Capítulo 09

16 3 0
                                    


-Desculpa... Eu te conheço?

-Faz um esforço pra lembrar!

Fiquei olhando para seu rosto tentando acessar todos os arquivos do meu cérebro. Se alguma vez na vida vi aquele rosto, com toda certeza ficou gravado em minha mente.

Passado alguns minutos, ele deu um suspiro e me deu um olhar triste.

-Só vou te perdoar porque eu mudei bastante.. Sou eu, João Vitor!

Continuei com a mesma cara.

-Ainda não lembra? Acampamento de verão. Nós tínhamos 11 anos e por eu ser baixinho e gordinho os outros riam de mim. Aí você e o André passaram a me proteger!

Voltei no tempo e me lembrei de um tal "João Vitor do acampamento". As outras crianças inventara que quando ele ficava com fome devorava as criancinhas. Quando não estava sozinho, estava apanhando, sendo humilhado ou comendo alguma coisa. Mas aquele na minha frente não parecia em nada com aquele gordinho cheio de espinha.

-Você...V-você cresceu!

-Bastante! Comecei uma dieta e um tratamento de pele, aí tudo ficou melhor. Tudo para ficar aceitável pra uma pessoa.

-Essa p-pessoa gostou?

-Não sei...você gostou?

-Ficou muito bom.

Ele sorriu e aproximou seu rosto do meu.

-Finalmente obtive minha resposta!

Quando seu rosto se aproximou mais, uma voz cortou a escuridão.

-Me procurando Breno?

Olhei e vi Jéssica. Sai de perto de João e fui até ela. João nos observou sério mas depois sorriu.

-Nos encontraremos de novo Breno. Brevemente.

João pegou o elevador, Jéssica suspirou aborrecida e me encarou.

-Você fica um pouco sozinho e acha um gostoso daquele?

-Eu não fiz nada!

-Porque eu cheguei antes! Nem pense em trair o Mauricio! Agora, vem!

Jessica me arrastou para uma pequena floresta no jardim. Ela me fez sentar encostado em um arvore, em uma clareira. A luz da lua iluminava nossas pernas, deixando nossos rostos na escuridão.

Ficamos quietos por um minutos. Jéssica tirou o cabelo do rosto e suspirou.

-Acho que eu tenho que dar uma explicação, né?

Sua voz saiu chorosa. Parecia que passava um filme em sua mente.

-Se você quiser.

Jéssica ficou quieta. Abaixou a cabeça e brincou com a grama.

-Eu sempre gostei de garotas. Sempre tive nojo de garotos. Costumava por um vestido curto e sair para paquerar, me passando por mais velha. Em um noite, conheci Anita.

Um leve sorriso apareceu em seu rosto, mas desapareceu rapidamente.

-Ela estava de vestido rosa. Dançava divinamente. Conversamos por horas, até eu rouba-lhe um beijo e depois a tive naquela noite e em muitas outras. Até o dia que ela descobriu que eu sou sua aluna e que ainda sou menor de idade.

-Sinto muito.

-Não sinta. Ela está certa. Se isso continuar, uma de nós vai sair muito machucada. Do jeito que tá, fica empatado.

Pela primeira vez, não estava com medo de Jéssica. Simplesmente sentia que conversávamos de igual para igual. Mas aí, uma duvida me surgiu.

-Mas se você é lésbica, porque todo mundo diz que você dormiu com os meninos do time de futebol?

-Você já sabe sobre Arthur?

Lembrei da cena que vi em meu quarto e concordei com a cabeça.Ela olhou para meu rosto e sorriu.

-Você viu, né?! Eu falei pra você não ir pro quarto!

-Podia ter explicado que eu encontraria "aquilo"!

Ela gargalhou alto. Vê-la sorrindo me deixou aliviado.

-Arthur já deve ter dormido com todos do time. Quando as pessoas começaram a desconfiar, eu assumi a culpa. Ele é um amigo e vou fazer qualquer coisa por ele. O mesmo vale para Mauricio.

-Isso foi uma indireta?

-Não. Foi um direta! Não quero que Mauricio sinta o que eu estou sentindo.

-Eu não vou magoar o Mauricio.

-Para seu próprio bem, é melhor não.

Jéssica se levantou, limpado a calça. Passou a mão secando os olhos e o nariz.

-Vê se liga pra ele. Já estou cansada das mensagens.

Ela saiu andando, me deixando ali sozinho. Me levantei e voltei para o meu quarto. Entrei silenciosamente para ver se tudo "aquilo", já tinha terminado.

O quarto estava vazio. Deitei no sofá e tirei meu celular do carregador. Quando liguei, tinha varias ligações perdidas e sms de Mauricio. Mandei um sms de boa noite, dizendo que estava bem e que amanhã ligaria.

Fui dormir e acordei com o corpo meio dolorido por dormir no sofá. O time inteiro estava disposto, me fazendo pensar que Arthur esteve "trabalhando" bastante.

O ônibus nos levou até um ginásio, as escolas que jogariam nos outros dias, assistiam nas arquibancadas. Olhei em volta e vi aquele belo sorriso. João acenou e me desejou boa sorte.

O jogo foi difícil, mas vencemos. No meio das comemorações, João se aproximou, puxou minha calça e jogou um papel dentro. Fiquei olhando ele se afastar, pensando se ele tinha percebido a elevação na minha calça. Fui até o banheiro e examinei o papel. Nele tinha o numero do celular de João.

Assim, passamos a trocar sms. O que não é traição, já que conversávamos coisinhas bobas. No fim do dia, mandava um sms para Mauricio dizendo que tudo estava bem.

No ultimo dia das semi-finais, João perguntou se eu aceitava um piquenique a meia noite. Fiquei um pouco incerto, mas aceitei. Esperei Arthur e os outros dormirem e desci. Encontrei João no saguão e fomos até a mesma floresta que Jéssica tinha me levado.

Comemos e rimos,lembrando dos velhos tempos. Mas mesmo assim, a sensação de está fazendo algo errado não ia embora.

Olhei o relógio e já eram 4 da manhã. Já estava meio embriagado e sai tropeçando. João pediu ajuda para levantar e quando segurei seu braço e o puxei, perdemos o equilíbrio e caímos. Começamos a rir, João se aproximou e ficou me olhando.

Quando dei por mim, sua boca macia já encontrava a minha. Sua mão já repousava na minha cintura e aos poucos, ele me puxava para si.

Reparei em como aquilo estava errado, empurrei João e sai correndo. Cheguei no meu quarto arfando e imediatamente peguei meu celular e comecei a discar o numero de Mauricio. Mas antes de completar a ligação, recebi um sms de João:

"Desculpe. Sei que foi errado beijar você daquele jeito. Mas não me arrependo.

Não adianta esconder, você também queria. Amanhã de manhã vai ser a despedida das escolas todos vão estar lá. Vem para o meu quarto e vamos conversar... Vou te esperar."

Naquela manhã, a professora bateu na porta nos chamando para a despedida das escolas. Arthur e seus amigos saíram apressados.

-Você não vem Breno?

-Ainda não sei.

A professora saiu e fiquei ali. Me levantei e fiquei parado na porta. A esquerda era onde ficava o elevador que me levaria para a festa. A direita, era e escada que daria no quarto de João. Fechei a porta atras de mim e fui para lá.

NÃO ERA VOCÊ QUE EU QUERIAOnde histórias criam vida. Descubra agora