Acordei com essa maldita claridade no meu rosto. Esfrego os olhos na tentativa falha de despertar completamente. Ainda tonto, me sento na... Onde estou? Olho em volta, reconhecendo meu quarto idiota, com coisas idiotas. Percorro os dedos em uma de minhas recentes queimaduras e só sinto algo pegajoso em meus dedos, olho pra baixo, e vejo meu tórax cheio de uma meleca verde, bem familiar. Cataplasma montanhês. Pelo visto, Átila passou por aqui ontem.
Átila é o meu tio, mas ele se intitula como uma espécie de "guardião", e sempre cuidou de mim... Bom, pelo menos desde que tinha meus dois anos de idade. Perdi meus pais quando era bem pequeno, e sabe, aniquiladores não tem boas expectativas de vida... Foram mortos na batalha, contra um mago. Segundo Átila, eles deram o melhor de si, mas antes de morrer, o mago os praguejou com uma maldição, e a morte foi inevitável.
Ele é o irmão mais novo do meu pai... Na verdade eu não entendo o motivo pra ele ser apenas um entulhador de objetos mágicos e um ótimo curandeiro, ao invés de ter seguido a tradição da família, que é se tornar um aniquilador, corromper as artes das trevas. Apesar de sua escolha, Átila me criou pra isso, me treinou e me ensinou as mil e uma maneiras de matar e derrotar criaturas malignas. Eu sou grato, e não imagino uma outra vida pra mim.
O cheiro de café invade meu quarto, meu estômago rosna em resposta. Me coloco de pé, e não sinto a dor alucinante de ontem, estou certo que ele conjurou alguns diagramas de cura, como sempre.
Vou pra cozinha, impulsionado pelo cheiro delicioso do café_ Jonas, já não era sem tempo! _ Átila disse, ainda de costas, enquanto mexia uns ovos na panela.
_Senti o cheiro_ Eu disse enquanto procurava uma caneca em meio aquela bagunça que só ele era capaz de fazer_ O que acoteceu por aqui?
_Ah, cheguei do Quinquilharia e você estava acabado em cima do meu sofá_ Ele se virou e continuou falando, enquanto despejava os ovos em um prato bem na minha frente _ Eu já disse pra você que os Dragões são criaturas espertas, não se mata um sozinho!_
Dei uma garfada antes de responder:
_Não matei um dragão sozinho. Matei dois_ Não pude conter o sorriso de satisfação.
Recebi o mesmo olhar de quando era criança, e me intrometia nas coisas do meu tio. Era o olhar de reprovação.
_ Você já é um homem feito Jonas, não é mais aquela criança que eu ensinei a batalhar_ Ele dizia me olhando nos olhos, olhos cor de avelã_ Você sabe o que esse mundo esconde, sabe o quão perigoso tudo isso é, e sabe mais que ninguém o quanto perdemos, entende? Simplismente tudo! Nossa família está morta por conta da estupidez e da maldita grandeza que eles sentiam, em achar que poderiam aniquilar qualquer coisa e a qualquer custo. Então por favor, não me deixe perder você Jonas, é tudo o que tenho._
Se virou e foi pra sala, como sempre faz depois do café, pegou a bolsa com seus artefatos e saiu. Foi pra Quinquilharia estudar tudo aquilo.
E eu fico aqui, terminando o meu café, com aquelas palavras latejando em minha mente, esperando pra ver o que terei que matar hoje. Pra me sentir aliviado.