ALLYA
— O quê?! - quase berrei. — Como assim mudar de colégio? - indaguei.
— Vai ser preciso, Allya. - diz meu pai, sério. Mas dava para ver a tristeza em seus olhos.
— Queremos o melhor para você, querida. - imenda minha mãe.
— Mas... Sozinha...? - entro em desespero.
— Não se preocupe, pode nos ligar a qualquer hora. - meu pai assegura.
— E-Eu... - gaguejo, sem saber o que falar.
— Allya - começa minha mãe. - , sei que Califórnia fica longe do Oregon, mas é uma grande chance. Principalmente você que quer ser uma escritora. - diz, e eu reflito sobre isso.
— Tudo bem. Eu consigo. Além do mais, Califórnia é maravilhosa. - respiro fundo. Me concentrando nos pontos positivos da questão.
— Isso, amor. Você vai se divertir muito! - mamãe garante, passando a mão pelos meus cabelos castanhos.
— E você vai ficar bem. - completa meu pai, sorrindo.
— Ok - decido. — Eu vou fazer isso.
— Isso! Estamos tão orgulhosos! - comemora a mulher, me abraçando. — Seu vôo foi agendado para esse final de semana, às cinco da manhã. - informa.
— Cinco da manhã?! - choramingo. — É muito cedo.
Meus pais riram, relaxando perceptivelmente com meu péssimo hábito de dormir até tarde por passar a maior parte da noite lendo.
Sim, eu estava normal para eles, mas por dentro eu queria gritar: "Sua filha não quero ir para a porcaria da Califórnia completamente sozinha!"
Droga! Eu tenho dezessete anos porém isso não muda minha aversão à ficar sozinha. Tenho esse pequeno - ok, enorme - problema desde que me entendo por gente. Não sei porque, mas eu não consigo ignorá-lo de nenhuma forma. Pra isso, preciso tomar pílulas fortíssimas
Uau. Isso pode ser tão irritante quanto chocante ou amedrontador, sem dúvidas.
Cansada e me sentindo até tonta, subo a pequena e estreita escada que leva até um cubículo aconchegante, que, coincidentemente, é o meu quarto.
Deus. É muito para a minha cabeça já cheia. Eu estudo em um colégio do tamanho de uma migalha de pão comparado aos outros colégios metidos que tem aqui no Oregon.
Cansada de tudo isso rodeando minha mente, deito na cama e apago.
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— Allya... - uma voz distante me chama. — Allya! - insiste a voz.
— O quê foi? - balbucio, irritada.
— Você não mudou nada. - a voz ri.
— É mesmo? - murmuro, sonolenta do sono.
A voz que estava ressoando suave no lugar, se abre em uma risada aveludada e enrouquecida.
Estranhando, começo a me sentar na cama, querendo ver se era mesmo meu pai ali. O sono praticamente obrigava minhas pálpebras a se fecharem novamente, mas empurrei essa sensação para fora do meu corpo.
Enquanto esfregava os olhos afim de ver quem era, algo roça levemente em meu rosto. Era tão macio e suave que parecia uma pluma.
Assustada pelo toque imprevisto, abri os olhos de uma vez e a única coisa que consegui captar foi uma pena que vôou até minha cama, parando bem no meu colo e o balançar da cortina.
Fui até a janela para ver o possível ladrão que não sei como tinha entrado em meu quarto.
— Assustador. - murmuro para mim mesma.
A janela que antes estava fechada por causa do habitual frio do Oregon, soprava uma brisa gélida e monótona, fazendo arrepios serem projetados por meus braços e pescoços.
— Vou sentir saudades daqui. - suspiro, apreciando pela última vez a visão da minha cidade.
Já ia fechando a janela quando me deparo com uma flor no batente da mesma.
— Um flor? - indago para o nada.
Examino a mesma, percebendo quase instantaneamente que se trata de uma violeta.
A coloração da planta é extremamente viva, até parece cintilar.
Acendo a luz do quarto e observo mais atentamente a flor e a pena.
A pequena pluma tem um tom marrom, mas as pontas parecem brilhar em cobre.
É linda. - penso.
Pegando uma caixinha jogada na minha penteadeira, guardo a pena e a flor nela.
Antes de voltar para a cama e aproveitar meus últimos minutos de sono, fito minha imagem no pequeno espelho.
A primeira vista, uma garota normal do Oregon. Magra, pálida, cabelos castanhos, corpo esguio. Meu olhar vai subindo até encarar meus próprios olhos.
O violeta que cresce neles é inegável. Puro e singelo.
As vezes penso que meus olhos guardam algum segredo. Algum segredo profundo, assim como eles.
Antes de voltar a cama, lanço um olhar a flor que se encontra exposta na caixinha.
Sua cor é exatamente igual as dos meus olhos.
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❝ After All ❞ + Kth
Fanfiction"Tudo mudou quando conheceu Kim Taehyung, um anjo caído."