8- No hospício parte I

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Acordei num local diferente. As paredes eram brancas, a cama era alta e os lençóis cheiravam a lavados. Este quarto ou lá o que era tinha apenas uma cama, uma janela que estava fechada e uma mesa-de-cabeceira. Fui até à porta para tentar encontrar alguém conhecido, mas esta encontrava-se trancada. Insisti, dei-lhe pontapés e murros, mas nada. Desisti. Ouvi passos acelerados a vir em direcção ao quarto, por isso voltei-me a sentar na cama e esperei que chegassem.

“O que aconteceu?” Perguntou um senhor com uma bata branca que penso ser médico ou enfermeiro.

“Estava a tentar sair. O que estou eu aqui a fazer?”

“Isto é um centro de reabilitação. Vais ter de ficar aqui durante algum tempo para que fiques bem.”

“Mas eu estou bem. Eu quero sair daqui.”

“Não podes. O que tu fizeste foi muito grave. Tu podias-te ter matado!”

“E? Qual era o mal? Acha que vale de alguma coisa viver?

“És uma rapariga nova. Tens a vida toda pela tua frente. E há muita gente que te ama.”

“Quem me ama? A minha mãe morreu, o meu pai abandonou-me e é impossível namorar com a pessoa que amo. Acha que sou feliz? Acha que alguém me ama?”

“Não digas isso. Vais ver que quando menos esperares a tua vida vai dar uma volta de 360 graus.” Disse o rapaz. Ele parecia muito convencido naquilo que dizia.

“Como pode ter tanta certeza disso?”

“Porque eu já estive no teu estado. Eu já estive internado nesta clinica.”

“Já? Porquê?”

“Isso agora não interessa, mas eu fiquei bem. Vais ver, tu ainda vais recordar esta clínica com muito amor.”

“Duvido.”

“Bem, vou-te apresentar a clínica.” Esticou a mão e eu agarrei-a. Direcionou-me até a uma sala onde estavam algumas pessoas a jogar às cartas ou a ler revistas. “Aqui é a sala de estar.” De seguida levou-me até à cantina e mostrou-me também onde eram as casas de banho. Voltei para o meu quarto e abri a primeira gaveta da mesa-de-cabeceira para explorar. Nem queria acreditar. Alguém trouxe o meu estojo e o meu bloco para aqui. Tirei-os de lá. O estojo tinha todos os meus lápis de carvão e as minhas borrachas e o bloco ainda tinha alguns dos esboços que tinha começado há uns dias. Sentei-me na cama e continuei um deles. Desta vez algo mais simples, um pássaro pousado na mão de uma rapariga. Não me perguntem porquê um pássaro, mas acho que eles são magníficos. Para além de terem uma “voz” lindíssima, é fantástica a maneira como eles voam e vivem a sua liberdade.

Acabei o desenho. Estava perfeito, era aquilo que eu pretendia que ficasse. Coloquei a minha assinatura e a data no verso e voltei a arrumar tudo na gaveta.

Sentia a falta da minha cama, do meu quarto e das minhas coisas. Esperava que a minha mãe me viesse visitar ou o Zayn, fiquei desiludida. Já eram 8h00 da noite, já não iam lá. Alguém bateu à porta e dei permissão para a abrir. Era o enfermeiro.

“Vamos jantar?”

“Não me apetece. Obrigada.”

“Tens de comer. Anda lá ou é preciso levar-te ao colo?” Disse com um sorriso na cara.

Tive mesmo que ir. Chegamos àquela sala e sentei-me ao lado de um rapaz com o cabelo verde. Gostava de ter o cabelo de uma cor diferente, mas a minha mãe nunca me deixou.

Ele olhou para mim, mas continuou a comer. O jantar era peixe. O que eu mais odeio na vida a seguir à sopa e aos legumes, mas de certeza que me vão obrigar a comer.

“Aqui tens.”

“Obrigada.”

Comecei a comer. Não era mau de todo, mas preferia um bife com batatas fritas ou pizza.

Fui para o meu quarto e o enfermeiro foi lá levar-me uns comprimidos para tomar.

“Como te chamas?” Perguntei.

“Thomas… porquê?”

“Por nada. Apenas ainda não to tinha perguntado.”

“Pois. Vá, agora tens que descansar. Amanhã vai ser um longo dia.”

“Vai?”

“Sim, vais ter a tua primeira consulta com o psicólogo!”

“Eu não quero nenhum psicólogo. Eu estou bem.”

“Precisas de desabafar com alguém. Precisas de alguém que te oiça sem te julgar e alguém que te possa ajudar a ultrapassar esta fase da tua vida.”

“Ok. Se tu o dizes…”

“Sim. Vais ver que te vais sentir muito melhor.”

“Posso-te pedir uma coisa?”

“Claro.”

“Podes dormir aqui? Tenho medo de ficar sozinha.”

“Sim. Posso.”

“Obrigada.”

Ele deitou-se ao meu lado e tapou-nos. Não sabia bem o que estava a fazer, mas sentia-me mais protegida assim.

#Novo dia#

“O que é isto?” Ouvi uma voz. Abri os olhos e vi uma figura alta e masculina, esfreguei os olhos e vi o Zayn seguido da minha mãe e de um homem de bata branca que devia ser outro enfermeiro.

“Não é nada do que tu estás a pensar.” Disse.

“Estás a dormir com um rapaz e não queres que pense que me estás a trair?”

“Nós não temos nada que eu me lembre, ou temos? Ah, espera, pois não. Tu és demasiado orgulhoso para isso.” Se calhar estava a ser cruel, mas ele fez-me passar muito.

“Sabes bem porque é que eu nunca quis admitir nada. Foi para teu bem, eu não te quero magoar.”

“Já magoas o suficiente.”

“Mas o que é que se passa aqui?” Perguntou o Thomas acordando.

“O que se passa é que estás despedido.” Disse o enfermeiro que tinha entrado com o Zayn e com a minha mãe. “Vem comigo, temos de falar.”

“Eu também vou sair. Tu e o Zayn precisam de conversar.” Disse a minha mãe. Assenti.

“Zayn, por favor, perdoa-me por isto.”

“Se calhar tens razão. Eu sou um orgulhoso. É melhor afastarmo-nos. Eu só te trago problemas e tu precisas de alguém normal ao teu lado e que te possa dar tudo aquilo que eu não posso.” Calei-o com um beijo. Sei que não o devia ter feito, mas o meu coração desta vez falou mais alto.

“Para!” Disse interrompendo aquele momento.

“Desculpa, foi mais forte do que eu. Eu não quero que tu te sintas assim. Tu és especial, é verdade, mas é isso que faz com que eu te ame. Eu nunca amei ninguém como te amo a ti. Por favor, fica comigo. O nosso amor consegue superar todas as adversidades.”

“Não sei. Podemos ser amigos.”

“Como queiras, mas não me deixes.”

“Está bem. Explica-me só o facto de um homem que não conheces de lado nenhum estar a dormir na mesma cama que tu.”

“Ele é um enfermeiro e ontem à noite eu estava um pouco assustada e pedi-lhe que ficasse comigo para eu me sentir mais protegida.”

“OK, mas promete-me que nunca mais volta a acontecer. Nem que eu tenha de matar alguém para me internarem aqui…”

“AHAHAHAH não cheguemos a tanto.”

One step closer➸Zayn Malik {slow updates}Onde histórias criam vida. Descubra agora