Privilege Of Cancer

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  Acordar sem saber se hoje vai ser seu ultimo dia de vida é um sentimento totalmente desgastante e estranho. Eu não tive muito o quê aproveitar da vida, já que com 13 anos eu estava praticamente morando em um hospital e trazendo dor a todos os meus entes queridos, principalmente minha mãe, que não me abandonou em nenhum só segundo até partir. Em 2009, mamãe estava voltando de viagem e disse que havia trago vários presentes para mim, ela também disse que estaria levando todos eles até o hospital para me entregar, porém a única coisa que conseguiu levar foi sua alma para o céu. Ela bateu com o carro na traseira de um caminhão, estava falando comigo no telefone e não viu quando o veículo estava se aproximando, e se eu me culpo pela morte dela? Todos os dias.

      Meu pai não era muito presente por causa do seu emprego, via ele umas duas vezes em cada semana, nem mesmo quando descobri que estava com câncer ele se tornou ao menos um pouco presente. Mas quando mamãe morreu, ele se tornou um pai presente e se largou um pouco do trabalho, claro, com um filho depressivo, se culpando pela morte da mãe e ainda por cima com câncer ele deveria se tornar um pai presente. Quando me recuperei graças ao poder do falanxifor, ele me levou para casa e me mimou muito, me deu tudo o que eu queria e tentou recuperar o tempo que ficou fora. Atitude completamente idiota. Eu estou morrendo, devagar graças ao poder do falanxifor, mas estou morrendo e o tempo que ele está tentando recuperar é inútil porque tudo isso, daqui a algum tempo não passará de apenas memórias ridículas de um pai que ao menos soube dar amor ao seu filho.

      Eu não tenho muitos amigos e contato com a vida lá fora, prefiro passar o pouco tempo do que me resta sentado no sofá assistindo os episódios de The Walking Dead que eu já vi mais de cem vezes. Meu único amigo é o Zayn, um garoto brilhante e adorável, é badboy mas tem um coração de ouro, somos amigos desde que me conheço por gente. Ultimamente Zayn anda meio afastado por causa que ele está namorando e eu não o culpo por está meio longe de mim, ele tem uma vida saudável e um longo caminho pela frente, não pode ficar se prendendo ao amiguinho com câncer cujo está depressivo e esperando a morte o encontrar. E que ela irá encontrar logo logo.

    Zayn está vindo aí hoje para me apresentar ao seu namorado, parece que um amigo de seu namorado está vindo também. Aposto que foi meu pai que ligou para Zayn trazer gente para eu me enturmar, como se eu quisesse amigos, eu estou bem sozinho e além do mais logo estarei morrendo e com isso magoando pessoas, não quero que eu seja o motivo por lágrimas de ninguém. Não quero magoar ninguém quando eu partir, meu pai , Zayn e Niall – meu primo – já estão sofrendo por mim e olha que eu nem morri, imagina se mais uma pessoa entra na minha vida, só irei trazer dor e sofrimento – mais do que eu já trago –.

   Quando eu tinha 13 anos fui diagnosticado com câncer de tireoide em estágio avançadoe meu quadro também inclui metástase nos pulmões. Eu passei por uma cirurgia, também fiz radioterapia e então quimioterapia, mas não conseguiu resultados satisfatórios. Aos 14 anos, devido a um remédio experimental, meus tumores nos pulmões diminuíram e desde então eu vivo com doses diárias desse medicamento, o falanxifor, tanques de oxigênio, uma espécie de carrinho com rodas e cânulas no nariz. Viva o falanxifor!

    Isso mesmo, eu tenho o mesmo tipo de câncer que aquela menininha de A Culpa é das Estrelas, descobri o câncer no mesmo tempo que ela e hoje eu tenho a mesma idade que ela, nosso tratamento foi do mesmo jeito e no mesmo tempo. A única coisa que muda de fato, é que eu existo e ela não passa de um personagem de um livro. Hazel Grace tem sorte de viver em um livro, tudo aquilo que ela passou teve fim no momento que o livro chegou ao final e eu? Isso tudo só irá passar quando eu morrer. Não é como um livro que termina com a possibilidade dela ainda estar viva, ela vai continuar viva mesmo quando o livro tenha terminado, porque ela não tem um fim, a morte não existe de verdade para ela. Mas eu não, a morte existe para mim, ela está me observando a cada segundo que passa e está esperando o momento certo para me levar. Acho isso muito irônico.

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