da novela das 08h00, em outros dias passava a ser investigadora do FBI para descobrir algo relacionado aos jogos ou as pessoas que jogavam com ela ou, então, era ela mesma, apenas curtindo sua playlist eclética.

Seu quarto tem as paredes na cor rosa pastel, rosa é sua cor favorita, mesmo ela não usando tanta roupa nessa cor. Em uma das paredes do quarto ficava a mesinha do computador e nela várias fotos de recordações e lugares incríveis que ela pretendia conhecer um dia. Na outra parede estava sua cama de casal, com um lençol branco e na parede de frente para a cama a sua televisão. Ela ainda tinha a sorte de ter um banheiro só dela, coisa que poucas meninas daquela idade tinham.

Era um final de tarde de quinta-feira, dia 13 de fevereiro de 2014, Alicia estava em uma conferência no Skype com uma turma de amigos, dos quais tratavam-se como uma família. Um dos seus amigos começou a adicionar várias pessoas na chama e ela não conhecia ninguém. Apenas alguns que foram adicionados ficaram na chamada conversando com eles. Alicia não se recorda de adicionar ou aceitar alguém nesse dia.

Os dias passavam como todos os outros. Acordar, ir para a escola e passar o resto do dia em seu quarto, na maior parte das horas jogando com seus amigos virtuais. Era ali onde Alicia se sentia ela mesma, se divertia, ria, brincava, fazia piada e sentia que pertencia a algum lugar.

Mas, tinha algo que acontecia dentro dela que não compartilhava com ninguém. Por mais que seu quarto e aqueles amigos a fizessem feliz, ela sentia um vazio que ninguém conseguia preencher. Ela já estava esgotada de sofrer por algo que não sabia explicar o porquê. Constantemente, perguntava-se até quando esse sentimento iria assombrá-la. Costumava deitar e deixar esse vazio remoer dentro dela até pegar no sono.

Os dias ocorriam normalmente e esse sentimento aparecia a noite, quase todas as coisas era a mesma coisa: Alicia colocava a cabeça no travesseiro e deixava o vazio tomar conta, algumas noites eram mais dolorosas do que as outras e as lágrimas acabavam escorrendo pelo seu rosto em uma falha tentativa de entender aquele vazio dentro dela.