Seu jeep laranja corre a uma alta velocidade e eu começo a acompanhá-lo com certa distância.
Enquanto brinco de agente 007, penso em quantas leis eu estava descumprindo: beber e dirigir, perseguir alguém, e ah, chegar quase de manhã no apartamento tendo aula amanhã. Isso que eu chamo de decisões inteligentes.
Quer saber? Por que eu estou seguindo esse cara? Ele deve estar realmente preocupado com a aula amanhã e decidido ir embora. O que havia de tão errado nisso?
Estou pensando em dar meia volta e ir para casa, mas o jeep toma um rumo estranho. Sai da rua e entra numa viela sem asfalto.
Sem perceber, continuo seguindo-o, a curiosidade imensa demais para fazer agir qualquer bom senso.
As casas vão ficando cada vez mais detonadas à medida que adentra-se a ruela, os postes de luz falham e em alguns pontos é só escuridão. Meu coração está acelerado, para onde ele está indo? Por que eu ainda estou seguindo-o?
Quando o jeep começa a desacelerar à frente, paro uns bons metros de distância. Com a cabeça abaixada, espero-o sair de seu carro, e quando ele o faz, segue à direita até um beco.
Será que devo continuar com isso? A coisa está ficando perigosa demais, suspeita demais. Mas para o meu desgosto, isso só aumenta minha vontade de ver onde Eros foi.
Me aproximo vagarosamente, olhando para os lados, cuidando para não fazer barulho. Me encosto na parede caindo aos pedaços perto do beco.
- Você sabe o que fez, não sabe? -Um homem diz com a voz grave, assustadora. - Está me escutando?! Eu lhe fiz uma pergunta!
E quando o homem berra, percebo quem é o dono da voz.
Eros.
- Não me mate! Por favor, não me mate!
Meu coração dispara, não consigo mais sentir minhas pernas.
Preciso juntar todas as minhas forças, mas tento enxergar a cena dentro do beco.
-Piedade! -Um senhor ajoelhado no chão fecha as mãos em oração.
Eros está de costas para mim, seus músculos estão tensos.
-Piedade... Piedade?!- Então ele aponta uma arma para rosto do senhor, que chora desesperadamente. - E você, seu merdinha? Teve alguma piedade?!
Eros cospe no rosto do homem, que parece não mais resistir. Fraco. Vulnerável.
-Te vejo no inferno.
Então atira na cabeça de sua vítima.
