Acordei bem cedinho naquele dia. Mesmo estando exausto do anterior. Na verdade, despertei com a voz da minha mãe, que falava bem baixinho. A luz da cozinha estava acesa. Ela parecia estar falando com alguém no telefone. Não cheguei até ela. Me escondi para tentar ouvir a conversa. Até que escuto ela dizer alguma coisa...
Mãe: Não ouse pensar chegar perto de nós... A vida do seu filho está indo muito bem. Se você der as caras, o mundo dele vai virar de cabeça pra baixo. E tem outra, não quero saber de você. Suma da nossa vida. - COMO ASSIM. É O MEU PAI?! NÃO TEM COMO SER ELE!!?!
Flashback on:
Mãe: Filhote? Vem cá, meu amor! - corro em direção a ela e dou um abraço apertado. Rimos juntos. - deita aqui no meu colo, filhote.
Miguel: Tá bom, mamãe! - me aconchego como um filhote urso nos braços da mãe.
Ela começa a me fazer cafuné.
Mãe: Filhote... Tenho que te contar uma coisa... - começo a estranhar.
Miguel: Que foi, mamãe?
Mãe: Eu juro que não queria te contar agora, meu bem. Você talvez não esteja pronto.
Miguel: Ah, não, mamãe! Começou, agora termina! Já tenho 7 anos! - simbolizo o número 7 com meus dedos, que eram pequenos ainda. - Tá vendo? 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7! Aí, ó!
Mãe: Hahahaha! É filho, eu sei que você tá crescendo.
Miguel: Então...
Mãe: Filho... Preciso te contar uma coisa sobre o seu papai.
Miguel: MEU PAPAI?! CADÊ ELE, MAMÃE?! EU QUERO VER O PAPAI!!
Mãe: Filho, calma...
Ela me colocou deitado em seu colo.
Mãe: Sabe, filhote... Seu papai estava fazendo uma coisa muito feia. Muito feia mesmo!
Miguel: O quê, mãe?
Mãe: Ele ia fugir de um lugar que ele tava. Não podia fazer isso.
Miguel: Que lugar, mamãe?
Mãe: Ele tava numa prisão, filho. Pra lá, vai quem fez coisa feia.
Miguel: Pensei que ficavam de castigo 🤔.
Mãe: Também, meu amor. Mas... Seu papai... - ela começou a soluçar um pouco. Parecia prender um choro.
Miguel: O quê aconteceu com o papai, mãe?
Mãe: Seu papai... Acabou indo pro céu, meu amor.
Me debrucei em seu ombro. Chorei bastante depois de descobrir que meu pai havia morrido. E eu sentia falta... Tanta falta...
Flashback off.
Meu pai era um ladrão. Ele era um criminoso. Morreu eletrocutado na fuga, em 2009. E eu sempre acreditei. Mas não era possível minha mãe estar falando com ele ali, naquele momento. Não pode ser. MEU PAI ESTÁ MORTO. Ah, quer saber. Eu podia esquecer que ouvi aquilo. Podia deixar de lado.
Não deixei.
Durante o dia todo, fiquei com aquilo na cabeça. Toni, que estava do meu lado, estranhou.
Toni: Miguel, por que está tão estranho desde que chegou?
Miguel: São alguns problemas... Nada demais.
Toni: Que tipo de problema besta é esse que te deixou estranho o dia todo então?
Fiquei em silêncio.
Na saída, fiquei com Toni na lanchonete da praça. Falei para Alexia ir sem nós. Ela concordou. Eu e Toni nos sentamos em uma das mesas, pedimos um suco e um hambúrguer (o qual Toni devorou em menos de um minuto). Peguei uns 47 guardanapos pra comer aquilo. E o pior: será que foi feito sem o uso de luvas?Toni: Ok, o lanche tava ótimo! Mas por que paramos aqui?
Miguel: Preciso desabafar.
Toni: Er... Ok! O que foi?
Miguel: Tá, vou ser direto. Meupaiestavapreso, morreuquandoiafugireagoradescobriqueelepodeestarvivo.
Toni engasgou com o suco, e deu uns ataques.
Toni: QUÊ?!
Miguel: Exatamente isso.
Toni: Não... Você falou como o Flash, não entendi NADA do que você disse.
Miguel: Ah... - nem vi que tinha atropelado as palavras todas. - Ok. A história é que meu pai tava preso, foi fugir da cadeia, morreu eletrocutado, e agora de manhã descobri que ele pode estar vivo.
Toni: 😦 Como é possível que ele esteja vivo? Pirou?
Miguel: Eu escutei minha mãe falando com ele.
Toni: Você ouviu ela citar algo que fez parecer que fosse seu pai?
Miguel: Sim. Ela disse pra ele: seu filho está indo muito bem. ÓBVIO QUE EU SOU O ÚNICO FILHO DELA. E ERA O MEU PAI SIM.
Toni: Tá... Mas, o que você quer fazer com relação a isso, uai?
Miguel: Não fala “uai” que é escroto.
Toni: Nossa. Que chatinho. FALO ASSIM MESMO, EU QUERO.
Miguel: Tá, vai ser feio pra você, não para mim. Agora, eu queria que você fosse lá em casa comigo.
Toni: Pra quê?
Miguel: Só vem.
Pegamos o ônibus, e chegamos na minha casa. A primeira ideia que eu tive foi: investigar se era realmente meu pai. Então, vi que minha mãe esqueceu o celular dela em casa. Ótimo. Só melhorou. Fui até o histórico de chamadas, e vi o último número para o qual ela teve contato. Era um desconhecido. Meu pai.
Toni: Miguel, você vai mesmo telefonar pra esse homem?! E se não for seu pai?!
Miguel: Eu só vou saber se é ele, se eu ligar. Então é o que farei.
Liguei. Chamou, chamou...
Ligação on:
?: Alô?
Meu Deus, atendeu. MEU DEUS.
Miguel: P-pai?
Silêncio temporário.
Pai: FILHO?
Ligação off.
Miguel: AAAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!!!!!!! - nunca se poderá explicar o berro que eu dei. Desliguei o telefone imediatamente, joguei o celular no chão, que se espatifou, e caí no chão, tremendo.
Toni: MIGUEL!!! O QUE É QUE FOI?!
Miguel: TONI, O MEU PAI TÁ VIVO, TONI!
CARAMBA.
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Virginiano
Humor+14 ••• Sim, eu sou tudo o que diz a astrologia. ••• Minha família tem um grande segredo escondido. As coisas estão bem estranhas. E eu vou descobrir o que é. Não dizem que sou o FBI em pessoa do zodíaco? E é claro que meus novos (e atrapalhados) a...