Mais uma tarde. Mais uma esperança do dia. Menos um laço. Menos uma inocência. Só uma casca de vergonha. Voltei pra casa.
Já era tempo da minha estação chegar. Olho. Faltam 2 horas.- É que hoje tudo foi corrido. Meus filhos na escola. O almoço. Meu exame. Acredita que eu nem comi?- Diz a senhora, simpática, ao meu lado.
Comida. Frutas. Biscoitos. Resto de suco. Sabia que iria servir a alguém. Retirei. Sorriso. Gratidão. Abraço. Que sensação! Alivio. Renovação. Entendimento.
Jardim Oceânico.Ao fim da tarde, o metrô se encontra tão igual ao BRT. Não sei qual mais. Estatística boa. Sensação ruim.
- Esse prefeito nem anda nestes transportes. Sujos, apertados. Demorados. - Diz uma moça não mais velha do que eu, mas mais amargurada pela vida. Olhos castanhos tristes. Ombros caídos em cansaço. Hematomas roxos pelo corpo.
Vozes.
É tudo o que eu ouço quando lembro das tardes em que eu voltava da escola e ia pro meu quarto estudar. Já passava das 15h. Minha tia não havia chegado da rua. Meu primo na escola. Metal. Um som forte que entra no âmago. Batidas. Eu não conseguia distinguir quais eram o processo. Só havia caos. Corri pro elevador.
Sabrina.
Uma moça bonita. Cabelos longos e soltos. Emaranhados. Vestes sujas e rasgadas. Olhos vermelhos e vazios. As cores daquele elevador estavam escuros com tons claros. Pinceladas de manchas vermelhas. Borradas. Zique-Zaque de emoções. Talvez eu devesse dizer que está tudo bem. Eu queria poder encontrar palavras.
Ela enxuga as lágrimas. Retira do seu bolso um batom. Recomeça. Se ajusta. Se reforma. 10° andar. Entra um cara qualquer com um jeito qualquer e a encanta. Percebo pelo sorriso largo. Ele sequer olhou-a. Só mexeu na tela brilhante. De repente as cores clarearam num tom mais bizarro. Eu precisava descer. Térreo. Não sei bem o que vim fazer aqui. O ar me envolve.Estação Cardeal ArcoVerde. Uma praça. O ar limpo. Preciso prosseguir. Ônibus pra Niterói. Ponte longa. Medo.
Era um dia como outro qualquer. Central do Brasil. Idas e vindas. Fila de uma van.
-Vamos sentar na frente?- Diz meu ex namorado.
-Esperemos. Ainda tem algumas pessoas na nossa frente.Entramos. No meio. Estava indo pra festa da minha prima. Fazendo minhas unhas. Azul. Borrado. Manchado. Rapidez. Preces. Abaixei a minha cabeça. Tudo parou. Olhei. Vidros quebrados. Gritos. E ali, quando saí da van eu vi, no lugar aonde meu ex queria sentar, o único passageiro que estava ferido.
Cheguei no Terminal. Último ônibus. 15 min. Preciso de um banho.
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Do Preto e Branco ao (Aprendendo A Ver) Colorido
PuisiA história se baseia em uma jovem, que passando por problemas em se reconhecer, verifica os erros que comete e começa a falar consigo sobre como enfrentar os problemas. Até mesmo se aconselha e vê em tudo ao seu redor uma oportunidade de cresciment...