A lua já estava tomando seu lugar no céu quando Elizabeth ouviu 3 batidas em sequência na porta de seu quarto, ela levantou-se em um pulo, assustada com a visita repentina, abriu o portal buscando a origem do som mas nada nem ninguém se esgueirava pelas sombras do escuro pátio que se estendia sobre seus olhos, estava fechando-o quando mirou algo no chão, enrolados em um pano marrom estavam algumas folhas, uma pena e um pote de tinta preta, além de uma carta selada. Liza procurou uma vez mais algum indício, por menor que fosse, do ser que passou ali, acabou fracassando novamente, desistiu e fechou a abertura, escorou suas costas sobre o portão rústico de madeira, segurou o envelope com ambas as mãos, aquela sensação era famíliar, a última vez que recebera algo assim fora para noticiar sua mãe da morte de Alexandro.A contragosto pôs-se a ler, poderia ser algo importante que ela não gostaria de perder.
"Cara Liza,
Gostaria de informá-la que pedi para um de meus subalternos colocar um tinteiro na porta do seu quarto, juntamente com esta carta e uma pena, a senhorita estava aflita pela manhã, pensei que uma conversa lhe faria bem. Faz muito tempo que mantenho, secretamente, o desejo de trocar correspondências com alguém e seria uma honra se fosse com você (se me permite assim chamá-la).
Obs. : Irei buscar sua resposta dentro de uma hora."
Ela levou aqueles presentes até uma mesa improvisada por sua mãe, feita com algumas toras de madeira e uma tábua espessa, ficava perto da parede para conseguir um pouco mais de apoio e não desmanchar, estava um pouco empoeirada e gasta mas serviria muito bem, pegou a pena e molhou seu cabo com o líquido negro, com as mãos trêmulas escreveu cuidadosamente outra carta, prestando atenção em cada palavra, em menos de meia hora a mensagem estava pronta, a garota selou-a usando a cera de uma vela acesa, que emitia uma luz amarelada, forte o bastante para iluminar todo o cômodo.
Também não demorou muito para passos ecoarem pela galeria, uma senhora, coberta por uma manta, caminhava com dificuldade, se agarrando nas colunas para sustentar-se, Sartori já estava esperando-a com o envelope em mãos, achou graça por um instante ao comparar a velinha com sua mesa, repreendeu-se ao perceber o quanto aquilo era errado. Quando aproximou-se o bastante, a mulher de cabelos brancos ergueu o braço para alcançar a epístola*, sua pele seca e enrugada denunciando sua idade avançada.
-Deseja que eu mande mais alguma coisa? -A voz rouca parecia querer falhar.
Liza olhou ao seu redor pensativa, até que avistou um jarro com água e algumas flores brancas dentro, um belo enfeite. Botânica era, por assim se dizer, a matéria favorita da garotinha, mesmo que nunxa tivesse frequentado a escola, Bianca havia ensinado-a muitas coisas, 90% de seu conhecimento era graças à sua mãe.
Ela pegou uma das plantinhas e entregou para a senhora, dando, antes dela sair, um último conselho sobre como agir na hora de entregar o "presente". A anciã retornou ao quarto de Pietro, como os de um felino seus passos não provocavam ruídos, os guardas que a avistavam não representavam riscos já que todos tinham muita carinho por ela, tanto por ser a mais debilitada quanto por tratar todos como netos. Para Rose, aquele castelo era repleto de jovens precisando da ajuda de alguém mais experiente, até mesmo o príncipe, ou melhor dizendo... Principalmente o príncipe, seus pais não ofereciam o mínimo apoio para qualquer projeto que ele pudesse propor, não conversavam com ele, o nobre acabava por não ter ninguém para ensiná-lo sobre o mundo. A infância e a adolescência geram marcas que duram vidas inteiras e um rei com elas pode ser perigoso para seu povo.
-Vossa alteza, está aí?
-Estou sim, o que quer?
-Abra a porta, a menina mandou que eu lhe entregasse algo.
O tintilar da chave batendo contra a maçaneta precedeu a abertura da porta.
-Ela...Me mandou algo?
-Isto... -A idosa retirou de sua manta um nenúfar com as pétalas ainda viçosas- Pegue, ela disse que o significado dessa flor é "coração puro" e que você é digno dela.
-Está dispensada, Rose, amanhã irei levar seu pagamento...
O jovem pegou a carta e sentou-se em sua cama, passou a mão sobre o papel, seu rosto estava quente, suas bochechas mais vermelhas que o comum, ele sorriu inocentemente, sentiu que estava aproveitando, pela primeira vez, um dos prazeres da adolescência. Ele estava apaixonado.
O príncipe balançou a cabeça tentando se convencer de que foi apenas impressão, com a curiosidade o atiçando ele deslacrou o envelope e o leu em voz baixa.
Caro Pietro,
Quero agradece-lo pelo ato extremamente gentil, gosto muito de escrever, assim como meu pai, a literatura sempre me encantou, é com prazer que aceito sua proposta, gostaria de me aproximar de você, sinto que podemos ser amigos, talvez até mesmo conselheiros. Peço, também, que aceite minhas sinceras desculpas pela minha indelicadeza em nosso primeiro contato e prometo não mais trata-lo daquela forma. Se puder me dar mais uma chance, talvez possamos recomeçar, afinal, a primeira impressão é a que fica, não é?Aguardo com ancioso fervor sua resposta.
Atenciosamente, Elizabeth.
Epístola: Carta
VOCÊ ESTÁ LENDO
Atenciosamente, Elizabeth: O trono de nenúfar (Livro Pausado)
Ficción históricaElizabeth Sartori, uma jovem de origem humilde, foi enviada ao castelo da família Giovani após a morte de seu pai, um dos maiores guerreiros da corte.Ela acaba assumindo o cargo de dama de companhia real, se tornando o braço direito da princesa, e...