Capítulo 1 - Um colégio cheio de loucos [Parte 1]

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Meu nome é Miguel. Tenho 16 anos, e estou indo pro 3° ano do ensino médio. E indo pra um colégio novo.

Não crio expectativas, sei que vou me decepcionar. A mesma bosta de sempre. Já mudei várias vezes. Mas dessa vez, fui transferido. Sofria bullying no meu colégio antigo. Aqueles escrotos não me entendiam, e nem tentavam. Queriam que eu fosse mais social. Ah, pelo amor de Deus, eu sou virginiano. Acham mesmo que EU vou correr atrás de amigos? Que venham até mim. Não nasci pra isso não. E também não nasci pra lidar com pessoas inúteis e imundas. Isso é o que eram no meu colégio. Lixo pra todo lado. Ah, eles eram uns lixos também. Mas... Aquele lugar em si... Credo, repugnante.

•••

Primeiro dia de aula. Minha mãe acorda, e desnorteada devido ao sono, me encontra sentado numa cadeira, tomando café na cozinha, às quatro da manhã.

Mãe: Miguel... O que está fazendo acordado a esta hora?

Miguel: Tomando café, não vê?

Mãe: Olha o respeito... - ela diz, passando por trás de mim.

Ela vai até o banheiro lavar o rosto, e volta, sentando na cadeira do outro lado da mesa.

Mãe: Ansioso pra hoje, filho?

Miguel: Hummmm... Pra encontrar mais pessoas panacas, mais um lugar imundo, com professores que sequer ligam pra educação de seus alunos, e banheiros cheios de vasos com fezes entupindo-os? Não, não estou ansioso.

Mãe: Hahahahahaha! Filho, você tem cada invenção... Esqueceu que está sendo transferido pra um colégio melhor? Onde você não corre risco de sofrer mais?

Miguel: O que garante que não vou mais sofrer bullying?

Minha mãe abaixa a cabeça. Parece não ter uma resposta pra minha pergunta.

Miguel: Eu vou limpar o banheiro, tá?

Mãe: Pra quê, filho? Eu vou arrumar a casa hoje!

Miguel: Vou limpar sim. Ou a senhora acha que vou usar um banheiro sujo? Vou aproveitar que são quatro horas de 17 minutos, e vou arrumar as coisas para me arrumar pra ir pro mani...

Minha mãe me encara.

Miguel: Colégio, mãe... Colégio!

Mãe: Agora sim...

As horas se passam. Eu me arrumo para ir pro colégio. Até que o uniforme de lá é bonitinho. Nada mais do que isso. Só bonitinho mesmo. Ponho a mochila nas costas, e falo com minha mãe antes de pegar o ônibus para ir.

Mãe: Filho... Você tá tão pertinho de chegar na faculdade...

Miguel: É... Graças ao bom Deus, poder lidar com pessoas decentes e que levam algo a sério.

Mãe: Tá, mas até lá... Aproveita, filho. Ser adulto não é bom. Aproveita as amizades, filho. Por favor. Viva.

Ficamos em silêncio por um tempo, até que o ônibus chegou, cortando aquele breu. Dei tchau para ela pela janela, e me encostei no banco. Droga, tava tão no mundo da lua, que me esqueci que outras bundas encostaram naquela cadeira.

•••

Saí do ônibus, e parei na frente do colégio. Olhei pro lugar, e achei “interessante”. Entrei, olhando para todos os arredores. Sinto que, de cara, me acharam arrogante, pois já entrei com minha mania de andar na ponta dos pés. Eu tenho essa mania desde quando era menor. Eu levantava da cama de madrugada pra roubar comida na geladeira, e ia de fininho, na ponta dos pés. Acho que todos ao meu redor, acharam que eu estava com nojo de andar no mesmo chão que eles. AFF, esse povo tem um monte de paranóia, afffff.

(Até parece que eu não tenho).

•••

A aula começou. Me sentei na cadeira da segunda fileira, logo na frente. Todos me olhavam. Odeio ser percebido. Que saco.
O primeiro professor entrou. E fez aquele discursinho de bom dia, bem vindos ao último ano do colegial, blá blá blá e tal. E aquela coisa escrota de todos os alunos falarem seus nomes. Agora, ele exigiu também que falássemos um ponto positivo e um negativo de nós mesmos. Chegou a minha vez de falar.

Professor: Olá! Qual seu nome?

Miguel: Meu nome é Miguel.

Professor: Bem vindo, Miguel! Fale um ponto positivo e um negativo sobre você!

Miguel: O senhor tá querendo que eu fale um ponto NEGATIVO sobre mim? Tá achando que eu tenho defeito, é? Faça-me o favor, eu ainda tenho o mínimo de auto-estima, ok?

Professor: Nossa, não precisa falar assim, Miguel... Perdão, então. - todos da sala começaram a achar o que eu disse engraçado. Então me virei, e disse:

Miguel: Ué. Vocês tão rindo de quê? Se vocês acham pontos negativos em vocês, é problema de vocês, ué. Aconselho lerem um livro de auto-ajuda. Pode aumentar o auto-estima, sabia?

Todos ficaram calados e se olhando.

Professor: Então... Fale um ponto positivo!

Miguel: Um só? Olha, professor, de positivo, é o que não falta. Quer que eu liste uns? Bom, eu sou organizado, pontual, sei fazer um café da manhã decente, sou higiênico... - estava listando minhas inúmeras qualidades, até que o professor me corta, aquele ridículo.

Professor: Que legal, Miguel! Bom saber mais sobre você, hein! Legal!

Então, me levanto da cadeira.

Miguel: Ei! Legal saber sobre mim? Por que é bom saber sobre mim? Vai passar minhas informações pra quem? Vai me sequestrar por acaso? Olha que eu te denuncio, hein. Toma cuidado comigo, eu tenho contatos (mentira, não tenho contato de ninguém, sequer tenho amigos).

Todos ficaram em silêncio. E eu, paralisei. O professor ficou meio preocupado. Na verdade, eu acho que ele ficou preocupado COMIGO, pois ele saiu imediatamente da sala, e veio com um copo d'água, e me entregou. Eu me sentei, e comecei a beber. Espero que ninguém tenha bebido água ali, a não ser eu.

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