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Vejo aquela fumaça escura se aproximando devagar, ao contrário do meu coração que dispara de forma sufocante, puxo o ar com mais precisão mas o cheiro de queimado é tão forte que me arde o peito, o nariz e os olhos. Quantas vezes eu terei que passar por isso? Quantas? Eu já não sabia mais se conseguia diferenciar o que era real e o que não era.

Ainda com meus olhos ardendo eu os forço a se manter abertos tentando com atenção analisar o quão perto a fumaça já estava, porém quando faço isto a única coisa que vejo é aquela pessoa, aquela pessoa que não consigo distinguir se é homem, mulher... Ou, se era mesmo uma pessoa. Sua imagem pouco da para ver por conta de toda aquela fumaça escura, mas o barulho e a aproximação do lado contrário me alerta, o diabólico animal que jamais entendo o que possa ser, se joga contra mim deixando o mais visível possível aqueles dentes pontiagudos e sua língua com mais de 30 centímetros.
"Amy..." Meu nome sendo pronunciado então, desaparece.






















Meu coração dispara, o ar tão pouco consigo senti-lo, e o aperto no peito... Minha nossa, me faz recuar, sentada escorada contra a cabeceira da cama massageio o peito com suavidade enquanto uso minha outra mão como apoio para minha cabeça que abaixo, eu deveria já estar acostumada com isto, eu deveria! Mas... Os pesadelos começavam a se tornar mais frequentes, mais reais, e isto nem mesmo os remédios estavam ajudando mais. Ainda na mesma posição olho para os remédios em cima da mesinha ao lado da cama "caramba" só consigo pensar isso, o quão inutil aquele tratamento andava, sinceramente...

Me arrasto para fora da cama sentindo o frio me cobrir por conta do pijama curto, sigo para o banheiro onde assim que acendo a luz joga água em meu rosto, isto de algum jeito me relaxa, mas, não some com as imagens que correm por minha mente, cenas do sonho que recentemente me atormentaram me faz perceber o quanto eles me deixam cada dia pior, olhar meu reflexo estava começando a se tornar difícil, sinto medo de aonde aquilo chegaria, minhas olheiras fundas, minha pele pálida e a expressão de alguém sendo sugada pelo tormento, deixava claro que o final não seria nada bom.

Estou parada na porta do quarto olhando para minha cama, vendo o quanto ela parecia ainda mais fria, o quanto ela parecia me aguardar para mais um pesadelo, não, não, só, não...

- Já deu por hoje. - Digo voltando para o corredor, meu apartamento era pequeno e por isso mal dei alguns passos e já estava na sala, como eu passava mais tempo na sala do que em qualquer outro cômodo, sempre havia um cobertor pequeno sobre o sofá, por isso apenas me deitei e liguei a televisão, em menos de segundos eu já me sentia muito mais segura, e o som da TV me fez relaxar, afinal só temos sonhos ruins se dormirmos, não é?

***

Minhas têmporas esquentam tanto que mal consigo abrir meus olhos, aos poucos vou forçando minhas vistas e não demorou nada em eu perceber o sol pela janela, junto a sensação de paz no silêncio, a sensação de ter dormido muito mais do que deveria me faz sentar imediatamente, olho ao redor procurando pelo meu celular, como ele caiu no chão na noite passada, eu não sei, mas assim que o pego e vejo o quanto estou atrasada, largo correndo para o banheiro.

Depois de pronta, mesmo parecendo que um caminhão havia passado por cima de mim por conta do meu cabelo ainda um tanto desgrenhado, e me atrasar ainda mais por conta do uber, cheguei na instituição, ao lugar aonde as noites mal dormidas e o estresse diário teriam que se resultar em algo muito bom no futuro, assim eu espero dela, a faculdade.
Eu sempre gostei de arquitetura, sempre achei incrível as plantas de ambientes imensos feitas da imaginação do ser humano ganhando vida, sempre gostei, mas como qualquer ser humano que praticamente gosta e acha interessante tudo, eu tenho minhas dúvidas, não sei se é a respeito do curso ou da vida que me parecia completamente banal, a sensação de não pertencer a lugar algum ultimamente anda cada vez mais presente em minha vida, acho que essa sensação é a pior quando você se vê na faculdade, afinal algumas pessoas esperam toda sua vida escolar para chegarem até este momento, e de repente se deparar com dúvidas sobre o que está fazendo... Parece monstruoso.

O Despertar Nas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora