Caminho. O BRT está sempre em chamas. Cheio de pessoas e esperanças. Apertos. O sufoco de quem sai da baixada e cruza a zona norte. De metrô ou de BRT. Pra quem quer ser alguém melhor.
Dona Eliane.Jovem Senhora. Meio século. Sem perspectiva nenhuma. Cidade grande. Sonho de muitos, azar de poucos. Caí na armadilha da vida. Pousa no morro. Perto do Norte shopping e trabalha todo dia. Incrível. Sua lojinha. Camelô. Sua organização. Casa. Tudo era bem feito. Sentada no banco branco de plástico. Comprado a alguns anos pelo valor de cruzeiro. Seu marido, ouvia rádio todos os dias. Na esperança que houvesse a rolação de dados. E o locutor dissesse que seus números eram os daquela mega sena. Esperança. Ato que nasce com todo carioca. O do morro, que luta, sofre, e ainda tem coragem de subir a laje e comer churrasco e beber cerveja. Não é que estejam errados. É que é muito difícil você ver sua vida mudando. Os médicos. As ausências. Inúmeras. Culpa do Cabral. Burguesia. É um fluxo de culpa. É uma enxurrada de esperança. É o bloqueio. Carioca. Brasileiro não foi criado pra pensar. O salário das Forças armadas me impede de refletir. E meu primo advogado? Não. Tenho que correr atrás. Preciso entrar no curso preparatório de concurso público.
Chegou a estação da Alvorada. Ligação da Zona Norte, Zona Oeste e Barra da Tijuca. Um fluxo de mundos em um único ponto. Sou um peixe. Enlatada. Prossigo.
Vou sentada ao caminho para a estação do Jardim Oceânico. O subsolo. E a superfície. O novo e o antigo.
Senta-se uma mulher do meu lado. Conta sua histórias de amor. Amor.
Não era atoa que eu fosse a ultima a beijar. Meus amigos me zoavam. Mas eu me desinteressava por tudo que um beijo pudesse se tornar. Por tudo que a mocidade pode abandonar. Era pera, uva, maça ou salada mista. Perdi. Foi a sensação mais molhada e desengonçada que eu já tive. O último na buchecha foi fatal. Uma semana. Lavei até que tudo saísse de mim. Menos a vergonha de mim mesma. Da influência dos amigos. Da inocência roubada. Da dor das ofensas e do tempo que levei pra tal ato. Eu me bloqueei.
Não permitir sentir nada. Lavei tudo. Apaguei a memória. Esqueci da vergonha e dos detalhes. Arranquei a blusa do meu corpo. Tirei as vestes que me faziam lembrar o que eu queria esquecer. Tomei banho. Lavei a mim e a alma.
Limpei tudo que pudesse me incriminar. Retornei.Continua...
P.s: Eu escrevo em folha A4 e os capítulos que aqui seguem são diferentes do meu rascunho. Portanto, as partes serão postas com o mesmo nome de capítulo mas com uma continuação de um todo. Quando terminar em meu rascunho o capítulo em si, o nome do capítulo irá mudar. 😊
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Do Preto e Branco ao (Aprendendo A Ver) Colorido
PoetryA história se baseia em uma jovem, que passando por problemas em se reconhecer, verifica os erros que comete e começa a falar consigo sobre como enfrentar os problemas. Até mesmo se aconselha e vê em tudo ao seu redor uma oportunidade de cresciment...