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     Nathaniel
    
     Três faltas no mesmo dia. Observo a folha de ausência sendo imprimida. O barulho mecânico da impressora é até relaxante... Faz me esquecer de todo o trabalho que essa criança me causa!
     Como Castiel pode ser emancipado dos pais? Ele não é maduro o suficiente para manter os muros da escola limpos. Como vou fazer o infeliz assinar a folha?
     O barulho para. Pego o papel ainda quente e reflito com um suspiro.
     Fudeu.
    Fui saindo do escritório para procura-lo, e acho a novata. Minha mente se ilumina por uma lâmpada. Caminho em direção da....Qual era o nome dela mesmo?
     —Ei....Malena793, você poderia me fazer um favor?
     —Sim, Nathaniel.
     —Gostaria de que você pedisse ao Castiel que assinasse esses papeis.
     —Porque você mesmo não pode pedir?
     — Normalmente, sim. Acontece que Castiel é emancipado pelos pais, já que estes vivem viajando.
     — Entendo.
     Ela saiu e eu entrei novamente no escritório esperando se minha jogada foi efetiva.

     Quando chego na escola procuro pelos corredores a novata. Talvez tenha sido errado jogar a responsabilidade nela, mas acredito que ela teria mais facilidade em conversar com ele. Finalmente a acho em frente ao armário.
     — Conseguiu?
     — Sim. Ele disse que ia te entregar.
     — C-como.... Você o viu assinando?
     — Ele disse que ia procurar uma caneta... Sei lá.
      ...
     Imaginei que seria difícil convencê-lo. E ver que foi "fácil" me faz desconfiar.
     Droga, Malena793.
     O que eu tentei evitar, era o que eu faria. Procurei Castiel pelo corredores e o achei somente no patio, no pé de uma árvore escutando seu "rocks".
     —O que é?
     —Onde está a lista?
     —No meu cu.
     —Você devia ser suspenso, e ainda irá pois não assinou a lista.
     —Meus pais não podem assinar e você sabe muito bem porquê.
     —.....Assine você e esquecemos disso....
     —Me obrigue.
     —Não vou.
     —Então qual o sentido de você estar aqui.
     — Pare com essa infantilidade, assuma seus erros e assine logo.
     — Peça para os meus pais — ele sorri e sai andando — Se conseguir, mande um "desculpa".
     Suspiro.
     — Como se suas desculpas valessem para eles.
      Não tive nem tempo de raciocinar. Quando consegui tal tempo, já estava sendo pressionado contra o muro, meu pescoço sendo esmagado pelo seu antebraço, minha cabeça doendo pela recente pancada no concreto.
     — Pare de encher o meu saco!
     — Talvez eu pare quando você não precisar mais de uma babá!
     Recebo um soco. Aparentemente, não gostou de ser chamado de uma criança dependente. Dou uma joelhada no seu saco. Ele se contorce caindo no chão.
     Olho para ele. Pensei em sair e cuidar dos ferimento em minha mandíbula. Ser maduro, como diz meu pai. Mas ele estava indefeso no chão. Minha consciência não estava mais no controle, a raiva já estava correndo nas minhas veias. Começo a chutá-lo. Acerto seu abdômen, seu braço, sua perna, sua nuca. Eu deveria parar. E parei. Não por vontade própria.
     Ele agarrou meu pé antes que pudesse chutar seu rosto e me puxou para o chão.
     — Meu deus! Nathaniel — Melody exclama na porta da escola.
     No meio dos espectadores, ela foi a única que correu para chamar ajuda. Os outros entravam no pátio e sacavam seus celulares para filmar tudo o que acontecia.
     Tentei me levantar e sair da briga. Estava causando muita confusão. Um representante de turma não poderia ser visto assim. Eu tinha acabado com mimha reputação.
     Antes que eu pudesse levantar ele se pôs acima de mim, me prendendo contra o chão, me socando. Eu não processava onde vinham os socos. Havia fechado os olhos. No escuro, meu rosto todo doía. Tentava me soltar mas ele era forte. Abri os olhos. Depois de tantos socos ele já estava cansado e suado, mas seu ódio não esgotava.
     Manchas pretas invadiam minha visão. No meio de todas as vozes gritantes, a clássica voz da diretora se sobrepôs.
     Os socos param.
     Eu realmente não entendo porque o óculos dela sempre entorta quando está nervosa.
     — Eu não acredito, Nathaniel! Eu não esperava que poderia fazer isso! VOCÊS DOIS! ENTREM AGORA!
     Ela expulsava a torcida enquanto Castiel saia de cima de mim.
     Passei a mão pelo rosto. Pelo pouco que conseguia enxergar, no meio da escuridão, via o avermelhado em minha mão, até sentir meu corpo desligar de vez.

     Abri os olhos, ofuscados pela forte luz acima de mim(ELE NÃO MORREU!!). Quando minha pupila se contrai, consigo ver onde estou. Ao meu lado vejo Melody, que segurava uma bolsa de gelo em minha cabeça.
     — Está doendo?
     Sim. Minha cabeça está dilatando. Meu olho está inchado. Minha boca tem gosto de sangue.
     — Não. Obrigada, Melody. — sorrio e me sento segurando o gelo em minha cabeça.
     — Tem certeza? — a enfermeira perguntava sem tirar os olhos do precioso candy crush em seu computador.
     Concordo com a cabeça.
     — Então vá a diretoria.

     Depois de desviar da Melody, chego na diretoria. Vejo o ruivo inconfundível sentado na cadeira.
     — Sente-se, Nathaniel — a diretora fala em um suspiro.
     Me sento. Olhando pra mesa, envergonhado, sem coragem de olhar para o seu rosto decepcionado.
     — Então... Vocês brigaram.
     — Tem certeza? Eu diria que estávamos cozinhando, senhora diretora — Castiel fala com um sorriso maldoso no rosto.
     — Castiel, agora não! — ela responde.
     — Tudo bem. Uma briga — ele começa a falar mais baixo, fechando a cara — Interprete como quiser.
     — Agora eu quero que me expliquem o que aconteceu e que me dêem motivos para não serem suspensos.
     — Diretora, eu reconheço meu erro e prometo nunca repeti-lo. Eu estava realmente muito alterado, além de que estava me defendendo.
     — Você chutou meu saco!
     — Eu... — me calo. Não tinha argumento. Estava errado. Depois do que fiz, só queria sumir.
     — Eu não quero saber de arrependimentos.
     Ficamos em silêncio por um tempo. Esfriando o clima da sala. O único calmo, por incrível que pareça, era Castiel, que olhava de braços cruzados pro relógio em forma de gatinho na mesa.
     O barulho da impressora começa a perambular pelo meus ouvidos. Ela pega as folhas que a máquina cospe e assina em um espaço. Nossa suspensão.
     Ela entrega.
     Olho para o documento pensando em tudo o que esse papel vai me fazer passar. Minha respiração acelera. Eu estou desesperado.
     Castiel dobra e coloca em um bolso interno de seu jaqueta.
     — Acho que não preciso explicar a minha decisão. — levanto a cabeça para olha-la — Perdi minha confiança  em você, Nathaniel. Depois do ocorrido não deve ocupar sua posição de representante de turma.
     — M-mas...mas, diretora, isso não vai ocorrer mais! E-eu só... E-eu estava...
     — NATHANIEL!! — a sua voz ecoa pela sala, calando a minha — Está decidido.

     Ao chegar em casa, bato na porta e ninguém atende. Ótimo. Ninguém em casa. Abro-a, fechando em seguida. Hoje, Amber disse que iria para casa de... De alguma amiga. Hoje ela não voltaria comigo. Ótimo. Entro e subo as escadas desabotoando a camisa. Abro a porta do meu quarto e paraliso.
     Meu pai está sentado na cama, com um cinto na mão.
     — Me ligaram da escola.

Não PossoOnde histórias criam vida. Descubra agora