Quando meu irmão me ligou na hora do almoço dizendo que precisava falar comigo urgentemente, por um momento esqueci que o senso de urgência de Guilherme é questionável. Não preciso nem dizer que quase voei no pescoço do infeliz quando descobri que, depois de ter atravessado ruas e mais ruas do centro com esses saltos malditos, ele havia me chamado para que eu fingisse que era namorada dele.
Isso mesmo. Fingir. Ser. Namorada. Dele.
Eu amo meu irmão, com todo meu coração. Mas ele realmente precisa parar de se comportar como se tivesse dezesseis anos e começar a agir como o homem de vinte e três que é. E definitivamente precisa parar de me arrastar para as confusões que ele arruma. Não sei quem estava mais perdida: eu ou a coitada que ele estava tentando dispensar com esse teatrinho ridículo.
Então, quando meu telefone toca, mostrando a foto do maldito na tela, apesar de não querer vê-lo nem pintado de ouro agora, aproveito a distração para quebrar a tensão crescente em meu corpo com Eduardo me encarando profundamente com aqueles olhos cor de mel que estão fazendo meu estômago dar cambalhotas, enquanto toma o gole mais lento do mundo.
Coloco o copo na mesa e apanho meu celular, pedindo licença antes de correr porta afora.
— O quê? — atendo, talvez com mais grosseria do que o necessário.
— Eu sei que você tá brava comigo, mas também não precisa fazer assim. — Não preciso ver meu irmão para saber que ele está piscando seus grandes olhos castanho escuros, fazendo um bico forçado e uma cara de cachorro sem dono, que por algum motivo funciona com as pobres desavisadas que se envolvem com ele. Reviro os olhos. Guilherme tinha que andar na rua com uma placa pendurada no pescoço com um sinal de alerta.
— Eu estou trabalhando, Guilherme, o que você quer?
— Só ia oferecer uma carona pra casa se você ainda estiver no escritório, grosseria.
Argh! Respiro fundo, não é culpa dele se minhas pernas estão bambas nesse momento. Eduardo sempre foi o exemplo de profissionalismo, sempre me tratou com todo o respeito existente na face da Terra, e, com o tempo e proximidade, nossa relação evoluiu para uma amizade leve e bastante superficial.
E obviamente eu caí pela fantasia mais clichê de todos os tempos: imaginar a gente se enroscando em cima da mesa do seu escritório. Já era amizade, já era qualquer possibilidade de estar no mesmo cômodo que ele sem erotizar cada movimento seu.
Mas existe um abismo muito grande entre uma fantasia boba e a realidade e, no mundo real, esse aqui que a gente vive, todos os dias acordando antes das seis da manhã para trabalhar, ralando igual uma condenada, não existe a menor chance de eu me prestar ao ridículo de nem tentar nada com esse homem.
Porque, confesso, parte da atração vem do fetiche de chefe gostoso, sim. Não conheço Eduardo o suficiente para me interessar por nada além do óbvio, e o óbvio no caso paga o meu salário, então é terreno mais do que proibido.
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Conexão Cruzada [DEGUSTAÇÃO]
RomanceO que pode impedir o amor? Juliana sempre batalhou com unhas e dentes para chegar onde chegou: trabalhando em uma empresa em ascensão, com um emprego estável e muito bem pago, uma profissional exemplar que se vale de todo o tempo livre para mergulha...