Nunca haviam realmente dado um tapa na cara de Cristina. Mesmo em sua infância, quando era pega saindo escondida do castelo ao lado de seu melhor amigo Jamie ou quando estes resolviam perturbar a paz correndo pelos aposentos que compunham o castelo. Nem enquanto passava pelos primeiros anos complicados e rebeldes da adolescência, sua mãe lhe dera um.
Ao contrário de Diego, o perfeito, que nascera com um elevado senso de disciplina e entregava aos corações de seus pais o orgulho tanto almejado por eles, Cristina sempre teve a rebeldia fumegando em seu âmago.
Mas isso nunca a fez receber um tapa na cara.
Só que agora, ao ouvir a revelação de Bat sobre o modo como tratavam as pessoas vindas de seu reino naquelas terras, Cristina pensou que ganhar uma bofetada na cara doeria muito menos. Passara tanto tempo acreditando em histórias fantasiosas sobre a realidade daquele lugar, sem nunca ter se questionado realmente o por quê de tantos cavaleiros nunca terem regressado.
Ninguém foi atrás. Sua família, seus antepassados, as pessoas que por tanto tempo deram seu sangue pelo povo de Rosales, permaneceram ignorantes por décadas ou séculos. Deixaram milhares de homens serem mortos apenas pra nutrir macabras fantasias e nunca se questionaram o verdadeiro motivo do por quê ninguém ter voltado.
Um choque de temor pegou Cristina pela mão, lhe fazendo levantar. Mirou o rosto sério e revestido de hesitação de Bat.
- Vocês vão me entregar? - Cristina perguntou aflita.
- Não! - Maia se manifestou, grave e efetiva. - Nunca iríamos fazer isso!
- Então por que estão me contando isso?
- Não é óbvio? Nós não queremos que façam isso com você! - Maia ergueu-se da cadeira, as palmas sobre a mesa.
- Está tudo bem Cristina, até agora só nós sabemos sobre a sua vinda. - Disse Bat - Ninguém irá vir atrás de você. Prometemos.
Cristina se sentou, confusa e nervosa. Ela podia ser da realeza, ser a primeira ao trono de sua mãe, mas não era capaz de lidar com política. Não era capaz de lidar com o que estava descobrindo. Sua mãe tinha razão, ela nunca iria conseguir governar Rosales sozinha.
Maia seguiu o passo.
- Não se preocupe, você pode voltar para o caminho em que veio sem nenhum problema. - Assegurou Roberts.
Cristina num primeiro momento pensou que deveria fazer isso mesmo, porém, ela se lembrou do porquê foi embora e do mutirão de soldados que a esperavam do outro lado da floresta. Voltar significada se ajoelhar e acolher de bom agrado o destino que criaram para si.
- Eu não posso.
O casal olharam-na confusos.
- Eu menti para vocês. - Revelou. - Eu moro em Rosales, o reino depois da floresta, e... - Engoliu em seco. - E eu não posso voltar para lá, por que estou fugindo de uma certa "prisão".
Se alastrou um longo período silencioso na cozinha, em que tanto Bat quanto Maia exibiam um semblante estupefato, tentando digerir a meia verdade vergonhosa que a garota contara.
- Você é um criminosa? - Maia perguntou em um sussuro.
- Não! - Cristina quase esbravejou. - Quer dizer, não foi culpa minha. - Interpôs. - Acreditem!
- Se não foi culpa sua, então por que estava presa? - Questionou um Bat severo e desconfiado.
- Não é esse tipo de prisão. - Cristina se apressou - Não literalmente, mais eu sinto como se fosse. Sou forçada a ser alguém que não sou, a fazer coisas que não quero, é uma cadeia de mentiras. Por favor, acreditem, eles iriam me mata ali dentro!
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