Naquela noite, Seulgi se levantou da cama num pulo. Em qualquer outra ocasião, ela sabia que teria se arrumado para ver Irene. Não porque tinha segundas intenções com o encontro, mas porque era vaidosa o suficiente para desejar estar, no mínimo, apresentável em qualquer situação. Naquele momento, entretanto, sua única preocupação era o estado da garota que ela sequer conhecia. Temia que algo acontecesse antes que ela aparecesse para resgatá-la. Apesar da pressa, a menina saiu com passos pequenos e foi cuidadosa ao abrir a porta para que Joy, a colega de quarto, não ouvisse e a atrasasse com perguntas.
Mesmo se locomovendo com o transporte público da cidade que era consideravelmente ineficiente, Seulgi chegou rápido ao destino. Entrar na festa não foi difícil para uma garota bonita como ela e encontrar uma garota bonita como Irene na multidão foi ainda mais fácil. A menina estava cercada por três rapazes em uma poltrona no canto da sala e sua expressão se iluminou ao vê-la. Ela parecia aliviada.
- Veio curtir a festa também, linda? - Questionou um dos rapazes. - É sua amiga, Irene? Vamos chamar ela pra nossa festinha particular.
- Eu sou a irmã mais velha dela. - Seulgi mentiu. Por alguns segundos, a mentira parecia um bom motivo pra afastar os rapazes. - Eu vim buscá-la.
- A gente não se importa. Você pode ir com a gente mesmo assim. - Outro insistiu. A jovem sentiu o estômago embrulhar. Estava nervosa e com medo mas, acima de tudo, estava com raiva. Não suportava a maneira com a qual alguns rapazes conseguiam ser tão incovenientes. A colega, por outro lado, estava embriagada demais para reagir a qualquer investida dos três.
- Mas eu me importo. E o nosso pai, que está nos esperando na porta, também se importa. - Irene encarou-a confusa com mais uma mentira.
- Nosso pai? Mas eu nem sou...
- Sim, nosso pai! - A garota interrompeu-a rapidamente. - Então vamos logo antes que nosso pai fique estressado e venha buscá-la por conta própria. - Seulgi puxou-a pelo braço e afastou-a dos outros antes que ela fizesse outra pergunta que ameaçasse estragar seu plano. Ouviu pelo menos dois deles insistirem e chamando-as de volta, então apressou o passo carregando a colega para outro canto da casa afim de despistá-los.
- Por que você inventou aquela história? - Questionou aos risos. - Acho que você tá mais bêbada do que eu!
- Eu não tô bêbada. - Revirou os olhos. - Tô sóbria o suficiente pra saber que caras como aqueles só nos respeitam se souberem que estamos acompanhadas de outro homem.
- Obrigada por me salvar então, minha heroína! - A garota se aproximou de seu rosto e Seulgi empurrou-a num reflexo.
- O que você ía fazer? - Questionou assustada.
- Eu ía te dar um beijo. - Sorriu se aproximando novamente. - De agradecimento.
- Você tá muito chapada! - A garota riu nervosa e afastou-a mais uma vez, de maneira mais sutil. Seulgi nunca faria algo com a garota embriagada. Aliás, gostava de pensar que não faria mesmo que estivesse sóbria, mas se questionava o motivo do nervosismo com a proximidade da outra. - Me dá seu telefone, Irene. - Ordenou tentando afastar da mente os pensamentos anteriores.
- Pra que você quer ele? Você vai me roubar? - Questionou quase que em um grito. Seulgi quis rir com a pergunta, mas notou os olhares assustados das pessoas ao seu redor.
- Claro que não. Eu quero ligar pra alguém que possa vir te buscar. - Respondeu de maneira similar para que todos pudessem ouvir também.
- Não liga pra Wendy, ela vai falar no meu ouvido por uma semana. - Resmungou. - Ela não gosta quando fico bêbada.
- Quem é Wendy?
- Minha melhor amiga.
- E você mora com quem?
- Com a minha mãe.
- Então é pra ela que eu vou ligar. - Disse pegando o celular da garota.
- Ela vai me matar, Seulgi.
- Prefere a Wendy?
- Nem ferrando. Prefiro os esporros da minha mãe. - Seulgi riu com o comentário e procurou pela mãe na lista de contatos da garota. O telefonema foi rápido e a mulher apareceu para buscá-las dentro de pouco tempo. Insistiu em levar Seulgi de volta para casa.
- Ainda não acredito que você saiu de casa pra vir até aqui resgatar minha filha. Ela precisa de mais amigas assim. - Comentou e a garota agradeceu com um sorriso. A mãe de Irene era surpreendentemente gentil. - De onde vocês se conhecem mesmo?
- Ahh, é uma longa história...- Seulgi olhou para o lado e notou a outra que havia pegado no sono no banco de trás do carro, deixando-a sozinha para explicar a história. - A Irene me mandou mensagem achando que eu era uma ex...- Um estalo a fez pensar que a colega poderia não ser assumida para a família e ela interrompeu a si própria. A mãe encarou-a confusa. - Uma ex amiga.
- Ahh, Irene não tem muitas amigas mesmo. Pelo menos não muitas que sejam uma boa influência. - Riu. - Fico feliz que tenha conhecido você. A não ser que vocês sejam...- A mulher hesitou por um tempo e Seulgi engoliu a seco. - Mais do que amigas?
- Não, não somos. - Respondeu nervosa.
- Não precisa ter vergonha se você for namorada da minha filha. Não era bem nessa situação que eu gostaria de conhecer minha nora, sabe? Mas eu queria que ela namorasse com uma menina decente dessa vez. - O comentário havia respondido o seu questionamento de segundos atrás, mas havia deixado-o ainda mais constrangida. Especialmente após Irene ter tentado beijá-la na festa.
- Nós realmente não temos nada. - Insistiu. - Mas eu também espero que ela encontre alguém que a faça feliz.
- E eu espero que seja uma menina doce como você. E que cuide dela tão bem como fez hoje.
Seulgi permaneceu quieta, respondendo a moça com sorrisos tímidos e envergonhada pelo resto do caminho que, para o seu alívio, não foi longo. Quando chegaram ao destino, não pode se despedir de Irene, que ainda estava adormecida. Sua mãe, no entanto, agradeceu mais uma vez o gesto da menina.
Seulgi adentrou o apartamento e ajeitou-se em sua cama em silêncio para evitar mais uma vez que a colega de quarto acordasse. Notou que já estava tarde e que teria que acordar novamente dentro de poucas horas. Tentou dormir mas seus pensamentos não a permitiam pregar os olhos. Continuava se lembrando da sensação que havia sentido com a tentativa de beijo da garota minutos atrás. Seulgi não havia se apaixonado antes. Não por falta de tentativa. Ela havia tentado conhecer outros garotos e garotas antes, mas ninguém nunca havia feito-a sentir todas as borboletas no estômago das quais ouvia falar nos filmes e livros. Então por que Irene, que mal conhecia, havia lhe deixado tão nervosa?
Aquela noite Seulgi passou em claro fazendo algo que não fazia com frequência: tentando entender o que estava sentindo. Revirou seus pensamentos em busca de cada anseio que desejava investigar. Refletiu sobre cada um deles como se sua vida dependesse disso. Entretanto, assim nas outras poucas vezes, não chegou a muitas conclusões.
Sua mente e seu coração continuavam sendo um enigma para si mesma.
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drunk [irene x seulgi]
Fiksi Penggemar- Acho que a gente desenvolve um certo afeto por bêbadas que mandam mensagem pra gente às dez da noite dizendo que nos amam - Essa é a coisa mais romântica que eu já ouvi