Capítulo 11

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< POV Vitória >

Terça feira. Rio de Janeiro. Chuva. Dentro do táxi, a caminho do Projac, a música com a minha voz favorita na terra estava tocando na rádio. Roda gigante o nome da canção. Ana Caetano o nome da dona. A mulher dos olhos mais bonitos e da alma mais linda que eu já tinha visto. Tudo que eu sentia por ela no momento era saudade. Saudade de poder pegar em sua mão e dizer que tudo ia dar certo. Coisa que não fazia a 5 anos.

Assim que cheguei, realizei toda a burocracia necessária para que pudesse ir ao programa. Devido ao prêmio que havia ganho pelo projeto teatral em comunidades de São Paulo, Fátima Bernardes me convidara para falar sobre ele em seu programa. E lá estava eu, sentada em uma das cadeiras dos convidados, só observando a movimentação no estúdio. Como sempre, uma atração musical era convidada para dar ânimo ao programa. No cantinho onde ficava a banda e o/a artista, só havia um banquinho e um violão posicionado logo ao lado. Só. Nada mais. Não tinha banda, não tinha nada.

Depois de alguns minutos ouvindo cochichos da produção, a cantora chegou. Morena, de estatura baixa e óculos redondos. Não era possível. Sem condições. É sério isso? Ana Caetano estava no mesmo lugar que eu, e iria aparecer no mesmo programa que eu, ao vivo, em rede nacional. Me levantei e perguntei a uma das mulheres da produção onde era o banheiro. A única resposta que recebi era que não poderia sair mais porque o programa iria começar. Retornei para meu assento e fiquei por lá. Tentei tampar o rosto com a mão e o microfone que estava nela. Ana já havia percebido minha presença por lá, e ficava me observando. Ela, sentada no banquinho, só sabia me olhar. E eu, sentada na cadeira, só sabia tentar fugir dos seus olhos de jabuticaba.

O programa começou. Fátima Bernardes entrou. Que mulher, meus caros. Ela logo apresentou Ana, que estava sorridente e extremamente feliz de estar ali – como sempre, parecia uma pipoquinha. E assim se foram as horas ali dentro, separadas por alguns poucos metros do amor da minha vida. Tão perto, mas tão longe. No intervalo, mandei uma mensagem para Eduardo e contei com quem eu estava. Ela tentou vir até mim, mas um dos garotos da produção a mandou retornar para seu banco porque o programa iria retornar. Graças a Deus.

Fátima então começou a falar do novo EP de Ana, que havia sido lançado na semana passada. Intitulado "Clichê', contava com 6 músicas. E uma delas, "Ai Amor", ela iria cantar naquele momento. Quando ela começou a tocar e cantar, com os olhos fechados e a respiração lenta, passei a perceber que aquilo era nosso. Prestei atenção em cada verso, prestei atenção no coração dela, que queria sair pela boca e dizer que ela sentia minha falta. Já que não podia vir até mim para falar, ela cantava. E era a melhor forma que ela tinha de se expressar. No meio da música, pude perceber algumas lágrimas escorrendo em seu rosto, assim como escorriam no meu. Abaixei a cabeça e fiquei assim por alguns segundos, até levantar de novo e perceber que seus olhos estavam clamando para que eu voltasse a olhar para ela. Olhei. Dei um sorriso um tanto tímido e respirei fundo. Pedi licença para a produção e saí correndo enquanto a câmera não nos filmava. Fui até o corredor do estúdio, e até ela terminar, fiquei ali, observando e tentando me recompor. Quando acabou e foi dado o intervalo, retornei.

< POV Ana >

Cantar a música que eu fiz para Vitória enquanto ela estava na minha frente foi difícil. Foi muito difícil. Fechar os olhos não ajudava, tentar respirar mais devagar não ajudava, nada ajudava. As lágrimas escorriam pelo meu rosto como nunca haviam escorrido antes, e a câmera ainda assim insistia em focar em mim. Focar no meu coração destruído e na minha alma que queria explodir naquele momento. No meu ouvido esquerdo eu conseguia ouvir meu empresário falando para eu tentar me controlar, mas eu não conseguia. Eu estava destruída da cabeça aos pés, ainda mais com ela ali, a alguns metros de mim. Eu abria os olhos e só enxergava ela, do outro lado, também chorando e ao mesmo tempo tentando segurar o choro.

Por um momento, me senti em outro planeta. Fechar os olhos e imaginar nós duas juntas foi a maior viagem que minha mente já havia criado. Eu sentia falta dela, e queria ela de volta para mim, queria que ela me ajudasse a achar minhas filhas, queria que ela me ajudasse a me achar. Por 5 anos eu me senti a pessoa mais perdida do mundo, levada pelo meio e levada pela fama. Eu não conseguia me encontrar em nenhum lugar, sofria momentos de pânico e desespero todos os dias. Eu só queria ela de volta pra me ajudar com isso tudo, pra me ajudar com o transtorno que a minha vida se tornou depois que Mike levou as duas melhores partes de mim.

O programa chegou ao fim, e eu finalmente pude me levantar livremente, dizer "espera aí" para meu empresário e ir até Vitória. Encontrei ela conversando com algumas pessoas e tomei coragem para me juntar a roda de conversação. Ajeitei meu cabelo e a observei. Ela falava sobre seu projeto teatral com tanto orgulho, com tanta paixão. Queria eu poder falar assim também sobre a minha carreira que estava a um fio de acabar. A roda se desmanchou e eu fui até ela.

"Vi...", falei.

"Oi, tudo bom contigo? Quanto tempo...", respondeu.

Eu me joguei em seus ombros, a abracei com toda a força e sussurrei: "eu preciso de você de volta". Ela me abraçou de volta e só deixou um "me desculpa" no ar. Me deu um beijo na testa e se foi. Ela se afastou de mim e não voltou. Eu sabia que ela sentia minha falta, mas não queria ficar comigo. Quanto egoísmo, sabe? Ela sabia que eu tinha passado por tanta coisa e ainda assim não atendia meu pedido de ficar comigo. Podia ser como amiga, como namorada, como parceira, colega, como quisesse.

Eu só queria ela de volta.

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Obrigada idguiaf (twitter) pela arte da capa do EP!

Fiquei sabendo que o wattpad não tá enviando as notificações, então fiquem de olho no meu twitter (dengocaetano) pra saber quando tem capítulo novo. Outra coisa: por favor, se vocês gostaram não esqueçam de comentar alguma coisinha e votar no capítulo, porque faz diferença.

Espero que tenham gostado, até já já!

a arte entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora