Décimo Oitavo - Bad dream

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Até mesmo os ruídos a quilômetros de distância pareciam ser dentro de sua cabeça. Mesmo que já fosse fim de tarde e o sol não estivesse tão forte, a iluminação incomodava os olhos de Hoseok, que eram abertos lentamente. Sua primeira visão foi um teto manchado por culpa de uma infiltração. Foi sua única visão durante três minutos, até que ele criasse coragem para se levantar. O espaço que estava era apertado e um tanto desconfortável, o que o fez perceber de primeira que não estava em casa, muito menos em sua cama King size. Era apenas um sofá velho, as madeiras por baixo do forro já podiam ser sentidas, mesmo que estivesse muito bem forrado com cobertores.

Ao sentar-se percebeu o garoto seis anos mais novo deitado no chão, bem ao lado do sofá que estava. Seu braço direito cobria seu próprio rosto, tentando se proteger da iluminação; sua cabeça era apoiada apenas por um lençol fino e seu corpo não tinha nenhum cobertor para protegê-lo do frio. Hoseok se sentiu mal ao ver o menino assim, afinal a culpa era sua. E sim, ele se lembrava de tudo. Da manhã desastrosa que teve por culpa do pai, de ter deixado a mãe para trás mais uma vez sem poder fazer nada para ajudá-la; lembrava do café que abandonou na sua cozinha, e tinha certeza que havia deixado a televisão ligada; também recordava perfeitamente de ter vomitado nos pés de TaeHyung, e de ter sido despido e colocado em baixo do chuveiro – Seu rosto esquentou com essa lembrança em específico.

Hoseok estava com muita vergonha de si, e não entendia o porque de ter ido passar essa vergonha na frente do pobre TaeHyung. Poderia ter ido vomitar na casa de Jimin, provavelmente levaria um soco, mas seria menos desastroso. Ele já estava tramando um plano de fuga em sua mente, iria deixar um bilhete se desculpando e sairia de fininho enquanto o outro dormia. Depois compraria um presente para se redimir. Mas toda sua atenção foi roubada pelo menino no chão que começou a se debater e soar de repente. Ele chamava por sua mãe e um tal de Yoongi, parecia apavorado, sua expressão denunciava o quão aterrorizado estava.

- TaeHyung, acorda, é só um pesadelo. – Se ajoelhou ao seu lado e o balançou com cuidado tentando desperta-lo. – Tae Tae, acorde! – Chamou um pouco mais auto, mas ainda com o cuidado de não assusta-lo ainda mais.

TaeHyung despertou em um pulo, estava assustado e um pouco desorientado, ainda não conseguia distinguir se realmente estava acordado ou ainda delirava. O rosto que surgiu na sua frente não era o esperado, mas, estranhamente, era tão reconfortante quanto.

- TaeHyung, ta tudo bem? Você está se sentindo mal? – Perguntou preocupado com o garoto, que o olhava estático.

Pela segunda vez naquele dia TaeHyung o surpreendeu com um abraço, mas esse era diferente do primeiro. Os braços esguios procuravam segurança, seu corpo buscava um abrigo, ele procurava um guardião que o protegesse dos seus piores pesadelos. Mais uma vez Hoseok congelou surpreso ao ser envolvido pelos braços mais finos, mas sentiu seu coração apertar ao perceber que ele chorava e molhava seu peito com suas lágrimas enquanto escondia o rosto na camisa cinza que Hoseok usava. Em um gesto automático o mais velho o apertou com um braço, retribuindo o abraço e tentando lhe passar a segurança que buscava, enquanto com o outro alisava os cabelos castanhos de Tae.

- Elas estavam lá, hyung... As irmãs estavam lá. – Disse em meio a um soluço.

- Que irmãs, TaeHyung?

- As velhas bruxas! Eu estava no purgatório, e elas estavam me batendo e a mamãe e o Yoonie estavam olhando... eles só ficavam olhando. – Explicou agoniado.

Ele lembrava de cada detalhe, foi tão real para ele quanto está ali com Hoseok. O cenário era uma floresta morta. As árvores eram secas e ele sentia um forte cheiro de queimado. Ele estava preso em um tronco com as mãos atadas enquanto suas costas eram chicoteadas mil vezes seguidas pela freira que fazia o mesmo trabalho no orfanato. As Voz berrava alto, não só em sua cabeça, mas era audível em toda floresta. A mulher o ordenava a parar com aquilo, mas ele não sabia o que fazer. – Ele nunca soube. – Todo show de horror era assistido por Yoongi e uma mulher idêntica a foto de sua mãe, mas eles só assistiam, estatísticos e inexpressivos. Foi horrível.

Estigma - Por favor, perdoe-me pelos meus pecados | TerminadaOnde histórias criam vida. Descubra agora