8

6K 488 74
                                    

Castiel

     Não tinha ninguém no ginásio. O clube de basquete não tinha organizado as bolas, deixando-as espalhadas pela quadra. Apanho uma e arremesso para a cesta. Ainda bem que a retardada da Malena793 foi buscar o resto das bolas para mim. Treino durante toda a aula de geografia. Observo a bola entrando na cesta e encontrando o chão, quicando por ele.
     Eu não estava sozinho. Sinto dois braços me envolvendo em um abraço, me prendendo entre eles.
     Não precisava o enxergar, reconhecia aquele cheiro. Nathaniel.
     — Oi... — digo.
     — Bom dia...
     Sinto a ponta de seu nariz tocando o meu pescoço e o cheirando.
     Imaginava que ele estivesse na classe. Com certeza ele não estava faltando.
     — Acabou a aula? — pergunto.
     — Intervalo...
     Seus beijos correm pelo meu pescoço até o pé do meu ouvido.
     — Hmmm... Quer voltar para casa? — viro a cabeça para ele.
     — Hm-hm... Não posso voltar mais um dia. — ele fala entre beijos.
     Deveria adivinhar.
     — Veio fazer o que aqui?
     — Te ver apenas.
     Ele ergue a cabeça e sela nossos lábios em um simples beijinho. Levo minha mão a sua nuca, a acariciando, o envolvendo em um cafuné.
     — Já lanchou? — pergunto.
     — Não, vim direto para cá. — ele diz, me virando para ele e abraçando meu tronco.
     — Vamos então?
     Ele assente e beija meu maxilar.
     — Vamos... — falo enquanto envolvo seus ombros.
     — Uhum...
     Ele segura minha nuca e segue beijando meu pescoço novamente.
     Sorrio.
     — O que aconteceu para estar assanhado hoje?
     Falo enquanto vou nos levando até algum canto.
     — Hm... — ele ri com o nariz enquanto leva suas mãos para baixo de minha camiseta.
     — Nath, Nath... — o coloco contra parede e o separo para poder olhar um pouco para os seus olhos.
     Depois da troca de olhares ele me puxa de volta ao beijo.
     Ouço um estrondo e ele para. Nathaniel olha para o lado, de onde veio o barulho metálico. Na entrada do ginásio, uma barra de ferro rola pelo piso enquanto uma sombra sai da quadra.
     Pelo seu queixo, viro seu rosto para mim.
     — Ei...Quem te autorizou a parar?
     — Alguém nos viu... — seu olhar continuava cravado no portão.
     — Foda. — falo sarcástico.
     — Merda... — ele se desvencilha dos meus braços e se direciona a saída — Nos vemos mais tarde.
     Para mim não tinha nenhum problema, mas esqueço que Nathaniel tem um pensamento diferente. Ele ainda quer esconder.
     — Nath, não é como se ninguém daqui fosse saber — eu agarro sua mão revirando os olhos, impedindo que ele saia.
     — Eu deveria tomar cuidado... — ele diz levando uma mão à cabeça.
     — Nath...
     — Não deveríamos ficar... ficar...na escola.
     — Quem me puxou foi o próprio.
     — Eu sei... — ele diz com compunção — Não vou repetir...
     — Você tem três segundos.
     — O que? — Ele se confunde.
     O beijo, começando a contar os segundos. Um... Dois...
     Ele tenta resistir, mas se entrega. Três.
     — Vamos para o vestiário pelo menos — ele fala entre os beijos.
     — Melhor...

Nathaniel

     Na biblioteca tentava continuar a redação proposta pela Sra. Granger, mas depois de conseguir escrever apenas metade do mínimo de linhas sem saber do que falar e falhado no teste de todas as saídas, minha cabeça estava explodindo. Se eu continuasse esse texto, presumivelmente, não iria sobreviver. Suspiro pesadamente.
     Tudo o que eu não precisava era a agradável presença da Amber. Ela dispensa suas seguidoras e se dirige até mim, contornando a mesa até se sentar ao meu lado.
     — O que foi? — pergunto.
     — Eu só estou preocupada com você.
     Ah, claro. Preocupada.
     — Por que? — falo calmamente, colocando minha caneta no estojo e o fechando, decidindo que ia desistir do texto por enquanto.
     — Depois que papai te expulsou não tive mais notícias suas.
     — Hm. — fecho meu caderno.
     — Onde você está dormindo todos esses dias?
     — Na casa de Castiel — deixo meu material em um canto da mesa e me encosto na cadeira, disposto a acabar com a conversa o mais rápido possível sem demonstrar minha agonia.
     — Eu achei que vocês se odiavam...
     — Não mais.
     — Então agora vocês são amigos? — ela arqueia a sobrancelha incrédula.
     — Sim.
     — Até mais que isso? — ela fala com um quê de irritação em sua voz.
     Tento disfarçar meu incômodo. Tento fingir.
     — Quê?! N-não. Como assim?
     — Nath, eu vi! — ela fala nervosa, me olhando com a testa franzida.
     — Shhhhh!
     Ela cruza os braços. Infelizmente ou felizmente quem me vira com Casitel no ginásio fora minha irmã. Poderia ser pior, penso. Poderia ser um fofoqueiro mais ambicioso do que a Amber. Se é que esse alguém existe.
     — Você não podia fazer isso comigo!
     Droga... Eu esqueci que Amber era apaixonada por Castiel. Eu não acredito que fiquei com a paixãozinha de infância da minha irmã.
     — Eu tinha esquecido, Amber...
     — Acabe com isso, Nathaniel!
     — Amber... Não... — eu me sentia mal, mas não iria abrir mão de Castiel — Eu sinto muito, mas não sou um dos nossos pais para te mimar como fazem.
     Ela semicerra os olhos e cruza os braços.
     — E quando papai descobrir que é gay?
     — Ele não vai. Não vou leva-lo para casa e beija-lo na frente dele.
     — Não é difícil que ele descubra. — ela relaxa a expressão, levando seu o seu olhar para longe.
     ...
     — Amber... É sério?... — falo, não raivoso, mas desapontado.
     Eu a livrei de tanta coisa, mas eu deveria saber que Amber acha que é normal todos se ferrarem a favor dela. Ela sabe como vai me prejudicar se contar, mas ela não se importa. Ela só está pensando em si, como sempre. Eu fui idiota ao pensar que seríamos irmãos.
     — Você sabe o que ele faria.
     — Ele não vai fazer nada se acabar essa palhaçada. Não estou pedindo para cortar os pulsos.
     A penetrava com o olhar, tentando lê-la. Ela era sem noção mesmo.
     — Ele não vai ficar com uma pessoa como você do mesmo jeito. Não vai fazer diferença.
     — Vai ou não vai separar? — ela fala irritada.
     Desvio o olhar dela e suspiro pensativo. Eu não vou acabar com o que sustenta meu sorriso.

Não PossoOnde histórias criam vida. Descubra agora