He's her lobster

Chapitre 3

Depois de algumas garrafas de vinho vazias, todos já eram amigos. Conheci Geoff, o cara que acompanhava Shawn, e fiquei muito surpresa com o quanto as aparências enganam. Ele pode até ter fama de rabugento, mas eu tenho certeza de que depende da hora, do lugar e das pessoas.
Camila conseguiu deixar todo mundo bem a vontade, o que nos levou a várias rodadas de poker.

- eu desisto. Ele tem um FULL HOUSE. - Flora fala alto, jogando suas cartas em cima da mesa e se afastando do jogo. Charlie comemora e eu bocejo.

- vou na cozinha, querem alguma coisa? - não recebo resposta e saio no início de mais uma rodada, apenas ouvindo as apostas e os gritos animados.

Eram 23:30 em Miami, e eu estava sofrendo com o jet lag pois o último local de gravação foi na África do Sul e tinha me acostumando com o fuso sul-africano. Meu corpo estranhava já que normalmente eu deveria estar acordando agora.
Apoio meus braços na pia e fecho os olhos, me dou o luxo de descansar por alguns segundos.

- Você está bem? - Shawn fala ao abrir a geladeira.

- Jet lag. - lavo o rosto.

- Uma coisa que sempre me ajuda são exercícios físicos. Você tá sentindo o que? Depende da intensidade. - Encosta no balcão da cozinha, próximo a pia.

- Eu tô com dores na cabeça, no corpo e ... - Shawn abre sua cerveja e eu sinto aquele cheiro entrar no meu organismo, ser rejeitado na hora e querer sair em forma de vômito. Ele percebe e joga a bebida fora. - náuseas.

- É das fortes. Melhor você descansar, consegue dormir agora? - me entrega um guardanapo e pega um copo com água. O respondo só com o movimento da cabeça, negando. - Então vai pegar um ar puro.

- Valeu, Mendes. - passo por ele ainda usando o guardanapo, e me instalo na varanda. Inspiro e expiro. Inspiro e expiro. Inspiro e expiro. Inspiro e expiro.
Escuto a porta da varanda ser fechada e o vejo sentando longe.

- Então, quantos países? - tenta matar o silêncio que imperava.

- Eu não posso te falar, se não perco o emprego. - Ele ri fraco, apenas sendo educado. - Mas passei os dois últimos meses na África, visitei três países.

- Parece ter sido bom. - Não o observo mas pelo canto dos meus olhos vejo que ele admirava a vista, e eu também.

- Você sabe que não precisa ficar aqui, certo? Eu estou bem. Já passei por isso várias vezes sozinha. - Viro e olho meus amigos na roda de poker. - parece estar sendo divertido lá dentro.

- Não, eu vim porque não queria mais jogar e achei que gostaria de companhia. Pelo jeito, eu achei errado. - o silêncio impera de novo.

Era duro olhar para ele e lembrar da Claire, agora a dificuldade aumentava pois somava com a vergonha que eu sentia por conta da divulgação daquela live. Claire foi uma amiga que eu fiz no colegial, em 2014. Shawn foi descoberto por meio dos Vines e naquele período já tinha um bom número de fãs, minha amiga liderava um fã clube e nossa amizade durou um ano até que a perdi. Não me sinto confortável em falar sobre o que a tirou de mim, e menos ainda com o fato de que ela sonhava em vê-lo da forma que eu estava vendo naquele momento. A sensação era que eu estava roubando o momento dela ou sendo injusta por não contar a ele sobre ela e fazê-la conhecida. Eu ainda não era capaz.

- Obrigada pela ajuda, me sinto bem melhor. - resolvo dizer depois de toda essa reflexão e apenas engulo seco. Ele não responde, aposto que minha falta de interesse tinha ferido ego. - Vou para a Comic Con de Toronto. É lá que você mora? - ele assente, ajeita na cadeira e ri.

- Fez o dever de casa.

- Como assim?

- "é lá que você mora?" - imita minha voz de uma forma ridiculamente fina. - já sabia e fica com papo.

- Ah, me poupe. - falo séria, mas no fundo eu estava me divertindo. - Por que eu procuraria sobre você?

- Porque eu sou fofo e gostoso. - seu tom de voz era confiante e ao mesmo tempo brincalhão.

- Have mercy-  Eu me enterro na cadeira fazendo o rir.
Geoff o chama para atender um telefonema e os dois somem.
EU QUERO ME ENTERRAR. Agora eu tinha certeza de que ele tinha visto a live.