O nome dela

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Os dias não eram muito diferentes, a excitação de ver os amigos ia caindo e se tornando cada vez mais normal. Como as primeiras semanas de aula não ia quase ninguém e ainda faltava alguns alunos se matricularem não acontecia chamada, então saber o nome dela por esse meio era fora de questão pelo menos até o carnaval, e eu também não conhecia ninguém que soubesse o nome dela e perguntar para algum professor seria suicídio social. Eu não sabia o que fazer, apenas fechei o navegador e abri o Combat Arms, entrei no Skype e logo me conectei com meus amigos na chamada e começamos a jogar e assim foi pelo resto da tarde. Na parte da noite minha avó já tinha ido para sua casa e meus pais já estavam a chegar. Dei uma pausa no game e me estiquei na cadeira de computador, a primeira imagem que me veio na mente foi ela sentada sozinha e logo em seguida me coloquei no lugar dela e pude sentir o sentimento que acho que ela estava sentindo, a solidão. Meus pais chegaram e falaram comigo, o mesmo “como foi na escola?” de sempre, porém quando eu fui responder o celular Motorola V8 de cada um tocou quase que em sincronia e com o toque do celular pediram para eu esperar, é ruim pensar que ligações são mais importantes que você. Logo após isso eles subiram as escadas e eu fiquei lá esperando para contar como foi meu dia na escola, acho que não tem nada pior que o abandono dos seus pais.
O dia virou, terça-feira era dia de educação-física e se as pessoas já não iam pelo fato do carnaval não ter acontecido ainda imagina no dia da educação física. Como teoricamente teríamos que praticar algum esporte o uniforme era diferente, as meninas usavam um short azul escuro colado de lycra junto com uma regata de algodão. Já os meninos utilizavam a mesma camisa regata, porém com short de tactel. Tinha dezesseis alunos e como nossa quadra era do outro lado da rua tínhamos que esperar o professor para atravessarmos a rua e assim ficávamos todos acumulados no portão de saída. Eu olhei para os lados e não consegui ver a menina nova e por conta disso logo desanimei, pensei que ela não iria vir por conta da questão do carnaval. O professor chegou e com ele veio ela, a menina nova. Meus olhos se arregalaram de surpresa e assim me animei novamente, atravessamos a rua e o professor pediu para pararmos na entrada da quadra.
O professor falou:
—Acredito que todos vocês já conheçam a Hanna e sabem que o par de óculos que usa é essencial para ela. Quando estiverem praticando algum esporte peço que tomem cuidado para não acertar os óculos ou derrubarem sem querer. Como hoje tem, hmm, dois, quatro, seis... Dezesseis alunos, vamos jogar queimada. Para quem não quiser jogar, tem xadrez e som na sala de dança, mas é pra dançar e não pode música com palavrão, alguma dúvida?
Balançamos a cabeça negativamente e logo em seguida ele disse para irmos. Alguns segundos se passaram e caiu a ficha, então o nome dela é Hanna, mas Hanna de quê? Eu não estava muito afim de jogar, então me sentei na arquibancada, como era de manhã a brisa ainda estava gelada e eu podia ouvir e ver meus colegas de turma rindo e arremessando a bola uns nos outros enquanto o farfalhar das árvores preenchia o som. Senti minha pele esfriar e notei uma sombra, virei assustado e era o professor, ele me perguntou:
—Está tudo bem? Não pode ficar aqui sem fazer nada.
Eu abaixei a cabeça e respondi que estava tudo bem sim e então ele disse:
—Se não quiser jogar pode ir lá na sala de jogos, a Hanna e a Bela estão lá.
Eu dei um sorriso sincero de canto de boca e fiquei alegre pela Hanna estar interagindo, logo após senti o professor bagunçando meus cabelos. Eu não podia ficar parado, e me sentiria mal se não fosse a sala de jogos, pois acho que o professor subentendeu que eu iria lá. Conforme eu ia andando pelos corredores frescos, meu coração ia acelerando e um frio na barriga começava a me tomar, pus minha mão esquerda na parede bege e parei de andar um pouco e refleti. Percebi que nenhum dos meus colegas mais próximos estava na aula e como só estava a Hanna e uma outra menina eu não tinha o que temer, tomei meio segundo de coragem e dei mais cinco passos, abri a porta de olhos fechados e disse:
—Com licença, desculpa interromper o jogo mas eu queria saber se posso jogar também.
Após esse momento de vergonha gigantesca eu ouvi:
—Acho que você pode, mas tem que abrir os olhos primeiro...
Então essa era a voz da Hanna, baixa e suave. Ao abrir os olhos e arregala-los de nervoso, pude enxergar a Bella deitada no banquinho de concreto dormindo e a Hanna sentada na cadeira de frente para o tabuleiro de xadrez, ela estava sozinha outra vez. Eu olhei para ela e a indaguei se poderíamos jogar e para minha surpresa ela respondeu negativamente e devido a tal resposta questionei o motivo dela não querer jogar e então ela disse: —Eu não sei jogar e também acho que você não teria paciência para me explicar por eu não enxergar direito, desculpe-me por não saber.
Eu achei aqui um tanto quanto triste e então disse:
—Eu jogava xadrez na minha escola antiga, e expliquei para vários colegas, não acho que vai ser difícil.— Dei uma risada para descontrair e ela sorriu com o canto do rosto e me agradeceu. Nós estávamos ali, naquela sala de paredes beges e chão esverdeado encerado. A luz do sol entrava pela janela iluminando e esquentando o cômodo, felizmente eu ainda podia sentir o farfalhar das árvores e um pouco da brisa que vinha pelo corredor por onde caminhei e adentrava pela porta meio aberta. Eu não me sentia só e estava feliz por ela não estar se sentido, eu queria que aquele momento durasse para sempre.

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