Capítulo 5 - Flashbacks e apocalipse

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Eu estava em um ciclo tedioso de pegar papéis e mais papéis, lê-los, separá-los e guardá-los em seus respectivos lugares - não era o pior trabalho do mundo, mas a cada momento em que era obrigado a ler mais documentos escolares eu sentia uma parte minha morrer de tédio. Literalmente morrer. Já devo ter perdido uns três anos de vida nessa última hora.


A única coisa boa nessa tarefa chata e tediosa é que, pelo menos assim, eu consigo me distrair dos acontecimentos de hoje... Mentira, eu já repassei tudo o que aconteceu no mínimo umas doze vezes desde que comecei a fazer isso - eu sou realmente horrível em reprimir memórias indesejadas.


Então, se já fiz isso doze vezes, posso fazer mais uma.


O que vocês precisam saber antes de mergulhar nas minhas memórias idiotas é que hoje foi um dia estranho. Muito estranho. Desde o momento em que eu acordei até há uma hora atrás, apenas coisas estranhas e levemente improváveis aconteceram.


Vamos começar pela manhã: eu acordei atrasado. Aí você pergunta: "Mas Nath, o que isso tem de estranho?" Tudo; eu nunca acordo atrasado.


Nunca.


Mas hoje eu não só acordei tarde, como acordei depois da Ambre! Vocês têm ideia de como isso é absurdo?! Eu nunca acordo atrasado, e nunca nesse mundo acordo mais atrasado que a Ambre.


Mas hoje aconteceu; eu acordei dez minutos mais tarde do que ela, todavia essa nem é a parte mais estranha: a parte mais estranha é que meu pai não brigou comigo.


Desci as escadas de casa correndo enquanto tentava abotoava a minha blusa corretamente (uma tarefa meio difícil quando você está tentando não cair de uma escada), passava as mãos pelo cabelo tentando deixá-lo ao menos apresentável e sentia minha mochila balançado para todos os lados desajeitadamente - não era uma visão muito gloriosa. Ouvi vozes na sala de jantar. Ótimo, eu estava atrasado e meu pai ia me matar.


Respirei fundo e andei em passos apressados até a mesa tentando afastar a sensação de que estava indo para a minha sentença de morte, arrumei meu cabelo mais uma vez e entrei no cômodo pronto para ouvir broncas e críticas, mas fui recebido com algo muito pior: um sorriso. Não era o sorriso mais caloroso do mundo, mas também não era um sorriso homicida. Era só um sorriso. Do meu pai. Para mim.


- Bom dia, Nathaniel. - Ele me cumprimentou e voltou a tomar seu café. Olhei para ele desconcertado; isso era algum tipo de pegadinha? Não era engraçado.


Na verdade era assustador.


Coloquei minha mochila no chão e me sentei, cauteloso, esperando meu pai mudar de humor a qualquer momento, ou talvez encontrar alguma câmera escondida... Olhei ao redor da sala, mas não achei nenhum dispositivo suspeito.


- Você acordou um pouco mais tarde hoje, o que aconteceu? - Minha mãe perguntou com um tom leve e gentil. Deuses, eu fui transportado para outra dimensão? É a única explicação.

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