Querido Diário [ Séculos passam, histórias não.]

📖 CAPÍTULO 1 ✏

Querido Diário,

Meu nome é Julieta e tenho vinte anos. Sim! Vinte anos, acabei de completar mais um ano de vida hoje._____________
Mi mama me deu esta caderneta, (Mais grossa e um pouco maior que as que já vi, eu diria) que chamam no exterior de Diário.____________________
Eles acabaram de chegar de viagem, meu papa é cafeicultor aqui no Brasil e foi com a mama à uma reunião de negócios nos Estados Unidos. Ah, os Estados Unidos! Como eu queria ir com eles para o lugar mágico que tanto dizem ser.______________________
Não sei bem o que posso escrever aqui, já que minha vida é tão monótona quanto parece ser daí. Mama disse que as moças de lá escrevem sobre a própria vida e o que acham dela, mas que não mostram a ninguém. Nem a própria mãe, de início achei estranho fazer algo que minha mãe não estivesse supervisionando o tempo inteiro.______________________
Mas yo gostei porque agora não vou precisar falar para as minhas damas de companhia sobre a minha vida, já que é demasiado notório que elas contam tudo a mi mama._____________
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Ah como são lindas as moças do exterior. Mama me trouxe fotos de mulheres americanas, escondido de papai. Umas usavam trajes masculinos, o que deixava tudo mais divertido. Outras fumavam charuto, ou dirigiam pelas ruas feito homens. Achei tudo que vi maravilhoso e guardei as fotografias dentro de um caixote de botinas que ganhei de aniversário.______________
Não queria que ninguém as visse, principalmente papai. Ficaria enfurecido com a mama e brigariam por minha causa.              
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Papa me contou como foi a reunião com os exportadores e empresários,  (nomes bonitos...) enquanto mama me falava sobre os frascos de perfumes baratos e roupas de grife que aproveitara para comprar. Falou-me também das conversas feministas que  tivera com as mulheres das fotos.    
A moça da caminhonete, era filha de um barão e havia comprado tal peça para dar de presente ao pai. Mas foi justamente um dia antes do presente chegar nas suas mãos, que ele brigou feio com a moça, porque ela havia passeado sozinha na rua após o pôr do sol. Talvez papa me desse uns tapas que não me fariam sair mais nunca sem ninguém comigo, mas ele jamais faria comigo o que o pai fez com a pobre moça.           
Hellena foi posta pra fora de sua casa por seu pai. O barão da Fenda D'gua deserdou a filha, por ter gerado burburinhos que ela estava indo a casa de Tina. Mama dissera que ficou horrorizada com tamanha insensatez, já vira várias vezes mulheres que precisavam de dinheiro ou que foram vítimas de golpes machistas. Mas eu jamais saberia de coisas assim se mama não me contasse, já que nunca saio para lugar nenhum nesta cidade.   
Hellena fora rebelde mama confessara, mas ela conseguiu um emprego em uma cidade próxima e por dois anos juntou todo o dinheiro que podia ou ganhava com salário e hora extra.                   
Quando completara seus vinte e um anos, data que se tornava de maior ( mama não me explicara o que era isso, mas queria saber já que yo tenho a sua mesma idade.) Hellena voltara a sua cidade diferente, mudara o cabelo e usava uma camiseta sem mangas e deixando seu ventre a mostra. Uau, que coragem ela tinha, para completar ela usara uma calça masculina que a deixava com uma cintura estupenda.   
Usava óculos de sol, coisa que apenas homens podiam usar e saltos finos (novidade no lugar) que chamaram atenção quando desceu da sua caminhonete. ( que daria de presente ao pai. )
Queria ser como Hellena um dia, mas não pelos seus motivos. Pelos meus, que até agora não tenho nenhum. Mas talvez em breve.... Tenho aue ir, as minhas damas chegaram para me banhar. Até amanhã, querido diário.

Julieta de A. Albuquerque