Capítulo 1

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Era meio dia e o sol estava a pico. Não havia uma alma viva na rua. Eu estava lavando a velha lambreta do senhor Jones quando eles chegaram. Na hora, me lembou um filme antigo de farwest que meu avô costumava assistir, herança do meu bisavô. Eram cinco e me pareceram exageradamente altos; o chão tremia com os seus passos. Agora, vejo que a ideia de me esconder salvou a minha vida. Quando passaram por mim, percebi que não eram pessoas comuns. Na verdade, nem pareciam gente: muito musculosos, com partes metálicas misturadas ao corpo e, ao invés de palavras, o som que saía das suas bocas me lembrava animais. 

Quando entraram no bar do Mike, senti que algo de ruim iria acontecer mas, ao lembrar que o xerife Owen e seus ajudantes estavam lá e que sempre andavam armados, fiquei mais confiante e decidi dar uma espiada pela janela pra ver o que ia acontecer. O que eu vi me assombra até hoje: ao serem abordados pelo xerife e seus três ajudantes, todos de armas em punho, os forasteiros enlouqueceram e, hurrando feito loucos partiram pra cima de todo mundo. O xerife reagiu, disparando sua nove milímetros no peito de um grandão que parecia ser o líder do bando, sem causar sequer um arranhão. O monstro - e a partir daquele momento foi o único nome que encontrei pra descrever aquelas criaturas - , enfurecido, arrancou a mão direita do xerife, que ainda segurava a arma, dando um baita soco em sua barriga, jogando o coitado contra o balcão. Acho que ele morreu na hora. Quase ao mesmo tempo, os outros monstros começaram a fazer em pedaços, com suas garras, dentes e socos todo mundo que estava no bar. Tanto Mike, que sempre guardava uma cano duplo embaixo do balcão, quanto os ajudantes do xerife, tentaram reagir, atirando um montão de vezes contra eles, mas a única coisa que conseguiram foi fazer com que ficassem mais furiosos ainda.

O massacre não levou mais do que cinco minutos e, quando já estava no fim, lembrei de uma coisa que fez meu sangue gelar: O almoço ... o almoço na Igreja do reverendo George, onde estava quase todo mundo da vila e que ficava bem perto do bar. Com certeza ia ser o próximo lugar que os monstros iriam atacar. Seria impossível aquelas criaturas não ouvirem o barulho que vinha da Igreja ou, até mesmo, sentirem o cheiro da comida. Ou das pessoas ... pra mim, eles pareciam mais com bicho do que com gente.

Lembrando agora do que fiz, acho que foi loucura. Nunca fui lá muito corajoso e nunca tive muito jeito pra aventura. Não sei direito por que fiz aquilo: talvez por causa do reverendo George estar lá. Ele que, desde a morte dos meus pais, tinha me cedido um quartinho nos fundos da Igreja pra dormir e sempre me arranjava uns servicinhos pra fazer, mesmo sem precisar, só pra me dar uns trocados. Ou por causa da Karen, filha do fazendeiro Harold: a garota mais linda da escola e, pro meu azar, também a mais rica. Ela nunca iria olhar pro pobre Juan Rosa, o órfão solitário que morava nos fundos da Igreja. Mas, pensando bem, se eu evitasse o massacre, despistasse os monstros e voltasse inteiro, achava que teria alguma chance. Talvez seja isso que tenha me motivado. Não sei. Mas o fato é que, ao lembrar do que poderia acontecer com aquelas pessoas, uma coragem que nunca tive apareceu não sei de onde e, saindo do estado de choque em que me encontrava, montei na lambreta do senhor Jones decidido a fazer alguma coisa.


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