It's Not Over

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Newt

O sol estava alto no céu enquanto eu acompanhava minha mãe em uma visita ao supermercado de Grafton Underwood, o subúrbio britânico de classe média em que ela e seu marido, Mark, decidiram morar pouco antes de ter um filho. Chuck, um garotinho de dois anos de idade rechonchudo e de bochechas vermelhas, que estava no banco de trás, dormindo após cansar de tanto correr pelos corredores do mercado em busca de doces e confusão. Crianças, afinal.

Minha mãe mantinha a atenção na rua, enquanto eu me distraí observando as casas de diversos estilos que foram construídas por aqui. Casas em estilos contemporâneos, casas estilo georgiano, estilo vitoriano, enfim, uma variedade. O panorama mudou quando entramos no bairro em que mamãe mora, onde todas as casas possuem o mesmo estilo, grandes casas de tijolos vermelhos que parecem ter sido construídas no fim do século XIX.

- Então, gostando da sua estada aqui? – minha mãe perguntou, mantendo a atenção na rua.

- Sim. – respondi, honesto. Apesar do calor, que é compensado pelas idas a piscina e passeios até o parque que fica próximo de casa, com um lago povoado por cisnes, um grande playground para a diversão das crianças do bairro, lanchonete, um público, estufas e um bosque onde casais se embrenham para torridos beijos, boquetes e tudo o mais, apesar de ninguém na comunidade admitir que isso aconteça.

- Que bom, fico feliz que esteja gostando. Estava com saudade de você, evidentemente. Gostaria que estivesse aqui quando Chuck nasceu. – declarou ela, seus cabelos loiros voando com o vento que estava entrando pela janela do carro.

- Isso teria sido legal.

- Com certeza. Mas... – ela fez uma pausa – Aliás, teria sido incrível se você morasse comigo, mas seu pai jamais permitiria.

Refliti sobre isso por um instante. De fato, meu pai não permitiria.

- Quando nos separamos, eu lutei muito pela sua guarda, mas não tinha o mesmo poder que ele tinha a sua disposição. Ele não quis me dar a guarda. Foi uma punição.

Sim, meu doce pai realmente é do tipo que faz isso, pensei comigo mesmo, não falando nada em voz alta.

- Sabe, quando eu conheci o Mark, eu ainda era casada com Janson, não era nossa intenção nos envolvermos, mas somos seres humanos, eu estava em um casamento infeliz e a única coisa que me prendia a ele era você. – ela confessou, não esperava por isso. – Mark garantiu-me que conseguiríamos a sua guarda, estávamos muito confiantes disso, mas seu pai usou o adultério como argumento, e com todo o poderio que ele tinha, acabamos perdendo, mas eu lutei muito para ter você ao meu lado em minha nova vida. Porém, eu falhei.

As lágrimas em seus olhos desceram e molharam suas bochechas rosadas. Não me contive e quase chorei junto a ela, mas me mantive forte

- Mãe, por favor. Eu entendo, não precisa se justificar, eu nunca a culpei. – disse, tranquilizando-a, afinal ela não precisava se justificar para mim, de forma alguma.

Ela olhou para mim e me abraçou após estacionar o carro.

- Eu te amo, meu filho. – seu perfume floral invadiu minhas narinas e me senti no paraíso.

Depois, subimos e enquanto tomava banho, pensei no momento que tive com minha mãe. Algumas vezes durante minha adolescência eu pensei que ela havia me abandonado, me deixado, mas quando eu sentia isso, corria para ler as cartas que ela me mandava de Londres, que ficavam escondidas em meu quarto, e ao ler as palavras dela, eu percebia que estava enganado, mas ela nunca havia me revelado que conhecera Mark enquanto ainda estava casada com meu pai. Na realidade, isso não muda nada, ela não pode ser culpada por ter se apaixonado por outro homem, afinal, pelo que sei, meu pai não a amava mais e se tornara frio e distante dela. Talvez ela ainda o amasse, ou pensasse que amasse. De qualquer forma, conhecer Mark fez bem para ela.

Privileged || NewtmasOnde histórias criam vida. Descubra agora