Capítulo 4

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- POV Ana –

Era sexta-feira. Ensolarada, com o céu todinho limpo. Só o sol lá em cima. Só o sol iluminando o dia, só ele deixando tudo mais bonito. E o meu sol estava lá, naquele auditório, conversando com outros músicos que haviam sido contatados para o ensaio inicial da peça. Aparentemente, a orquestra seria mais feminina do que nunca. No máximo 4 homens estavam por lá. Nunca fiquei tão animada para algo como estava com aquilo. Nunca havia tocado em uma orquestra antes, sempre foi só eu e Mike, Mike e eu, fosse em estúdio ou no palco.

"Você veio!" exclamou Vitória ao me ver descendo a rampa que dava até à frente do auditório. Seus lábios logo esboçaram o sorriso mais bonito que eu já tinha visto na vida, e seus olhos seguiram o mesmo sentido.

"Eu vim!" respondi, colocando os dois braços pra cima e deixando o mesmo sorriso levar em meu rosto a felicidade que estava querendo deixar por lá.

"Essas são Nayara, Bárbara, Julia, Mariana, Tais e Thayna, São algumas das gurias que vão tocar na orquestra junto contigo", ela me apresentou, mostrando as garotas que estavam sentadas na beirada do palco. Só deixei um sorriso simpático levar o rumo da conversa e respondi com "prazer". Ela bateu algumas palmas e esperou todos direcionarem toda a atenção a ela. Seus olhos brilhavam até demais com o tanto de gente que havia por ali com um único objetivo: trazer som e vida para uma peça de teatro.

Ela nos direcionou a sentar nas cadeiras que haviam em cima do palco. Tudo organizado como uma orquestra. Enquanto eu estava a caminho, ela me cutucou e balançou a cabeça para a direita, mostrando o piano que havia no canto do palco. "Ali é teu canto, moça", sussurrou ela, segurando a risada. Ri de volta e fui até o banquinho. Me sentei e aguardei mais instruções.

Enquanto ela distribuía as partituras para cada um, ouvi um estrondo vindo do fundo do auditório. Só me virei para trás e vi Mike, parado, meio sem jeito, enquanto todos olhavam para ele.

"Desculpa! Eu sei que tô atrasado e tal... é... é isso aí" disse ele, com a mão na nuca, enquanto descia para vir até a gente.

"Logo o regente se atrasa, né Maicon?" disse Vitória, rindo.

"Você vê... o trânsito tá complicado" respondeu, enquanto arregaçava as mangas e se posicionava à frente de todos.

Vitória chegou então até mim, me entregou as folhas e sorriu gentilmente. Então se abaixou ao meu lado e chegou junto ao meu ouvido, ainda mantendo o olhar na orquestra semi-completa. "A gente podia sair depois, né? Tomar um café... sei lá". Respondi com uma risada e fiz um joinha com a mão. Ela então se levantou e disse que podíamos começar.

Tudo seguiu tão bonito. Ver diversos sons juntos complementando um ao outro era a coisa mais bonita de uma orquestra. Eu e Mike havíamos ido em alguns concertos, mas nunca foi tão bonito quanto tocar em uma. Eu lá nem sabia que ele poderia ser regente. Quando o ensaio acabou, ele veio falar comigo.

"Por que tu não me contou que ia participar?" indagou, confuso.

"Eu nem sabia que ia entrar... foi uma surpresa. Agora eu tô é confusa que você pode atuar como regente. Essas coisas você nem me conta, né?"

"Ah, coisas da vida. Fiz um curso a muito tempo. Ainda dá pra pôr em prática. Só dei uma passada aqui mesmo, Vitória me chamou ontem à noite porque não tinha achado nenhuma outra pessoa. Agora eu vou voltar pro estúdio e depois busco as meninas na escola, você também vem?" ele respondeu, dando algumas pausas para olhar o espaço.

"Eu vou no mercado. Te vejo à noite", ele concordou e deixou seus lábios encostarem nos meus rapidamente. E assim foi embora, deu um tchau rápido para Vitória e deixou o auditório para trás.

"Tu nem parece contente falando com ele", brotou Vitória do meu lado comentando enquanto ele estava se distanciando.

"Então... vamos?" a cortei, levantando e pegando minha bolsa.

a arte entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora