Gama

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Vou em direção a cozinha, abrindo espaço entre a multidão, forçando meus olhos a endireitarem as imagens que veem.

Por que essas pessoas estão girando tanto? É mais uma espécie de dança nova que eu não conheço? 

-Cara, você é louco. -Um garoto com dreads solta uma gargalhada na conzinha enquanto me aproximo.

-Assim que é legal!- Um outro com cabelo platinado diz erguendo duas garrafas de refrigerante.

-Ei, ei vocês! - Grito mais do que o necessário.- Do que vocês estão falando?!

-Quem é você? - Diz o platinado.

-Gaia!

-Nunca ouvi falar.

-Eu sei disso!

-Dá pra você parar de gritar tanto?- O de dreads ri.

-O que disse?! - Tento chegar mais perto deles, mas tropeço em meu próprio pé e caio no chão.

-Eita maluca! - O platinado exclama.

-Parece que alguém exagerou na bebida.- Diz o outro me ajudando a levantar.

-Eu não bebi álcool, estou dirigindo! Só bebi esse refrigerante aí.

Os garotos se entre olham, preocupados.

-Esse?- O de dreads ergue a garrafa azul que se encontra pela metade, e tenho certeza que isso foi por minha causa.

Afirmo com a cabeça, e ela parece que vai explodir.

Eles se entreolham novamente.

-Eu falei que isso ia dar errado!

-Gaia, querida, senta aqui nesse banquinho.-O platinado pega a minha mão e me guia até um banquinho de madeira.

-Bom, sabe esse "refrigerante" que você estava tomando?

-Sei!

-Eu meio que batizei ele.

Meus olhos ficam arregalados.

-Mas ele não tinha gosto de álcool!

-Não era pra ter.- Ele bufa. -Era pra ser uma pegadinha.

-Olha....me pegou direitinho.- Solto uma gargalhada e não consigo mais parar de rir.

-Ai meu deus, o que nós vamos fazer com ela?- O de dreads coloca a mão atrás da nuca.

-Será que deixamos ela aí e.... Tá, ta bom, não precisa me olhar assim! Vamos tentar dar um jeito.

-Isso está ficando meio entediante, eu vou embora. Foi um prazer, caras. - Levanto cambaleante do banco e vou em direção a sala.

-Gaia, Gaia pra onde você está indo?!

Mas eu já estava na multidão da sala, eles nunca iriam conseguir me achar.

A música parece mais animada, as pessoas  mais amigáveis, a festa está começando a ficar bem melhor. Decido ficar mais tempo.

Começo a dançar com garotas que nunca vi na minha vida, e percebo que realmente estou me divertindo como não faço há muito tempo. Sempre bebendo bastante água, tentando tirar o máximo de tontura de meu corpo.

E quando me sinto bem o suficiente para ir embora, quando já é tarde demais para alguém ficar na rua, me despeço dos meus novos amigos que não sei ao menos os nomes, e me espremo na multidão para alcançar a porta.

Porém, quando estou quase saindo, o observo à distância, conversando em uma grande roda de amigos. Todos eles riem quando ele fala, cada vez mais gente se aproxima para ouvir o que ele tem a dizer.

Então Eros se levanta e fica em pé no sofá.

-Aí galera! Estou me retirando! -Ele diz para o pessoal da festa, sua voz era potente e conseguia se sobressair ao som sem nem fazer tanto esforço.

Um coro de "ahhh" domina todo o cômodo.

Ele ri. - Vejo vocês amanhã, chicos!

Eros parece incrivelmente sóbrio, mesmo tendo bebido mais que toda a festa junta, de acordo com as latas em sua volta. Ele vem correndo na minha direção para alcançar a porta.

-Oi Eros! -Digo sorrindo, estamos muito próximos um do outro, espremidos pela multidão.

-Gaia! Que bom que você veio. - Diz sorrindo, mas seu olhar está na porta.

-Seu cheiro é legal... perfume, e álcool.

-Obrigado? -Ele ri. -Bom, agora, tenho que ir. Espero que tenha gostado da festa!

-Sabe..-Começo a me aproximar e a cochichar em seu rosto.- Eu pensei que seria uma merda, mas até que foi muito legal.

Ele estreita os olhos e finalmente olha diretamente para mim.

-Você bebeu, não é?

-O que? Puff, mas é claro que na...

Então um grupo de garotas passa por mim e se põem na frente de Eros.

-Olá meninas!- Ele sorri, mas consigo perceber que sua frustração aumenta. -A que devo a honra?

-Você já está indo? -Uma pergunta choramingando.

-Fique mais um pouco, porfavorzinho.

-Gostaria muito, muito mesmo, mas preciso ir.... Em compensação, meu amigo Thomas aqui vai ficar. - Ele pega o braço de um garoto que estava passando na hora. -Thomas, certo?

O garoto moreno afirma com a cabeça, pego de surpresa. Eros coloca o braço ao redor de seus ombros e aponta para as meninas.

-Thomas, essas são Ângela e Carol. Tenho certeza de que vocês se darão muito bem. - Ele sorri radiante e se afasta. -Não façam nada que eu não faria, hein. Vejo vocês qualquer dia! Tchauzinho, Gaia. - Ele diz ao passar por mim, dando uma piscadela.

A bebida ainda está no meu sangue, disso eu tenho certeza, mas não a ponto de me deixar tonta. Meus pensamentos correm por minha cabeça livremente e à mil. Depois de hoje e de tudo o que eu escutei sobre ele, não sei mais com quem eu estava falando. Quem era esse cara que todos amam? 

Além disso, por que ele estava tão apressado para ir embora? Mesmo que esteja tarde e que isso possa fazer compreensível sua atitude, ele não parecia preocupado. Parecia incrivelmente nervoso e ansioso. 

Quando saio da festa para a madrugada lá fora, entro em meu carro e piso fundo no acelerador. É isso mesmo que estou fazendo? É, é sim.

Estou seguindo o carro de Eros.

No princípio, era o CaosOnde histórias criam vida. Descubra agora