< POV Ana >
Entrei no camarim. As minhas duas meninas estavam sentadas no sofá, mexendo no celular enquanto esperavam que eu chegasse. Meu empresário estava encostado na parede, com mais duas fãs que haviam ganhado um concurso. Fiz questão de ir até as fãs primeiro.
Uma delas, ruiva, só sabia falar inglês. E eu estava um tanto quanto encrencada nisso, já que meu inglês não era dos melhores. Tentei falar algumas poucas palavras, agradecer o carinho e tudo mais. Tiramos a foto, e ela me entregou um presente. Era um álbum de fotos, com imagens contando a história da minha carreira desde o início. Haviam até mesmo fotos de Mike. Foi aí que deixei o álbum aberto em cima do sofá enquanto atendia a outra garota.
Terminado o momento com as duas, me sentei no sofá para conversar com Luísa e Helena, que ainda estavam um tanto quanto paralisadas. Assim que levantaram o olhar e me viram em sua frente, elas sorriram. Logo em seguida, apontaram para o álbum.
"O que nosso pai tá fazendo ali?", perguntou a mais nova, um tanto quanto confusa enquanto tentava alcançar o livro. Luísa foi mais ágil e pegou o mesmo, passando a observar as fotos. Depois de alguns segundos, levantou o olhar para mim.
"Você... e nosso pai?" indagou, também confusa.
"É...", virei as folhas e mostrei nossas fotos juntas. "Somos nós quatro aqui."
As duas ficaram me olhando, realmente muito confusas. Coloquei uma madeixa do meu cabelo atrás da orelha, e passei a mão no rosto. Respirei fundo, olhei para cima e as encarei.
"Eu sou a mãe de vocês, e vocês não sabem a quão grata eu tô por ter finalmente encontrado vocês duas", soltei.
"Mas como assim? E por que você não procurou a gente, não veio atrás?", perguntou Luísa.
"Eu procurei...", peguei na mão de cada uma. "O pai de vocês foi um nojento, ele escondeu vocês de mim, nunca quis que eu chegasse perto de vocês depois de um desentendimento entre nós dois."
"Mamãe!", disparou Helena, que se jogou em mim, entrelaçando seus braços em volta do meu pescoço. Meus olhos se encheram de lágrimas e só fui capaz de abraça-la de volta. Luísa veio em seguida, se levantou e me abraçou. Eu vivia por esse momento, e não conseguia acreditar que ele estava finalmente acontecendo. Foram 5 anos – quase 6 – para conseguir encontra-las novamente. Os 5 anos mais difíceis da minha vida, aqueles que me destruíram a cada dia que passava. Ficamos ali, nós três, abraçadas, até Felipe atrapalhar o momento e dizer que havia mais uma pessoa querendo falar comigo.
Me levantei, deixei as duas ali, sentadas de volta no sofá, e me virei para a porta. Quando ela se abriu, Vitória entrou na sala junto com Eduardo, que veio correndo até as meninas.
"Vi...", disse, e fui caminhando em sua direção.
"Ana...", ela respondeu, no mesmo tom de voz, e me abrigou em seu abraço casa. "Aquelas dali são Luísa e Helena, não são?"
"São... eu finalmente achei elas, Vi"
"E me achou também, porque eu não vou embora. Eduardo me contou tudo que a Lu contou pra ele, eu liguei os pontos até mesmo antes de vir pra Londres. Eu sabia que era ela, e eu sabia que iríamos conseguir fazer isso daqui acontecer", ela disse, enquanto me segurava junto do seu corpo com a mão esquerda, e com a outra gesticulava ao mesmo tempo que me contava a verdade.
"Você não vai embora mesmo? Promete?" ergui o mindinho.
"Prometo, Ana", ela colocou o seu dedo em volta do meu. "Eu sei que o que a gente teve foi muito curto, e que a gente nem teve nada, na verdade. O que tivemos foram erros meus, e eu prometo que não vão acontecer de novo".
"Eles não vão, porque não tem uma terceira pessoa pra estragar o que tem aqui dentro", respondi, indicando o meu coração com o dedo. Sorri, e deixei meus lábios serem atraídos pelos de Vitória.
< POV Luísa >
Na minha cabeça jamais havia se passado que Ana Caetano era minha mãe. Quando vi meu pai naquele álbum de fotos, eu realmente fiquei muito confusa. Ele e Ana haviam se casado, e eu não sabia disso. Por quanto tempo eu dormi? No momento que ela contou que ela era nossa mãe, minha cabeça fez aquele famoso blowmind. Demorei um pouco pra raciocinar, custei a entender o que estava acontecendo e o que ela estava falando. Seus olhos de jabuticaba nos encarando profundamente enquanto tentava contar a verdade era a coisa mais linda do mundo, e ela parecia um tanto quanto aflita.
No camarim, eu, Helena e Eduardo tentávamos entender o que havia acabado de acontecer. Enquanto explicávamos para Edu que Ana era nossa mãe, do outro lado da sala ela e Vitória, a mãe de Eduardo, conversavam. Tudo ficou no silêncio quando as duas se beijaram. Franzi o cenho e olhei para o menino ao meu lado, ainda raciocinando o que tinha ocorrido ali, na nossa frente. Eu tinha 15 anos, Edu, 17, e Helena, 13. Não haviam crianças pequenas, mas ainda assim ficamos surpresos.
"Isso... as duas... desde... quando?", indaguei.
"Um dia a gente conta direito", Vitória respondeu. Eu lembrava dela, talvez só um pouco, mas tinha lembranças da minha infância.
< POV Vitória >
Era bom estar de volta. Era bom perceber que Ana ainda estava esperando por mim. E era bom perceber que tudo estava um pouco resolvido. Luísa e Helena estavam de volta com Ana – pelo menos naquele momento – e eu e ela estávamos (talvez) resolvidas.
Quando nos beijamos, meu coração só disse "obrigada Jesus Amado, esse é o melhor momento da minha vida depois de anos sem uma mulher pra trocar saliva".
Depois dali, não sabia mais o que iria acontecer. Ela iria lutar pela guarda das meninas, e eu teria de apoiá-la, ainda que meu voo de volta para o Brasil fosse em uma semana e esse processo fosse demorar muito mais do que o esperado.
Eu estava ali para Ana a partir desse dia. E não iria abandoná-la novamente – mesmo que o embuste do Mike aparecesse.
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a arte entre nós
Roman d'amoura arte junta muitas coisas. junta vozes, mãos, pedaços de papel, pedaços de tecido. tanta coisa. acima de tudo, a arte junta corações. "o teatro é entrega, dedicação, humildade, amor, respeito, é magia, é energia, é a troca, é o jogo, é o outro, é o...